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Leia poemas e letras de música de Waly Salomão

O poeta Waly Salomão (1943-2003) é homenageado com Poesia Total, que reúne seus livros e letras de música. Confira dois poemas e duas músicas.PoemasBarrocoMundo e ego: palcos geminados.Quero crer que creioE finjo que creioQue o mundo e egoAmbosSão teatrosDísparesE antípodas.Absolutos que se refratam/difratam...Espelhos estilhaçados que não se colam.Entanto sãoEcos de ecos que se interpenetramPartículas de ecos ocos, partículas, partículas de ecos plenos que se conectamAí cosmos são cagados, cuspidos e escarrados pelo opíparo caosE o uso do adjetivo está corretoPois que o caos é um banquete.Fantasmas de óperas.Ratos de coxias.Atos truncados.Há uma lasca de palcoem cada gota de sangueem cada punhado de terrade todo e qualquer poema.Sargaços(para Maria Bethânia)Criar é não se adequar à vida como ela é,Nem tampouco se grudar às lembranças pretéritasQue não sobrenadam mais.Nem ancorar à beira-cais estagnado,Nem malhar a batida bigorna à beira-mágoa.

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Por Redação
Atualização:

Nascer não é antes, não é ficar a ver navios,Nascer é depois, é nadar após se afundar e se afogar.Braçadas e mais braçadas até perder o fôlego(Sargaços ofegam o peito opresso),Bombear gás do tanque de reserva localizado em algum pontoDo corpoE não parar de nadar,Nem que se morra na praia antes de alcançar o mar.

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Plasmarbancos de areias, recifes de corais, ilhas, arquipélagos, baías,espumas e salitres,ondas e maresias.

Mar de sargaços

Nadar, nadar, nadar e inventar a viagem, o mapa,o astrolábio de sete faces,O zumbido dos ventos em redemoinho, o leme, as velas, as cordas,Os ferros, o júbilo e o luto.Encasquetar-se na captura da canção que inventa OrfeuOu daquela outra que conduz ao mar absoluto.

Só e outros poemasSoledadesSolitude, récif, étoile.

Através dos anéis escancarados pelos velhos horizontesParir,desvelar,desocultar novos horizontes. Mamar o leite primevo, o colostro, da Via Láctea.E, mormente,remar contra a maré numa canoa furadaSomentepara martelar um padrão estóico-tresloucadoDe desaceitar o naufrágio.Criar é se desacostumar do fado fixoE ser arbitrário.

Sendo os remos imateriais

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(Remos figurados no ar peloscírculos das palavras.)MúsicaDe Volta Para o FuturoEm matéria de previsão eu deixo furoFuturo, eu juro, é dimensãoNão consigo verNem sequer reverIsto porque, no lusco-fuscoOra pitomba,Minha bola de cristal fica foscaMando bola no escuro Acerto o tiro na boca da moscaOuras tantas giro a Terra toda às tontasDobro o cabo das tormentas, rebatizo Boa Esperança E vou pegando pelo rabo a lebre de vidro,Do acaso por acasoEm matéria de previsão só deixo furoFuturo, eu juro, é dimensãoVejo bem no claroE tão mal no escuroMinha vida afinal navega tal e qualCaravela de CabralUm marinheiro mete a cara na janela e gritaSinal de terra, terra à vistaTanto faz, Brasil ou Índia Ocidental, Oriental Ó sina, começa sempre a dança Recomeça, sempre recomeça a dança da sinucaSempre recomeça a dança a mesma dança da sinuca vitalAssaltaram a GramáticaAssaltaram a gramáticaAssassinaram a lógicameteram poesiana bagunça do dia a diaSequestraram a fonéticaViolentaram a métricaMeteram poesiaonde devia e não deviaLá vem o poetacom sua coroa de louro,Agrião, pimentão, boldoO poeta é a pimenta do planeta(Malagueta!)

 

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