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Coluna semanal da jornalista Maria Fernanda Rodrigues com dicas de leitura

Opinião|Equilíbrio na vida e em alto-mar

'No Mar', de Toine Heijmans, conta a história de homem que faz uma viagem de barco e tem de lidar com o desaparecimento da filha em alto-mar

Foto do author Maria Fernanda Rodrigues
Atualização:

Sigo no mesmo mar da última coluna. Um livro puxa outro. Uma leitura nos leva de volta a outras histórias. A obra de Tamara Klink era uma não ficção – o seu diário com os preparativos para sua primeira travessia solo, da Noruega à Holanda, pelo Mar do Norte, e com os relatos da viagem e de seu processo de autoconhecimento e autoconfiança.

'No Mar' é o romance de estreia do holandês Toine Heijmans Foto: Andrew Kelly/Reuters

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No Mar, o romance do holandês Toine Heijmans, vencedor do Prix Médicis na França, publicado aqui em 2015 pela Cosac Naify e hoje disponível em sebo, também tem como cenário o Mar do Norte, e ainda o Frísio e o Oceano Atlântico. 

Donald, de cerca de 40 anos, desiludido com a falta de reconhecimento pela empresa onde trabalha há 15 anos e com as pessoas, conta para a mulher que ganhou uma licença remunerada e que aproveitaria aqueles três meses para fazer uma viagem de barco. Ele buscava liberdade e paz de espírito. Ela gostou da ideia pensando que, na volta, ele seria um homem mais alegre e vivo. 

Mas nada é tão simples, ou é o que parece. E o mar pode fazer coisas estranhas com as pessoas, como tirá-las do prumo. Donald sabe disso e tenta evitar. “Quando você não consegue mais raciocinar com clareza, o mar te arrasta”, diz.

O narrador nos conta sobre a rotina no barco e a organização rígida e necessária para que as coisas deem certo no final. Há uma insegurança no ar. Ele descobre que não há liberdade no mar; apenas solidão. E que os problemas nos acompanham.

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“Durante três meses eu tinha buscado tranquilidade no mar. Mas não consegui realmente encontrar calma. As pessoas com que cruzei no caminho me faziam lembrar do pessoal do escritório. Todo porto e toda ilha estavam cheios de gente. Não tinha como escapar. Além disso, cada milha que eu velejava me levava para mais perto do mundo do qual eu fugira”, diz a certa altura.

Ao longo de seu percurso, ele pensa na infância, na filha e na paternidade. E foi justamente para passar mais tempo com Maria, de 7 anos, e para ensinar a ela coisas sobre a vida, que o último trecho da viagem a bordo do Ishmahel seria feito na companhia da menina.

Era para ser um momento de encontro: 48 horas compartilhadas entre pai e filha. Mas a menina desaparece do barco sem deixar nenhum vestígio. Desesperado, o pai começa a procurar a menina na imensidão da noite – e o livro se torna essa busca.

No Mar tem essa cara de thriller, mas é um livro sobre paternidade que retrata uma das ideias mais assustadoras que rondam pais e mães: a perda de uma criança. É também um livro sobre respeitar os nossos limites. 

No Mar Autor: Toine Heijmans Editora: Cosac Naify (160 págs.; a partir de R$ 50) 

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