Nascer não é antes, não é ficar a ver navios,Nascer é depois, é nadar após se afundar e se afogar.Braçadas e mais braçadas até perder o fôlego(Sargaços ofegam o peito opresso),Bombear gás do tanque de reserva localizado em algum pontoDo corpoE não parar de nadar,Nem que se morra na praia antes de alcançar o mar.
Plasmarbancos de areias, recifes de corais, ilhas, arquipélagos, baías,espumas e salitres,ondas e maresias.
Mar de sargaços
Nadar, nadar, nadar e inventar a viagem, o mapa,o astrolábio de sete faces,O zumbido dos ventos em redemoinho, o leme, as velas, as cordas,Os ferros, o júbilo e o luto.Encasquetar-se na captura da canção que inventa OrfeuOu daquela outra que conduz ao mar absoluto.
Só e outros poemasSoledadesSolitude, récif, étoile.
Através dos anéis escancarados pelos velhos horizontesParir,desvelar,desocultar novos horizontes. Mamar o leite primevo, o colostro, da Via Láctea.E, mormente,remar contra a maré numa canoa furadaSomentepara martelar um padrão estóico-tresloucadoDe desaceitar o naufrágio.Criar é se desacostumar do fado fixoE ser arbitrário.
Sendo os remos imateriais
(Remos figurados no ar peloscírculos das palavras.)MúsicaDe Volta Para o FuturoEm matéria de previsão eu deixo furoFuturo, eu juro, é dimensãoNão consigo verNem sequer reverIsto porque, no lusco-fuscoOra pitomba,Minha bola de cristal fica foscaMando bola no escuro Acerto o tiro na boca da moscaOuras tantas giro a Terra toda às tontasDobro o cabo das tormentas, rebatizo Boa Esperança E vou pegando pelo rabo a lebre de vidro,Do acaso por acasoEm matéria de previsão só deixo furoFuturo, eu juro, é dimensãoVejo bem no claroE tão mal no escuroMinha vida afinal navega tal e qualCaravela de CabralUm marinheiro mete a cara na janela e gritaSinal de terra, terra à vistaTanto faz, Brasil ou Índia Ocidental, Oriental Ó sina, começa sempre a dança Recomeça, sempre recomeça a dança da sinucaSempre recomeça a dança a mesma dança da sinuca vitalAssaltaram a GramáticaAssaltaram a gramáticaAssassinaram a lógicameteram poesiana bagunça do dia a diaSequestraram a fonéticaViolentaram a métricaMeteram poesiaonde devia e não deviaLá vem o poetacom sua coroa de louro,Agrião, pimentão, boldoO poeta é a pimenta do planeta(Malagueta!)