Você tem feito um ótimo trabalho de divulgação do design brasileiro pelo mundo, uma luta muitas vezes árdua já que é necessário também educar o cliente. Quais você considera serem os pontos-chave para que o mercado entenda a trajetória de um artista?
Realmente não é uma luta fácil, mas seguramente boa e necessária. Há anos dedico grande parte do meu tempo à educação e ao resgate da história do Design Brasileiro e dos nossos grandes autores. Para o mercado entender melhor a trajetória dos artistas, é fundamental trazer o contexto histórico, situá-los no tempo, compreender o que acontecia a sua volta no Brasil e no mundo, quem eram seus contemporâneos. Quando comecei meu trabalho, décadas atrás, criei a linha do tempo do Design Moderno, onde conseguia demonstrar de maneira simplificada as relações entre os grandes autores como Niemeyer, Sergio Rodrigues, Zalszupin, Lina e Zanine e alguns dos principais fatos históricos, como a Semana de Arte de 1922, a vinda de Le Corbusier ao Brasil, a inauguração de Brasília em 1960 e o golpe militar. A divulgação desse conhecimento da história do design brasileiro entre especialistas locais e internacionais tem sido de grande valia para trazer o reconhecimento (ainda que um pouco tardio) do design nacional no mundo.
Entre os designers representados pela Etel estão grandes mulheres, como Lina Bo Bardi, Claudia Moreira Salles e sua mãe, Etel Carmona. Qual é a aceitação de peças produzidas pelo sexo feminino pelo mundo?
A aceitação comercial é muito boa. O reconhecimento do talento das grandes mulheres está cada vez mais amplo no mundo nos dias de hoje. Com muita luta e imposição, cada vez mais as mulheres são as protagonistas da sua história, não mais sombra dos homens como infelizmente acontecia no passado.
Recentemente, durante a Design Week de Milão, em outubro, você lançou a Women and Design, com peças assinadas por Patricia Urquiola e Inês Schertel. Como foi criar um projeto como esse?
O Women and Design é muito interessante e não começou agora. A história da Etel é muito feminina e de certa forma muito natural para nós, mas recentemente, a partir da inauguração das nossas galerias em Milão e em Houston, sentimos necessidade de dar mais visibilidade a esse protagonismo e de estruturar as histórias femininas que nos cercam em um projeto com mais amplitude e alcance mundial. A Exposição Women and Design com peças da Patrícia Urquiola, Etel Carmona e Inês Schertel, bem como as de Lina Bo Bardi, Claudia Moreira Salles e Lia Siqueira foi pensada para ser lançada durante o Salão do Móvel em abril deste ano, que não ocorreu. Por coincidência, o tema deste ano de 2020 da cidade de Milão é L’anno delle Donne, isto é, o ano das mulheres. Os lançamentos da coleção criada por Patrícia Urquiola e a collab de Etel Carmona e Ines Schertel, apresentada oficialmente durante a Designer’s Week, traduzem os anseios de hoje, uma visão mais orgânica, mais gentil para com as pessoas e o planeta.
E como você vê o papel de nós, mulheres, no mercado atual?
Logo no início da pandemia, escrevi que estávamos entrando na Era do Propósito e acredito que as mulheres, com sua sensibilidade, com uma visão mais colaborativa, terão um papel fundamental na adaptação necessária aos novos tempos. Basta olharmos para a atuação das grandes líderes mundiais na pandemia, Jacinda Ardern, Angela Merkel, etc. O mundo e o mercado precisam dessa força gentil e firme conciliadora e em consonância com o planeta.
Qual você diria ser o caminho do design para 2021?
Não tem outro caminho se não em consonância com pessoas e planeta, se não através da sustentabilidade e da colaboração. O caminho de 2021 passa por simbiose, novo materialismo, não dá mais para pensarmos em isolacionismo ou separações, somos todos parte de um mesmo tecido.