PUBLICIDADE

Galeria Olido faz mostra em homenagem a Satyajit Ray

Por AE
Atualização:

Satyajit Ray morreu em abril de 1992, alguns dias depois de receber o Oscar honorário que a Academia de Hollywood lhe atribuiu, por sua extraordinária carreira. Na verdade, Ray, preso a um leito de hospital, na Índia, não pudera receber o prêmio pessoalmente. Mas ele ainda foi fotografado com seu Oscar no hospital. O mais neorrealista dos cineastas indianos obteve o reconhecimento do cinemão. Quem pensa em cinema indiano pensa em Bollywood. Ninguém menos ''bollywoodiano'' do que Ray.São 20 anos sem o olhar arguto de Satyajit Ray. A Galeria Olido lembra a data com uma retrospectiva. Não é todo Ray, mas, além de filmes importantes do diretor, o evento incorpora as obras fundadoras de sua estética, mais um documentário sobre ele. Satyajit Ray nasceu em Calcutá, em 1921, numa família abastada. Os Ray de Calcutá pertenciam à elite intelectual da Índia - seu avô foi amigo do poeta Rabindranath Tagore, a quem Satyajit dedicou um belo documentário. O problema é que a família perdeu tudo - e o jovem herdeiro foi obrigado a trabalhar, para cavar o próprio sustento. Satyajit Ray foi desenhista e publicitário. Apaixonou-se pelo cinema e fundou uma pequena empresa produtora.Em 1950, teve um encontro decisivo - com Jean Renoir, que fora filmar na Índia "O Rio Sagrado". Ray teve o privilégio de se integrar à equipe e de ver filmar o patrão do cinema francês. Isso acirrou seu desejo de se tornar diretor. Ocorre que as condições eram precárias e Ray incorporou a urgência do neorrealismo italiano. O cinéfilo sabe - o movimento que floresceu na Itália derrotada na 2.ª Guerra incorporou a própria carência material. Ray tornou-se um neorrealista na Índia, mas assimilou outra lição, a da simplicidade do cinema de John Ford, a quem amava.Tudo isso é história, que o ciclo da Galeria Olido lembra ao exibir obras que foram importantes na formação do jovem Satyajit - "O Rio Sagrado", claro, e "Ladrões de Bicicletas", de Vittorio De Sica, embora também pudessem ser "Roma, Cidade Aberta" ou "Paisà", de Roberto Rossellini. E há o documentário "O Pai do Cinema Indiano", de Shyam Benegal, título que ele carregou pela vida, por mais que seu cinema exigente e autoral o distanciasse das cantorias e experimentações de gênero que caracterizam Bollywood.O primeiro longa de Ray chamou-se "Pather Panchali"(Canção da Estrada), e surgiu em 1955. Veio na sequência "O Invencível" (Aparajito), no ano seguinte, mas só em 1959, ele concluiu "Apur Sansar" (O Mundo de Apu). Os três filmes, mesmo que não consecutivos, compõem uma trilogia. Ray se baseou num clássico da literatura bengali, mas ele próprio dizia que colocou muito de si na história de Apu, o protagonista dos três filmes. "Canção da Estrada" recupera experiências familiares. O pai é sonhador, a mãe dá duro para sustentar os filhos e o relato é visto pelos olhos do menino. Em "O Invencível", Apu, adolescente, vive em Benares, mas seu sonho é cursar a universidade em Calcutá, para fugir à pobreza do seu meio familiar. E em "O Mundo de Apu", ele se casa e persegue o sonho de virar escritor - como Ray virou cineasta.A trilogia de Apu deu projeção internacional a Satyajit Ray e tornou o cinema indiano conhecido nos maiores festivais - numa época em que o Ocidente também conhecia o Japão e seus grandes autores. O ciclo apresenta os três filmes, mais "Os Jogadores", de 1977, que ostenta a fama de ser a obra-prima do autor. O título completo é "Os Jogadores do Fracasso" e o filme cria uma metáfora política sobre o processo de independência da Índia do colonialismo inglês. Os jogadores representam o imobilismo da classe dirigente. Eles prosseguem com suas intermináveis partidas sem perceber que seu mundo está ruindo. O cinema de Ray é um espelho que reflete a história do país. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.