PUBLICIDADE

Grupo Galpão comemora 30 anos na estrada

Os festejos do aniversário chegam a São Paulo em agenda que inclui quatro espetáculos

Por MARIA EUGÊNIA DE MENEZES - O Estado de S.Paulo
Atualização:

Maturidade não tem a ver com quietude, segurança ou aversão ao risco. Não no vocabulário do Galpão. O grupo mineiro chega à cidade para comemorar seus 30 anos. E traz na bagagem espetáculos que denotam um ímpeto, quase juvenil, por mudança. Por descobertas. Há duas montagens feitas para o palco e outras duas para a rua. Parte voltada à linguagem popular, expansiva, quase farsesca. Parte devotada ao realismo de Chekhov. Romeu e Julieta, mítica criação da companhia, abre hoje a programação comemorativa. Na sequência, serão apresentados Till, A Saga de Um Herói Torto, Tio Vânia (Aos Que Vierem Depois de Nós) e Eclipse. "Estamos sempre em busca daquilo que a gente considera deficiente no nosso teatro ou que a gente não domine tanto", diz o ator Eduardo Moreira. "A nossa própria forma de organização, um grupo de atores que convida diferentes diretores, é uma tentativa de fazer desse percurso um experimento." Na lista de encenadores que cruzaram o caminho do Galpão nas últimas três décadas, Gabriel Villela certamente figura entre os mais frequentes. "É um grupo que trabalha com contrastes, com uma radicalidade de linguagem", aponta. Além de Romeu e Julieta (1992), Villela esteve à frente de A Rua da Amargura (1994) e agora retoma a parceria com Os Gigantes da Montanha, peça de Luigi Pirandello que ainda não tem data de estreia marcada. Na recente encenação de Tio Vânia, Yara de Novaes conduziu o grupo pelo inexplorado território dos dramas de dimensão psicológica. A intenção era aprofundar-se no trabalho do ator, mergulhar de maneira mais vertical nas relações com as personagens. Dessa maneira, a trama de Chekhov - a história de um amargurado homem de meia-idade - tornou-se quase um espelho para que o grupo mirasse suas próprias inquietações. "A peça fala dessa relação dos homens com o tempo, esse momento de rever o que fizeram. Agora, é como se o próprio Galpão fizesse um balanço", diz a diretora. "O que nos move é a vontade de fazer um Chekhov que soe como algo próximo, particular. É fácil entender a carga de pessoalidade que impregna a montagem se observado o momento que vive hoje o Galpão." Foi ainda a vontade de se reinventar que levou a trupe ao encontro de encenadores com métodos praticamente antagônicos de trabalho, caso do russo Jurij Alschitz. "O Galpão me procurou em busca de um novo jeito de atuar. Foi uma briga entre dois teatros muito diferentes", observa o diretor. "Queria fazer algo que o aparato físico deles não estivesse preparado para suportar. Deixá-los nus, inseguros." Do encontro surgiu Eclipse, mais recente produção do coletivo mineiro. Ainda inédita em São Paulo, a peça recusa o psicologismo comumente associado a Chekhov e observa o autor pelo prisma do construtivismo russo. Tanto apreço pela novidade não significa, porém, um divórcio com o público. "Tentamos sempre conciliar as duas coisas: A pesquisa e também a comunicação com a plateia", argumenta Moreira. Na próxima estreia, o grupo promete se manter à procura da própria essência. "A obra de Pirandello, sobre um grupo de artistas, nos ajuda a fazer uma pergunta sempre recorrente: 'Qual é a nossa identidade?'", questiona o ator. A torcida é para que o Galpão ainda leve muitos anos para encontrar uma resposta.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.