Discografia de Nara Leão vai chegar ao CD

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Por Agencia Estado
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Nara Leão foi uma das vozes mais importantes da nossa moderna música popular. Talvez a mais importante - e isso não se devia à qualidade do canto, aos critérios técnicos que valem, normalmente, para julgar a qualidade de uma voz. Estava no auge do sucesso, nos anos 60, e havia quem a criticasse por ser desafinada - e muitas vezes era, mesmo. Por ter voz pequena - e tinha. Pelas interpretações de certa forma planas - e, se os parâmetros de comparação fossem Elisete Cardoso ou Elis Regina, as interpretações de Nara eram mesmo planas. No entanto, quem ditou os rumos da música popular não foi a veterana Elisete, a explosiva novata Elis, nem foram as bossa-novistas de primeira hora, como Silvinha Telles, ou as cantoras da dor de cotovelo, como Maysa. Foi Nara. Para onde ela se movesse, ia a MPB. Inexplicavelmente, sua obra tem sido muito maltratada pela indústria fonográfica. O CD já é popular há mais de dez anos e a discografia de Nara ainda não ganhou transcrição digital, excetuados um título ou outro, escolhido de forma aleatória, lançado sem alarde - e as inefáveis, execráveis antologias, que misturam faixas de discos diversos, sem critério. Os discos de Nara tinham começo, meio e fim. Tinham conceito. O tal conceito que conduzia a MPB. Lotes - A gravadora Universal, que detém praticamente todo o acervo fonográfico de Nara Leão, promete dar início, em março, ao lançamento da obra, vertida para o CD. No primeiro lote, sairão os 13 primeiros discos da cantora. Os 14 volumes que a Universal reedita em março dão prova cheia da importância da cantora na história da música brasileira. São discos em que ela lançou artistas - ou consolidou carreiras - do quilate de Chico Buarque, Gilberto Gil, Sidnei Miller, Sérgio Ricardo, Paulinho da Viola, Jards Macalé, Sueli Costa, Sérgio Ricardo. Foi o período em que fez ressurgirem do injusto esquecimento as obras de Cartola, Zé Kéti, Jair do Cavaquinho, Monsueto Menezes. Em que ela cantou Cego Aderaldo, João do Vale, e ainda modinhas, canções infantis - e até bossa-nova. Ela, que sempre foi a musa do movimento, só veio a fazer um disco exclusivamente dedicado à bossa em 1971, o elepê duplo Dez Anos Depois, gravado em Paris. Os 13 elepês que estão sendo transcritos para CD são: Nara (1964); Opinião de Nara (1964); O Canto Livre de Nara (1965); Show Opinião (1965); Nara Pede Passagem (1966); Manhã de Liberdade (1966); Vento de Maio (1967); Nara (1967); Nara Leão (1968); Coisas do Mundo (1969); Nara Leão (1971); Dez Anos Depois (1971); e Meu Primeiro Amor (1975). A Universal pretende lançar, ainda no ano que vem, os outros títulos da discografia de Nara, começando por Os Meus Amigos São um Barato, de 1977, e terminando com My Foolish Heart. Nara encomendou aos amigos, para esse disco, versões para clássicos da canção americana. Ela mesma fez várias versões. O elepê saiu em janeiro de 1989. Ela morreu, aos 47 anos, em junho do mesmo ano, vítima de um câncer cerebral.

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