Ney Matogrosso canta o melhor de Cartola

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Por Agencia Estado
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Quem ouve o disco Ney Matogrosso Interpreta Cartola, com 12 sambas do fundador da Mangueira, pensa que o cantor conseguiu ser genial e óbvio ao mesmo tempo. Ele escolheu as músicas mais conhecidas, com duas exceções, Senões e Desfigurado, e as vestiu com arranjos sofisticados e simples, com poucos instrumentos que passeiam pelas melodias sem mudá-las. Um som elaborado, que corre leve. "Quis evidenciar o melhor de Cartola, que é a riqueza da melodia e das letras, mesmo as feitas por parceiros", ensina Ney. "Por isso também estou mais contido nas interpretações. O repertório tem tal carga dramática que, se eu me soltasse, ficaria excessivo." A história do disco ilustra as dificuldades de nosso mercado cultural. Ney pretendia lançar o livro Ousar Ser, organizado por Bené Fonteles, com fotos de Luiz Fernando da Fonseca, amigo que registrou seus momentos públicos e íntimos desde o tempo dos Secos & Molhados. O projeto previa um disco encartado e, para não se repetir, gravou Cartola, compositor que já havia cantado no disco À Flor da Pele, em que se acompanhava de Rafael Rabelo. Haveria shows em São Paulo, Brasília e Rio, mas o disco ficou pronto e o livro, não. Para não perder as datas, Ney cumpriu a agenda (já fez São Paulo e Brasília, com casa lotada) e agora desistiu de esperar o livro. No show do Rio, que ocorre amanhã, no Canecão, Ney Interpreta Cartola estará à venda, avulso. Cantor e compositor não se conheceram pessoalmente, apesar de Ney ter chegado ao Rio em meados dos anos 60, no auge do sucesso do restaurante Zicartola. "Mas eu era um hippie naquela época, vivia ao sabor do vento e era muito feliz. Hoje, as coisas mudaram, não se pode ter tudo na vida", filosofa, sem nostalgia. "Para reunir o repertório, ouvi os discos de Cartola e escolhi as músicas de que gostava mais. Podia ter incluído outras, mas achei que essas 12 resumiam tudo que eu queria dizer." O disco foi rápido. Em uma semana, as músicas foram escolhidas; na outra ele ensaiou com Ricardo Silveira (que tocou violão e fez os arranjos), Marcello Gonçalves (violão de sete cordas), Zé Nogueira (sax-soprano), Jorge Elder (baixo e cavaquinho) e Zero (percussão), e em mais duas, gravou. Para os fãs de Ney, é fundamental ouvi-lo em clássicos como O Sol Nascerá, Cordas de Aço, Acontece, Peito Vazio, As Rosas não Falam, Tive Sim e até a pouco conhecida Ensaboa. Quem, até aqui, o achava derramado, vai encontrar um cantor preciso, na nota e na emoção. "Na hora de gravar, vi como essas músicas exigem técnica e me vigiei para não repetir o Cartola", lembra Ney. "Ele é quem melhor canta suas próprias músicas e foi difícil me desvencilhar de sua interpretação."

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