Lô Borges apresenta canções do novo disco, ‘Rio da Lua’, em shows em SP

O cantor e compositor faz shows hoje e amanhã, no Sesc Pompeia, com repertório do novo disco e também seus clássicos

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Por Adriana Del Ré
Atualização:

No ano passado, o reencontro de Lô Borges com o músico Nelson Angelo foi catártico. Os dois não se viam desde os tempos de Clube da Esquina. Mineiro, Nelson se fixou no Rio enquanto Lô continuou em Belo Horizonte. Até que, em 2018, Lô foi a um show de voz e violão que Nelson apresentou em BH. Ao final, ele foi ao camarim, e os dois trocaram ideias. Quando Lô levou ao Rio o show do ‘Disco do Tênis’ – como ficou conhecido seu clássico álbum Lô Borges (1972) –, foi a vez de Nelson Angelo prestigiar o amigo na plateia. Naquele dia, também assistiam ao show Milton Nascimento e Ronaldo Bastos, outros companheiros de Clube da Esquina. Nelson ficou emocionado com a apresentação, em rever seus amigos, ali, juntos. “É quase que nostálgico, como se ele voltasse no tempo e estivéssemos todos juntos”, diz Lô, em entrevista ao Estado, de Belo Horizonte. “Aí, ele me mandou um texto, que eu resolvi musicar. Ele gostou.” 

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Dessa parceria espontânea, nasceu o que seria a primeira canção do disco Rio da Lua, a faixa-título que também abre o novo trabalho de inéditas de Lô Borges. Os dois acabaram fazendo em parceria todas as dez músicas do álbum, cujo repertório Lô usa como base para seu novo show, que chega agora a São Paulo, neste sábado, 6, e domingo, 7, no Sesc Pompeia. “Como estou lançando o disco, toco cinco ou seis canções do Rio da Lua, intercaladas com músicas mais antigas da minha carreira”, conta. “Assim, consigo mostrar para mim e para as pessoas que elas são quase irmãs”, diz ele. 

A primeira parceria abriu caminho para as outras entre os dois. E Lô, que costuma mandar música para seus parceiros depois colocarem letra, mudou seu processo como compositor pela primeira vez. “Ele mandou tudo por WhatsApp, durou dois meses e meio, três meses. Foi muito inovador, desafiador, quase um crescimento como compositor. Gosto de desafios”, comenta Lô. “Eu mandava para ele via celular e ele sempre gostava. É diferente de mandar o ‘lalalá’ para o letrista colocar letra”, diverte-se ele, ao falar de seu processo habitual.

Lô Borges. Canções do novo álbum são feitas em parceria com Nelson Angelo. Foto: João Diniz 

No entanto, aquele velho ditado de que a ‘ordem dos fatores não altera o produto’ também se aplica no caso de Lô Borges neste novo trabalho. Sua música tão característica permanece ali eloquente, lírica, tocante. Esse universo sonoro vai ao encontro das letras poéticas, existenciais e, por vezes, amorosas de Nelson Angelo. “Quando me apaixonava/ Em mim passava o Rio da Lua/ Com suas águas tranquilas / Eu sem pensar embarcava”, canta Lô, dando doçura às palavras escritas pelo parceiro.

Também instrumentista, arranjador e cantor, Nelson Angelo começou a compor nos anos 1960, e tem trajetória importante na música, para além do Clube da Esquina, com passagens em grupos como A Tribo, que fundou com Naná Vasconcelos, Joyce, Novelli e Toninho Horta, nos anos 1970, e Turma do Funil, da qual também faziam parte nomes como Francis e Olívia Hime, Miúcha e Danilo Caymmi, na década de 1980. Também acompanhou artistas como Milton Nascimento, Edu Lobo, Elis e Chico Buarque, e desenvolveu a própria carreira solo (em agosto, ele deve lançar o álbum Todas as Cores). 

Lô Borges ressalta a importância do antigo amigo em sua vida. “Ele tem uma grande contribuição na minha carreira, no Clube da Esquina, de 1972, e no ‘Disco do Tênis’ (também de 72)”, afirma. No caso de Clube da Esquina, Lô lembra que Nelson “inventou coisas maravilhosas” para ele e para Milton Nascimento. “Principalmente, para mim, que era iniciante na época. Ele auxiliou a gente a se entender dentro do estúdio. Seja tocando violão, guitarra”, conta. “No ‘Disco do Tênis’, ele fez coisas divinas.” 

Um novo disco de Lô Borges, com outro parceiro, deve sair em 2020 

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O processo de parceria entre Lô Borges e Nelson Angelo foi intenso. E a tecnologia trabalhou a favor dos dois, que moram em cidades diferentes. “Já fiz música por fax com Arnaldo Antunes, Nando Reis. Hoje com o WhatsApp, a coisa se torna mais ágil”, diverte-se Lô. 

Ele chega a fazer um paralelo entre Rio da Lua e o ‘Disco do Tênis’ em relação à forma rápida com que os dois trabalhos foram feitos. Mas por motivações diferentes. “Com o ‘Disco do Tênis’, eu tinha contrato com a gravadora e havia uma cobrança. No Rio da Lua, não tinha cobrança, mas o processo foi tão rápido como se fosse cobrado.”

Qual o motivo disso? Lô se diz um compositor compulsivo. Ele lembra que esse lado compositor dele se intensificou depois dos 50 anos. Hoje, Lô tem 67 anos – e ele começou a compor bem jovem. 

E o processo não para. Ele conta que um compositor da nova geração da música brasileira, que ele prefere não revelar o nome, viu o show Rio da Lua em BH e, ali, durante a apresentação, compôs uma letra e mandou para ele. “Já fizemos dez canções e gravamos.” Esse disco deve ser lançado no ano que vem.

Sesc Pompeia. Teatro. Rua Clélia, 93. Tel. 3871-7700. Sáb. (6), 21h, e dom. (7), 18h. R$ 9 / R$ 30

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