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Nobel é uma instituição “para homens”, diz escritora Annie Ernaux

Vencedora do prêmio de Literatura afirma que “isso se vê no gosto por uma tradição, a dos trajes”

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Por Redação

AFP - O Nobel é uma instituição “para homens”, disse Annie Ernaux, laureada francesa do prestigioso prêmio de literatura, em entrevista à AFP na terça-feira.

“Isso se vê no gosto por uma tradição, a dos trajes. Parece-me que o apego às tradições talvez seja mais masculino. No fundo, o poder se transmite assim”, disse a escritora de 82 anos, que vai receber seu prêmio em Estocolmo, no sábado, 10. Ela recentemente participou na Festa Literária Internacional de Paraty, a Flip, onde provocou lágrimas de seus leitores.

A autora francesa Annie Ernaux, durante palestra na Academia Sueca, em Estocolmo Foto: Fredrik Persson/TT

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Coroada pela “coragem e acuidade clínica” de sua obra amplamente autobiográfica, Annie Ernaux é a 17ª mulher a ganhar um Nobel nesta categoria desde que os famosos prêmios foram fundados em 1901. “A palavra foi quase sempre monopolizada pelos homens e notei que as mulheres são menos prolixas em seus discursos do que os homens, quando é sabido que são mais práticas”, disse.

Segundo a octogenária, “é difícil dizer, mas acho que sim”, os prêmios Nobel devem mudar. Para tirar o pó da instituição, “você poderia imaginar menos luxo, menos saias longas e caudas?” Ernaux sugeriu com um sorriso, referindo-se à luxuosa cerimônia de premiação seguida de um banquete de gala.

Desde que chegou a Estocolmo, ela foi confrontada com “a solenidade, a prodigalidade do prêmio” e percebeu “a magnitude e o papel” que isso implica, quando ela diz que “realmente não deseja distinção”. No entanto, esta figura do feminismo comprometida com a esquerda quer dedicar o seu prêmio “a todos os que sofrem (...) e a todos os que lutam e não são reconhecidos”.

A recompensa reforçou seu desejo de escrever. Mas ela espera “continuar escrevendo e ao mesmo tempo aproveitar sua velhice”. “Acho que é uma idade em que você pode refletir sobre muitas coisas e para mim isso significa escrever também”, concluiu ela, cuja obra é publicada no Brasil pela editora Fósforo.

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