Noite art-punk do Placebo esquenta Credicard Hall

Banda inglesa faz show climático e enérgico, com profusão de guitarras

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Por Agencia Estado
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O show do Placebo, na noite de terça, 27, no Credicard Hall, causou uma sensação esquisita, difícil de definir. É como se a gente estivesse na sala da casa do Sebastian, aquele cientista-sucateiro do filme Blade Runner, com aqueles bonecos andróides feitos de pedaços de gente tropeçando nos móveis aqui e ali. Sensação causada tanto pelos protagonistas da noite quanto por sua platéia. Banda art-punk que leva adiante aquele eterno ideário fin de siècle glamouroso, eles fizeram um show bem bacana, climático. Da última vez que estiveram aqui, em 2005, a crítica alegou "frieza" em suas apresentações. Dessa vez, quase exageraram na performance calorosa - o baixista Olsdal até chegou a tocar no fosso, na frente da platéia. Temia-se um certo esvaziamento da audiência, face ao grande número de shows internacionais da temporada - o bolso do paulistano parece dar mostras de que, sim, tem fundo. Mas a banda do garoto-garota, o pequeno e stylish Brian Molko, conseguiu arrebanhar umas quatro mil almas para a noitada, alguns deles usando modelitos emo, uma ou outra gravatinha preta por cima de camiseta, olho pintado com lápis como filhote de dálmata. Em termos fashion, Molko já está algumas décadas à frente desses fãs, com sua camisa listada e o cabelinho assimétrico, um tufo mais alto que o resto. Cinco no palco A banda abriu com Infra-red, mas foi quando tocou a segunda, Meds, que o negócio começou a esquentar. Grande refrão da era do Prozac: ?Você esqueceu de tomar seus remédios??. Molko emenda uma canção na outra, sempre cantando no limite da exaustão vocal. A certa altura do show, quando interpretava uma canção nova, Follow The Cops Back Home, ele acendeu um cigarro e cantou fumando, num momento Ian Mcullouch, do Echo and the Bunnymen. O Placebo tem um truque: apresenta-se como um trio, mas na verdade são cinco no palco - além de Molko, Stefan Olsdal e Steve Hewitt, há um baixista auxiliar e um guitarrista-tecladista auxiliar, os dois postados lá no fundo, encobertos pela sombra. Às vezes havia até três guitarras em cena, o que lembrava uma jornada de guitar bands. Havia também um laptop para os efeitos. Hoje em dia, Olsdal é mais guitarrista que baixista, e é bom em ambas as funções (dizem que também é ótimo DJ). A iluminação era fantástica, imagens de suave tensão renascentista no telão - destaque para os rostos em close de uma Madonna e seu rebento em suplício, apenas bocas e faces aparecendo. Particularmente, a platéia esperou, e reagiu melhor, quando eles tocaram suas canções dos anos 1990: Nancy Boy, Teenage Angst, 36 Degrees. Grandemente influenciado por bandas como Sonic Youth, o Placebo apurou sua música ao longo desses 13 anos, criando um estilo e uma marca que vingou. Mas os melhores momentos de seu show são daquela fase em que eram derivados, como quando tocam Bionic, claramente inspirada em bandas pregressas. O som pós-punk do Placebo é feito de uma intensa massa sonora, compacta e constante, aliada a uma lírica de confusão psicológica e sentimental (mais elementos de sexo e drogas). A bateria de Hewitt é o instrumento mais pesado e não tem misericórdia dos ouvidos.

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