O Spotify deu um tiro no pé? É a pergunta que se espalha pela Internet desde quarta-feira, 26, quando o astro Neil Young resolveu cobrar da plataforma uma postura mais dura contra o conteúdo antivacina do podcast de Joe Rogan. A plataforma não se intimidou com a ameaça de Young, que prometeu tirar suas músicas do catálogo da plataforma, e por um comunicado frio anunciou que estava retirando as faixas da biblioteca do sistema. A polêmica começou com uma carta aberta do música no início da semana criticando o apresentador, que, com contrato exclusivo com a plataforma, tem audiência estimada em 11 milhões de assinantes.
Após a repercussão da decisão, fãs de Young e outros tuiteiros lançaram a hashtag “#CancelSpotify”. Artistas também se posicionaram contra a plataforma, uma delas foi a atriz Mia Farrow (A Rosa Púrpura do Cairo) que externou insatisfação com a escolha do Spotify de privilegiar o “Mentiroso perigoso Joe Rogan”.
No entanto, ouviu-se silêncio por parte de nomes da música americana. O que se fala nas entrelinhas é: de 2010 a 2020, a participação do Spotify no mercado de música dos EUA subiu de 7% para 83%, segundo pesquisa do Daily Music. Considerada controversa, a postura do Spotify rendeu críticas de personalidades, como o diretor geral da Organização Mundial da Saúde, Tedros Adhanom Ghebreyesus, que apoiou a decisão de Young publicamente em um Tweet:
De um lado, Neil Young argumentou que a empresa está difundindo conteúdo negacionista e anti vacina. Em resposta, o Spotify lamentou a decisão do músico e colocou investir em “políticas de conteúdo em vigor”. Segundo comunicado, a plataforma diz ter removido mais de 20.000 episódios de podcasts relacionados à covid desde o início da pandemia. No entanto, Rogan assinou com o Spotify em 2020 um contrato de U$ 100 milhões, hoje é o mais popular programa do gênero e audiência por lá. Há três meses, o Spotify anunciou crescimento econômico de 27% em relação ao mesmo período de 2020, segundo dados da que a própria plataforma divulgou.
A luta contra a desinformação e o ativismo pella ciência e saúde são pautas que fazem parte da vida de Young que, aos 7 anos, contraiu poliomelite. O cantor lembrou do período em que sobreviveu à doença na carta endereçada aos seus empresários da WarnerMusic. Recentemente, o cantor vendeu 50% dos direitos de suas músicas para a empresa Hipgnosis, num valor não revelado, mas, segundo especulações, os números alcançariam nove dígitos. Nessa queda de braço contra o Spotify, Young, diferente de outros cantores, tem o aporte financeiro suficiente para não depender da plataforma.
Repercussão
Steve Silberman - Jornalista e escritor americano
".@Spotify escolheu: Joe Rogan começa a regurgitar sua desinformação tagarela sobre #COVID19 e vacinas, e a música de @NeilYoung desaparece. Nunca tive tanto orgulho de NÃO ter uma conta @Spotify."
Sari Rosenberg - Educadora norte-americana
"O fato do @Spotify ter escolhido Joe Rogan em vez de Neil Young é absolutamente nojento."
Daniel Emery - Jornalista britânico
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