Musical 'Grandes Encontros da MPB' traz canções que reproduzem o comportamento de várias épocas

Produção que estreia na sexta (22), no Teatro Raul Cortez, celebra as composições que nasceram de um trabalho conjunto

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Por Ubiratan Brasil
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É uma brincadeira que circula entre os atores, mas tem um grande cunho de verdade: são tantas as canções clássicas nascidas de parcerias não menos notáveis que o espetáculo poderia se transformar em uma franquia como no cinema e já projetar a parte 2, 3, 4... “Ou poderíamos entrar no teatro no dia 1.º de janeiro e sairíamos no dia 31 de dezembro, celebrando todos os trabalhos maravilhosos”, observa Pedro Brício, autor do texto de Grandes Encontros da MPB, o Musical, que estreia na sexta-feira, 22, no Teatro Raul Cortez, depois de uma temporada carioca.

Grandes Encontros da MPB, o Musical Foto: Caio Gallucci

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Trata-se de um passeio pelo cancioneiro brasileiro que brotou de parcerias entre compositores ou entre intérpretes, ou mesmo entre um compositor e um intérprete. Em aproximadamente 30 músicas, o “show teatralizado” (como define seu diretor, Sérgio Módena) celebra o trabalho nascido do encontro entre Elis Regina e Tom Jobim, Caetano Veloso e Gilberto Gil, Cazuza e Frejat, Elba Ramalho, Alceu Valença, Zé Ramalho e Geraldo Azevedo, Milton Nascimento e Lô Borges, Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira, Roberto Carlos e Erasmo Carlos, Marisa Monte, Carlinhos Brown e Arnaldo Antunes, além de nomes mais atuais, como Johnny Hooker e Liniker.  Assim, com um repertório que surgiu a partir dos anos 1960, o espetáculo desvenda o nascimento não só da parceria musical, mas também daquela fundamentada na amizade. “O espetáculo fala sobre encontros que duraram décadas, não só artisticamente, mas afetivamente. Caetano e Gil, por exemplo, não compuseram tantas canções, mas viveram juntos em Londres, a parceria foi além da música, foi um encontro de vida”, acredita Brício. 

Essa é uma das diversas histórias saborosas que marcam o musical – durante o período do exílio em Londres, iniciado em 1969, a dupla recebeu a visita carinhosa de Roberto Carlos. Coincidência ou não, após tal encontro, nasceram London London, música de Caetano Veloso, que traz diversas vezes a palavra solidão, e Debaixo dos Caracóis dos Seus Cabelos, de Roberto Carlos, em homenagem ao amigo exilado.

Com tantas histórias e melodias à disposição, Brício e Módena perceberam que o musical deveria seguir uma ordem cronológica. “Também optamos por parcerias de maior duração, além das canções que hoje são clássicas”, completa o encenador que, com Brício, trabalhou junto do elenco, formado por Ariane Souza, Bruna Pazinato, Édio Nunes, Franco Kuster, Júlia Gorman e Thiago Machado.

Quando se espera uma voz feminina para cantar Beatriz (Chico Buarque / Edu Lobo), surge a interpretação perfeita de Thiago Machado. Da mesma forma que a lembrança traz uma voz masculina para London London (Caetano Veloso), é a entonação rasgada de Julia Gorman que invade o palco – Grandes Encontros da MPB, o Musical promove constantes surpresas na plateia.

“Buscamos características específicas de cada um do elenco quando fizemos a seleção dos intérpretes”, conta o diretor Sérgio Módena. “Beatriz, por exemplo, é uma canção muito difícil de se cantar, um desafio que sabíamos à altura do Thiago. E a Júlia tem a melancolia necessária para traduzir o difícil momento que Caetano e Gil vivia no exílio em Londres.”

O espetáculo – que nasceu de uma ideia de Aniela Jordan, uma das sócias da produtora da peça, a Aventura – começa com um grupo de contadores de histórias que se reúne em uma festa. A partir daí, eles se revezam em lembrar casos ilustrados por músicas que traduzem com exatidão o momento em que foram criadas. “Por isso, é um ‘show teatralizado’, uma proposta de encenar esse cancioneiro a partir de imagens que nos vieram à mente durante os ensaios”, explica Módena. “Há momentos em que a narrativa é mais teatral.”

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A peça começa com o elenco apresentando Festa da Música, homenagem de Gabriel, o Pensador a artistas de todos os gêneros da música brasileira. Em seguida, começa o passeio histórico com Proibido Fumar, de Roberto e Erasmo, trazendo o público para os anos 1960 e a Jovem Guarda. “É nessa época que nasce o conceito de MPB”, conta o autor do texto do musical, Pedro Brício. “Esse multiplicidade é mostrada com exemplos de samba, bossa nova, o rock dos anos 1980 e outros.”

Nesse início, é destacada a frutífera parceria que Vinicius de Moraes estabeleceu com alguns de seus pares, mostrada em clássicos como Se Todos Fossem Iguais a Você e Garota de Ipanema (criadas com Tom Jobim), Sei Lá (Toquinho) e Canto de Ossanha (Baden Powell). “Não são apresentados retratos desses artistas, mas como suas canções traduzem a atmosfera de uma época”, observa Módena.

Em seu passeio melódico, o musical traz momentos preciosos, verdadeiros marcos da criação artística nacional. Como a homenagem a João Gilberto, morto em julho deste ano: depois de uma pungente interpretação de Desafinado (Jobim e Newton Mendonça) e Chega de Saudade (Jobim e Vinicius), um violão é deixado sobre um cadeira, iluminado por uma luz melancólica.

Outro grande momento é a homenagem à sacudida promovida pelas bandas surgidas nos anos 1970, no medley iniciado por Esse Tal de Roque Enrow (Rita Lee e Paulo Coelho). Em sua reta final, o espetáculo mostra o vigor da música pernambucana nos anos 1990, com Chico Science à frente (com Da Lama ao Caos) até chegar aos dias atuais, quando Franco Kuster e Thiago Machado interpretam Flutua, marca hoje do encontro com beijos entre Liniker e Johnny Hooker.

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