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Análise: A obra de Elton Medeiros é a de um compositor diferenciado

'Elton nos deixa cheios de presentes, o que de melhor o samba brasileiro tem para mostrar'

Por Zuza Homem de Mello
Atualização:
O compositor Elton Medeiros, aos 80 anos Foto: Fábio Motta/Estadão

Do mesmo nível dos mais destacados compositores da história do samba, Elton Medeiros levava uma vantagem que se reflete nitidamente em sua obra, a de ter sido trombonista. Suas melodias tinham elaboração mais refinada, sua obra é mesmo as de uma compositor diferenciado.

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Craque no time de bambas que trocavam bola no restaurante Zicartola, o scratch cuja linha de ataque tinha nas outras posições Nelson Cavaquinho, Cartola, Zé Keti e Paulinho da Viola, chutando com ambos os pés o das letras e o da música, Elton tinha lá seu estilo próprio de marcar golaços trocando passes com classe, uma classe que encantava a torcida e era reconhecida pela delicadeza de suas melodias. 

Bastam as primeiras frases após os lá-lá-rá-lá-lá-iá-lé....para a gente entoar as canções que saíram dessa mente privilegiada sob forma de melodias: “Recomeçar o que restou de uma paixão...”, ou “A sorrir eu pretendo levar a vida....”, ou “Ela tem uma rosa de ouro nos cabelos....”, ou “Ai! Ardido peito, quem irá entender o teu segredo?...”, ou “Nada consigo fazer quando a saudade aperta...”, ou “Vejo agora, esse teu lindo olhar, olhar que eu sonhei...”, respectivamente de Recomeçar, O Sol Nascerá, Rosa de Ouro, Pressentimento, Peito Vazio e Mascarada. Ou de outras tantas dessa obra exuberante.

E, devo confessar as da minha predileta, em que um verso da primeira parte, “Nele a semente de um novo amor nasceu”, é aproveitado quase todo para o início da segunda parte: “Quem esperou como eu como um novo caminho”. Mais uma das obras primas desse cérebro musical criador de valiosas preciosidades sob a forma de samba: “Canto pra dizer que, no meu coração, / Já não mais se agitam as ondas de uma paixão / Ele não é mais abrigo de amores perdidos / É um lago mais tranquilo / Onde a dor não tem razão”.

Então minha gente, é preciso dizer mais sobre Elton Medeiros? Basta cantarmos apenas um pedacinho dessas melodias, para que ele seja homenageado melhor que tudo. 

Elton morreu. E porventura haverá maneira melhor de se morrer, mesmo que cego? Suas melodias serão cantadas para sempre, encantando nossos ouvidos. 

Elton nos deixa cheios de presentes, o que de melhor o samba brasileiro tem para mostrar. Mostrando que a nossa música popular tem mesmo por que ser chamada de a melhor do mundo.

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