Johnny ficou meio à margem da bossa nova porque simplesmente não estava no Rio quando ela eclodiu. Acho que já vivia e trabalhava em São Paulo. Foi aqui mesmo que o conheci, no começo dos anos 1990, morando na Mooca, quando o entrevistei para o lançamento de seu disco Olhos Negros. Um disco lindo, como outros. Delicado, músicas sofisticadas, para um país que já não era o nosso.
Lembro muito bem da entrevista, no apartamento modesto, com um quarto reservado aos ícones da sua devoção religiosa. Alf tocou piano depois da nossa conversa e me disse uma coisa surpreendente. Não tinha preconceitos musicais e gostava de ouvir rock de manhã. "Me deixa cheio de energia para o dia que começa".
Johnny, pelo grande músico e compositor que foi, merecia um reconhecimento maior. Suas músicas quase não são tocadas e vivem apenas na nossa memória auditiva. Mas tudo isso, no Brasil, é chover no molhado.
Em todo caso, Johnny Alf deixa um legado de bom gosto e excelentes músicas. Outro dia, falando de José Mindlin e Walter Alfaiate, dizia que dois homens elegantes se iam. O mesmo vale para Johnny.