Luiza Lian segue por um caminho imprevisível em seu disco 'Oyá Tempo'

Álbum será o centro da apresentação da artista no Auditório Ibirapuera neste sábado, 12

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Por Pedro Antunes
Atualização:

O caminho. Luiza Lian gosta de pensar nele. No caminhar, no seguir, na força que nos leva, individualmente, de um ponto no início da vida até o fim dela. É o caminhar, dentro do conceito de espiritualidade da artista, que se encerra o segundo disco da carreira dela, Oyá Tempo, cujo repertório será exibido na noite deste sábado, 12, no Auditório Ibirapuera. Mas o caminho, de fato, é importante aqui. Porque Oyá Tempo não era para ser um álbum – no embrião, eram poemas declamados, reunidos ao longo de 2016. E, no frigir dos ovos, é conceitualmente mais do que isso. Ela o denomina de álbum visual, porque não se restringe ao som despejado pelas caixas de som e fones de ouvido. Oyá Tempo é um disco que transborda, é transmídia, é um média-metragem, é um site interativo, é um show – este testado pela primeira vez num espaço amplo como o palco do Auditório. 

Neste sábado, Luiza Lian experimenta a força das oito canções de Oyá Tempo com a possibilidade de se expandir de forma inédita. A estreia foi propositalmente realizada em uma noite na Casa do Mancha, espaço dedicado a garimpar o melhor da música alternativa brasileira, localizado na Vila Madalena.

Luiza Lian Foto: Filmes da Diaba

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“É uma apresentação que será ampliada agora, com esse show no Auditório”, avalia Luiza. “Iniciar esses shows na Casa do Mancha foi intencional. Queria que, naquele espaço, por exemplo, que o público estivesse sobre a saia da Oyá”, conta. No show, o figurino de Luiza se espalha pelo chão do palco. 

E Oyá Tempo, selecionado pelo júri da APCA (Associação Paulista de Críticos de Artes) como um dos melhores do primeiro semestre deste ano, é daqueles trabalhos a se ouvir (assistir?) do começo ao fim, para ser tragado pela produção de Charles Tixier, com quem ela trabalha desde o primeiro álbum, chamado Luiza Lian, de 2015.

Luiza se lembra de perceber, em um show anterior de Oyá Tempo, uma amiga ser levada para dentro daquelas canções. “De repente, ela estava de braços cruzados, fazendo umas caras engraçadas. E, então, ela passou a ter uma expressão angustiada”, conta. 

Não que Oyá Tempo seja um álbum sem luminosidade. No caminho – olha a palavra aqui de novo – no qual se cruzaram Luiza e Tixier, há luz e há sombra. Porque Luiza tem, nos seus poemas, cantados ou falados, uma navalha afiada.

Ela corta pelo feminino, pelo que se crê, pela desconexão com o mundo. “Tinha uma série de questões para abordar. Coisas que me angustiavam com relação à vida humana, e como estávamos construindo a humanidade”, ela explica. 

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A voz de Luiza Lian se esparrama pelo experimento sonoro desenvolvido por Tixier a partir das palavras. O ambiente de som, criado no estúdio montado no próprio quarto do produtor, abraça a voz de Luiza e pode ser urbano ou de terreiro, aproxima-se da dança do funk do Rio de Janeiro e das batidas e timbres estridentes que chegam do Pará.

Por fim, Oyá Tempo é jazz contemporâneo. Distante da instrumentação e da voz tradicional do gênero, o álbum é uma expressão libertária e inventiva de seu tempo. Novos elementos dialogam para afrouxar as amarras das heranças. O som dos terreiros, que corre pelo corpo por via da experiência dela com o umbandaime (união entre a doutrina do daime e umbanda), encontra a estética contemporânea livre e cheia de beats. 

+ Assista ao clipe de 'É Nela que se Mora?', no blog Outra Coisa

“É um disco que tem o bom e o mau”, ela avalia. “Um bom meio maquiavélico. Sempre achei que esses poemas teriam uma densidade e esse trabalho seria difícil. Quando resolvi juntar com a música, busquei por esse contraste. De levar o público para esse mergulho, e que fosse difícil, mas que abrisse algumas possibilidades e, por fim, que ele chegasse ao fim com alguma leveza.” 

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É, principalmente, um salto estético a partir de Luiza Lian, o álbum de 2015, no qual embora a artista mostrasse em versos as questões que lhe impulsionavam a cantar, a roupagem ainda engatinhava e era o blues e rock setentista que a amparavam ali. Desta vez, ela soa livre.

Sua voz é a guia, os arranjos de Tixier dão o ritmo e o destino é desconhecido. Isso não significa que não é possível aproveitar o caminho – olhe a palavra aí de novo. Como o rapper Moita versa, ao fim de É Nela Que Se Mora?, a última do disco: “E por mais que peças alegrias, lágrimas também fazem correr o rio da vida / Do amor não se duvida. / Por isso, mesmo chorando, sorria”.

LUIZA LIAN  Auditório Ibirapuera. Av. Pedro Alvares Cabral, s/nº, portão 2, Ibirapuera, tel. 3629-1075.  Sáb. (12), às 21h. R$ 20

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