Brasil volta mais enxuto à Feira do Livro de Frankfurt

Esta é a maior e mais importante feira do mercado editorial

PUBLICIDADE

Foto do author Maria Fernanda Rodrigues
Por Maria Fernanda Rodrigues
Atualização:

FRANKFURT - Passada a euforia de 2013, quando o Brasil foi o convidado de honra da Feira do Livro de Frankfurt e eram vistos por todos os corredores cartazes convidando o público a visitar o pavilhão do homenageado - incluindo o de uma basset fantasiada para o carnaval -, o País chega mais discreto à edição deste ano, quando as atenções estão voltadas à Finlândia. Entre quarta e domingo, editores, agentes literários e profissionais da área de direitos autorais negociarão e decidirão o que será publicado nos mais diversos países e nas mais distintas áreas nos próximos anos. Esta é a maior e mais importante feira do mercado editorial internacional, e apenas no fim de semana ela é aberta ao público. Essa discrição é vista nos números. No ano passado, 181 editoras participaram do estande coletivo, organizado pelo Projeto Brazilian Publishers - parceria entre Câmara Brasileira do Livro e Apex-Brasil. Este ano, apenas 41 estarão lá. A internacionalização do negócio do livro requer um trabalho constante e a ausência dessas editoras pode ser vista como um passo para trás - ou, para o lado. Comparando os números, é como se o País voltasse a ter o mesmo peso e presença das edições anteriores à homenagem, mas Dolores Manzano, gerente executiva do Brazilian Publishers, vê essa queda como um movimento natural, e não como desistência. “Entendo como um momento de reflexão e avaliação, pois o  investimento para entrar no mercado internacional é alto”, diz.

Feira começa nesta quarta-feira Foto: Maria Fernanda Rodrigues/Estadão

Entre as editoras que não vieram está a Pallas, entusiasta do projeto desde sua criação há seis anos. “A feira é muito importante para estabelecer contatos. No entanto, neste ano apertado financeiramente, tivemos que optar pela Feira de Bolonha, a que realmente gera negócios. Mas devemos voltar em 2015”, diz Mariana Warth. Mas há gente nova chegando, como a IMEPH e Rovelle. Jürgen Boos, presidente da Feira de Frankfurt, diz entender o esforço que é, para todos os envolvidos, ser o país convidado e que raramente é possível repetir a participação do ano da homenagem. No entanto, diz que uma das principais expectativa dos organizadores é que se consiga ter uma participação sustentável no mercado internacional. “Nosso objetivo é apresentar o país convidado aos principais representantes da indústria do livro e ver as oportunidades transformadas em receita. Além disso, adoraríamos ter um número crescente de editores vindo a cada ano e é crucial que os escritores brasileiros também venham para interagir com o público criado no ano passado”, diz Boos. Em 2013, vieram 70 autores. Este ano, o Ministério convidou cinco - Eduardo Spohr, Bernardo Kucinski, Ana Martins Marques, Edney Silvestre e Luiz Silva (que não veio por problemas de saúde) -, a Academia Paulista de Letras, dois - Gabriel Chalita e Walcyr Carrasco - e a própria feira convidou Paulo Coelho, que participará de uma concorrida conversa com Jüergen Boos nesta quarta-feira. Lembrando que o best-seller desistiu de integrar a comitiva brasileira na edição passada por discordar da lista de autores. Para Nicole Witt, uma das principais agentes literárias alemãs e a que tem mais brasileiros em seu catálogo, houve avanço na recepção da literatura brasileira por causa da homenagem e porque no geral o Brasil tem chamado mais atenção das comunidades internacionais. “Mas como era de se esperar, no último ano não houve muita procura porque tudo foi concentrado no ano passado. A boa notícia é que quem já traduziu um autor quer continuar publicando a obra dele, mas os ritmos não costumam ser de ano para ano. É preciso paciência”, diz. Por trás dessas traduções estão as bolsas concedidas pela Fundação Biblioteca Nacional. Entre 2012 e agora, foram investidos R$ 3,6 milhões no Programa de Apoio à Tradução de Autores Brasileiros - em 2012 foram 139 bolsas; em 2013, 210 e até agosto, outras 100. “Diante da crise na Europa e em outros países, esses programas são importantes”, comenta Witt. A agente brasileira Lucia Riff concorda: “Sem a bolsa, é quase impossível. Tenho recebido muitos pedidos, mas ainda é difícil vender os autores brasileiros e o empecilho é que não há muitos leitores de português nas editoras e tradutores. Mas o interesse existe.” A também agente literária Marianna Teixeira comenta que este foi um ano mais calmo - até porque muitos livros ainda estão saindo ou aguardando a bolsa. E ela completa: “A manutenção de uma política de incentivos para publicação do autor brasileiro internacionalmente é absolutamente essencial para que a homenagem do Brasil no ano passado em Frankfurt não tenha sido em vão. Espero sinceramente que não haja uma diminuição drástica nas bolsas de tradução, o que comprometeria todo o esforço do nosso trabalho e a credibilidade junto aos editores estrangeiros”. Karine Pansa, presidente da Câmara Brasileira do Livro, tem a mesma opinião; “Ter uma bolsa bem estruturada e contínua é critério básico de todo país que sai para o mercado internacional”. Com as recentes mudanças da política do livro, agentes e editores demonstraram medo de que houvesse uma ruptura no projeto, mas Fabiano dos Santos Piúba, diretor do Livro, Leitura, Literatura e Bibliotecas no Ministério da Cultura, diz não fazer sentido qualquer temor na descontinuidade dessas ações. “A diretoria inseriu em seu planejamento e na proposta orçamentária de 2015, bem como está projetando para 2016-2019, ações voltadas para o fomento da literatura brasileira no exterior e a participação em feiras internacionais. Mas é enfático: “O fomento da literatura brasileira no exterior não pode depender exclusivamente do investimento por parte do Estado. Para além de uma política pública financiada pelo Estado, cabe também ao próprio mercado editorial, dentro de uma lógica e estratégia próprias, investir nessa difusão.”

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.