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Jovens poetas arrebatam a Flip e Lázaro Ramos com versos antirracistas; veja o vídeo do encontro

A portuguesa Alice Neto de Sousa e a brasileira Midria dividiram o palco da Festa Literária Internacional de Paraty com o ator e escritor e fizeram performances a pedido da mediadora e do público

Foto do author Maria Fernanda Rodrigues
Por Maria Fernanda Rodrigues
Atualização:

Sábado à noite em Paraty. No palco da Flip 2022, um Lázaro Ramos (1978) mais tímido diante da presença arrebatadora de duas jovens poetas: a portuguesa Alice Neto de Sousa (1993) e a brasileira Midria (1999). Após uma reflexão sobre ancestralidade e as lutas dos que vieram antes e as das novas gerações - e suas ideias de futuro -, a portuguesa Anabela Mota Ribeiro pediu para os convidados lerem um trecho de suas obras - ou fazerem uma performance, no caso delas.

A performance agradou tanto o público que, na hora das perguntas, alguém pediu bis. E elas foram de novo para a frente do palco (veja no vídeo da apresentação no final do texto). Os aplausos foram longos dentro e fora da tenda - onde o público que não conseguiu ingresso assistiu por um telão - após textos como A Poeta (também conhecido como O lápis Cor de Pele) e Março, da portuguesa, e A Menina que nasceu sem cor, da brasileira.

Midria, que é formada em ciências sociais pela USP, slammer e autora de Cartas de Amor Para Mulheres Negras, disse que gostaria de poder escrever “sem estar com raiva”. Ela comentou que é preciso reafirmar, sempre, as questões de resistência herdadas - porém, ir além. “Estamos abrindo feridas e as colocando à mostra de um jeito que é doloroso. Mas precisamos escrever sobre futuros, sobre quais são os lugares que queremos projetar coletivamente para a vida.”

Midria já tinha participado da mesa de abertura da Flip 2022 Foto: Walter Craveiro/Flip

A poeta, cujo discurso se destacou nesta noite e terminou sua participação com o poema A Menina que nasceu sem cor, disse ainda: “Quando a gente escreve está subvertendo a expectativa branca de que gente não fale, que sucumba, que aceite a narrativa que está posta como a única possível e o único caminho.”

Alice traz o olhar de uma garota negra portuguesa, e a luta contra o racismo pós-colonial ainda é uma questão presente. “A poesia é esse lugar onde consigo transformar a dor e um local de inquietação.”

Lázaro Ramos, Alice Neto Sousa, Midria e Anabela Mota Ribeiro na Flip 2022 Foto: Walter Craveiro/Flip

Dor e cura foram palavras presentes neste e em outros debates da Flip 2022. Autor de Na Minha Pele, que o trouxe à Flip em 2017, algo que ele definiu como um divisor de águas em sua vida, Lázaro está lançando o livro juvenil Você Não é Invisível. Com a obra, ele gostaria de dizer que o jovem pode sonhar e que “ele é importante para este País”. Algo que ele gostaria de ter ouvido. “O sentimento de menor valia esteve presente na minha vida toda e de vez em quando ainda volta. Este é um sentimento que permanece na vida de uma pessoa negra”, comentou o ator e escritor.

Tocado com a performance das poetas e falando sobre o poder das palavras e da literatura, Lázaro disse ainda: “Vivemos tempos tão distópicos que é a utopia que nos salvará”.

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A Flip termina neste domingo, 27.

Veja a mesa Palavra Livre na Flip

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