Vencedor do Prêmio Multicultural 1998 Estadão Cultura, Álvaro Apocalypse, diretor do grupo de teatro de bonecos mineiro Giramundo, acaba de abrir, em Belo Horizonte, o Museu Giramundo, que abrigará 350 bonecos/personagens do acervo acumulado em 30 anos de atividade do grupo. Na noite de inauguração, na semana passada, o diretor autografou o livro Dramaturgia para a Nova Forma da Marionete. E, a partir do próximo ano, vai funcionar no Museu a Escola das Artes do Marionete. Os paulistanos já tiveram a oportunidade de ver alguns dos espetáculos desse grupo, entre eles o lúdico Cobra Norato, criado a partir do poema homônimo de Raul Bopp, o surreal Relações Naturais, baseado no universo do gaúcho Qorpo Santo, e ainda o divertido Diário de Um Louco, inspirado em texto homônimo do escritor russo Gogol. A mais recente criação do Giramundo, Orixás, ainda inédita em São Paulo, conta a história da criação do mundo segundo a mitologia africana. Uma das características da companhia é jamais "canibalizar" marionetes. Ou seja, a cada novo espetáculo, novos bonecos são construídos e, os anteriores, preservados. Daí a possibilidade de exibir, no museu, um acervo significativo. São 350 marionetes, de um total de 700 que o grupo criou para as 27 montagens de seu currículo, repleto de premiações nacionais e internacionais. A exposição procura fugir da forma estática. "Chamamos o formato de exposição cenográfica, já que as marionetes são exibidas em grupos, compondo cenas de espetáculos", diz Álvaro. Para cada composição cênica há cartazes com informações suscintas sobre o autor, a peça, data da criação e, ainda, a identificação dos personagens. O trabalho de recuperação e manutenção dos bonecos é constante na companhia, até porque muitos desses espetáculos continuam em repertório. Os atores do Giramundo serão também os professores da escola que vai começar a funcionar no início do próximo ano. "Não manteremos um curso regular, mas uma série de cursos diferenciados que, juntos, propiciarão ampla formação", explica Álvaro. Criação de marionetes, técnicas de manipulação e dramaturgia para bonecos serão alguns desses cursos. No Giramundo, há uma equipe responsável pela criação dos bonecos e outra pela manipulação, ainda que alguns integrantes façam as duas coisas. Mas mesmo os que só atuam, passam pela oficina de criação. "Um ator/marionetista deve conhecer a marionete por dentro, o material de que é feito. Entrar em contato com seu instrumento de trabalho, antes de ser revestido, dá ao ator mais condições de tirar proveito da manipulação." Antes mesmo de a escola ser aberta, quem quiser iniciar o conhecimento relativo à dramaturgia pode adquirir desde já o livro assinado pelo diretor, edição própria, escrito com o apoio da Bolsa Vitae. "Como ressalto no título, trata-se de como criar um texto para a nova forma da marionete." E ressalta que esse gênero de arte passou por transformações ao longo do tempo. "A marionete incorporou conquistas que vieram das artes plásticas. Atualmente, a forma das marionetes varia do realismo - desde a forma humana em dimensões naturais - ao abstrato. Além disso, a aquisição de novos equipamentos permite experiências como a criação de formas apenas com a iluminação. Nós, do Giramundo, utilizamos conceitos do cubismo, por exemplo, entre outras escolas." Em seu livro, Álvaro aborda a relação entre a dramaturgia e a forma da marionete. "No Diário de Um Louco, os bonecos tinham formas cubistas e abstratas. A música era multifacetada, cheia de improvisos, acompanhados pelos atores", exemplifica. "Já em um espetáculo como Tiradentes, as marionetes tinham fisionomia e porte humanos." Segundo ele, a dramaturgia também toma formas distintas nesses dois espetáculos. "Forma e texto têm de estar harmônicos. Claro, falo a partir de nossa experiência. Não é um manual de normas a serem seguidas. A arte não admite dogmatismo." Candidatos aos cursos do Giramundo ou interessados na aquisição do livro de Álvaro Apocalypse podem acessar o site www.grupogiramundo.com.br ou entrar em contato pelo e-mail giramundo@metalink.com.br.