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Cultura, comportamento, noite e gente em São Paulo

‘Papa Francisco é uma voz num mundo com poucos estadistas’, diz Gabriel Chalita

Escritor e professor lança, no dia 10, livro da peça que tem como enredo uma conversa entre São Francisco de Assis e o Papa Francisco

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Foto do author Marcela Paes
Por Marcela Paes
Atualização:

“Católico, assumidamente católico”. É assim que Gabriel Chalita se define ao falar de sua religião. Praticante assíduo do catolicismo – do tipo que vai à missa regularmente – o professor, escritor e advogado lança no dia 10 o livro Entre Franciscos: O Santo e o Papa (Editora Almedina), baseado na peça de mesmo nome que estreia em SP, depois de temporada no Rio. A ideia para o trabalho, segundo Chalita, surgiu, em partes, da notícia de que o Papa Francisco havia inaugurado uma lavanderia para moradores de rua no Vaticano.

Gabriel Chalita Foto: paulo vitale

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“O enredo da peça é esse, o Papa Francisco, cansado do barulho da guerra, dos barulhos do mundo, entra pra descansar na lavanderia e vê um homem em situação de rua, e essa pessoa é São Francisco”, diz à repórter Marcela Paes. Leia a entrevista abaixo.

O que te inspirou a escrever essa peça?

Nessa peça, especificamente, foi a profunda admiração pela vida e pela história de São Francisco. Também sinto que o Papa Francisco é uma voz num mundo com poucos estadistas. O mundo já teve grandes estadistas que lutaram muito pela paz, hoje, às vezes, ele fica quase que uma voz sozinha mostrando os horrores do mundo. Também teve, além da admiração por eles, uma situação específica que me inspirou.

Qual?

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Eu estava com um amigo caminhando e a gente viu um senhor cuidando de uma pessoa na rua. Aí eu falei ‘meu Deus, são todos invisíveis, olha esse senhor’. Aí esse amigo meu disse que eu deveria escrever uma peça sobre São Francisco e o Papa Francisco. Aí eu li uma reportagem de que o Papa tinha inaugurado uma lavanderia no Vaticano para população em situação de rua e achei isso incrível. O enredo da peça é esse, o Papa Francisco, cansado do barulho da guerra, dos barulhos do mundo, entra pra descansar na lavanderia e vê um homem em situação de rua e essa pessoa é São Francisco. Claro, o Papa não sabe disso.

O que você acha do papa Francisco?

O Francisco é um papa do aconchego. Se você pegar a imagem de outros papas com mulheres, por exemplo, que se aproximavam do Papa João Paulo II, do Paulo VI, elas iam com véu, era uma atitude de reverência. O Papa Francisco é latino, é carinhoso, ele beija, brinca, abraça as mulheres. Eu estive com ele três vezes e uma vez em que estávamos conversando sobre política, ele me perguntou se eu não queria mais exercer. Eu disse que minha vida agora era de educador. Aí ele falou assim, ‘mas a política é uma arte da caridade, é uma arte importante’. Eu disse que tinha muitos problemas na política. Ele respondeu ‘e eu? Olha os problemas que eu tenho. Reze por mim’. Ele é um papa que brinca.

Mas é isso mesmo? Nada mais de política para você?

Saí faz tempo. Tive muitos convites para atuar, em governos de estados diferentes, em prefeituras . Só que hoje me sinto tão realizado no que eu faço. As peças de teatro, os livros, as palestras, as aulas. Não digo que nunca mais vou voltar, mas não é algo que me motiva hoje.

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A peça toca na questão da população de rua. Como enxerga essa problema em São Paulo?

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Não é um problema novo. Para mim, duas questões fundamentais precisam ser enfrentadas. A primeira é a da saúde mental. Costumo falar com quem vive nas ruas perto de onde eu moro. Uma vez arrumei uma vaga num albergue para um deles. Só que ele não aceitou, acha que vai pegar fogo, que o teto vai cair nele. No passado, quando eu dirigia inclusive a Comissão de Direitos Humanos na Câmera, ajudei a criar um conceito de que alguns albergues teriam que ter espaço pra cachorro. Também começamos a falar sobre o albergue misto, que era um experiência que não existia.

Qual a outra questão?

É o problema social, que é mais fácil de resolver. Outro dia reparei que uma família tinha acabado de se instalar na rua. Era uma família do Uruguai. Pai, mãe e três filhos. Vieram pra trabalhar num lugar e não acharam a pessoa. Se conseguir colocar num hotel social, num emprego, eles não vão ficar na rua. Quanto mais tempo a pessoa fica na rua, mais difícil é ela sair da rua.

Escrever sobre religião exige mais cuidado?

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Sou um católico assumidamente católico. As pessoas dizem ‘eu sou católico, mas não participo’. Eu participo. Já fui secretário de estado, secretário de município de Educação e nunca tive problema com nenhuma religião. Eu, quando estava na Febem, convenci os evangélicos a irem lá, os espíritas foram, a comunidade judaica… Eu consegui construir um projeto de reflexão de humanidade que independe de uma questão mais confessional. Não importa o que eu acredito, o que importa é o respeito que eu tenho com o conceito da religião, que é um conceito de religar, de religação.

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