PUBLICIDADE

EXCLUSIVO PARA ASSINANTES
Foto do(a) coluna

Coluna quinzenal do escritor Ignácio de Loyola Brandão com crônicas e memórias

Opinião|Palestra de placa

Nenhum voto meu foi dado com tanta certeza e alegria como o que acabei de dar a Marina Colasanti, que acabou de ganhar o Prêmio Machado de Assis

Foto do author Ignácio de Loyola Brandão
Atualização:

Não sei o tanto de votos que dei na vida. De concursos literários a miss, melhor filme, fantasia de carnaval, receita culinária, canção e jogador em campo, etc. Mas nenhum voto meu foi dado com tanta certeza e alegria como o que acabei de dar a Marina Colasanti, que acabou de ganhar o Prêmio Machado de Assis 2023, da Academia Brasileira de Letras.

A escritora Marina Colasanti aos 80 anos em foto tirada na sua casa, no Rio de Janeiro Foto: Fabio Motta/Estadão

PUBLICIDADE

Desci das estantes todos os livros que tenho dela. De Esse Amor de Todos Nós a A Morada do Ser. De Minha Guerra Alheia a Contos de Amor Rasgados. De Zooilógico, pincei esse trecho: “Nasceu fauno ao contrário. Da cintura para cima cabra, da cintura para baixo homem. Estavam perdidos os melhores atributos”. De Hora de Alimentar Serpentes – e como não invejar um título desses? – a Do Seu Coração Partido. De Como Uma Carta de Amor a O Nome da Manhã. E de todo o restante, chegando a Mais de 100 Histórias Maravilhosas, aquele que leio e releio desde 2014.

Marina, escritora e mulher que amo desmesuradamente. Companheira de não sei quantas viagens por este Brasil e fora, junto a Affonso Romano de Sant’Anna e com Marcia, minha mulher. De Israel a Frankfurt, Paris ou Lisboa. Em auditórios, tavernas, tascas.

E a tarde que passei na casa dela, ouvindo histórias de sua vida, para um perfil da revista Vogue, 20 anos atrás? Lembrando que Marina e sua amiga Ira Etz foram as primeiras do Rio de Janeiro a costurar seus biquínis e usá-los em Ipanema. A jornalista mais linda e brilhante de sua época. A Marina que nasceu na Etiópia, e cresceu no Parque Lage, no Rio de Janeiro.

Devo a Marina um momento fundamental. Escrevi e reescrevi meu livro Os Olhos Cegos dos Cavalos Loucos ao longo de 60 anos. E a história não fechava. Certa vez, a falar, percorri com Marina cidades do interior do Paraná, a convite do Sesc. Em Guarapuava, ao encerrar, nos pediram que cada um contasse uma história. Marina se levantou, gelei. Ela hipnotizava plateias. Foi quando, depois de mais de 20 versões frustradas, ao longo de décadas, dentro de mim senti a história de meu avô se costurando. Contei. Ao terminar, quatro mulheres choravam na primeira fila. A história, real, tinha se fechado. Passei a noite no hotel a colocá-la em um caderno. Prêmio Jabuti. Quanto a Marina, quero acrescentar que na cidade de Marechal Deodoro, em Alagoas (o nome primitivo era Vila Santa Madalena da Lagoa do Sul), todos os anos, havia a Flimar, deliciosa festa literária. Certa manhã, depois de essa admirável Colasanti terminar sua fala sobre os livros que a encantaram, Carlito Lima, que promovia tudo, declarou: “Já criaram o gol de placa no Brasil. Nesta manhã, a Flimar institui a Palestra de Placa”. E a placa de Marina está na fachada do auditório da cidade histórica.

Publicidade

* É JORNALISTA E ESCRITOR, AUTOR DE ‘ZERO’ E ‘NÃO VERÁS PAÍS NENHUM’

Opinião por Ignácio de Loyola Brandão

É escritor, membro da Academia Brasileira de Letras e autor de 'Zero' e 'Não Verás País Nenhum'

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.