Osesp renova contrato de Thierry Fischer até fim de 2027

Maestro suíço, cujo contrato original encerraria em 2024, substituiu Arthur Nestrovski nas decisões artísticas da orquestra

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Por João Luiz Sampaio

O contrato do suíço Thierry Fischer, diretor musical e regente titular da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo, será renovado até o final de 2027. A decisão acontece após o anúncio da saída de Arthur Nestrovski do posto de diretor artístico, anunciada na semana passada, e já foi chancelada pelo conselho de administração.

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Com o pedido de demissão de Nestrovski, a orquestra havia informado que as funções da direção artística seriam divididas entre Fischer e a direção executiva da Osesp, comandada por Marcelo Lopes. Mas o anúncio deixava algumas dúvidas, como as razões da extinção do posto de diretor artístico e a própria permanência do formato, uma vez que o contrato original de Fischer se encerrava na temporada 2024.

Em entrevista ao Estadão, Lopes sugere que, em vez de se falar em extinção do cargo de diretor artístico, o que de fato aconteceu foi uma mudança na nomenclatura. “Todo o trabalho artístico, tudo o que acontece no palco, é incumbência agora do diretor musical. Por que não diretor artístico e sim musical? Porque é o termo mais comum, mais utilizado no universo da música clássica”, explica.

“O diretor musical vai cuidar da definição de metas artísticas. A área executiva fica de maneira mais clara responsável por fazer a máquina girar, processos de contratação, pagamentos. Nesse aspecto não há uma mudança radical”, afirma Lopes. Fischer pretende aumentar o período que passará em São Paulo já a partir da temporada do ano que vem, indo de 13 para 15 semanas. A partir de 2024, o objetivo é estar no Brasil por quatro meses ao ano. “Seriam quatro períodos de um mês. E quero estar aqui não apenas quando estiver regendo. Quero estar aqui para ouvir a orquestra e ter contato ainda maior com a cidade e sua atividade cultural. E, além desses quatro meses, haverá também períodos em que me dedicarei a gravações”, diz o maestro. Marin Alsop, que o antecedeu no cargo, permanecia em São Paulo 12 semanas ao ano.

O maestro Thierry Fischer, diretor musical da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo. Foto: Tiago Queiroz/Estadão

Divisão

Com a decisão, a Osesp recupera um formato de administração artística abandonado no final de 2009, com a chegada de Nestrovski. Até então, o maestro John Neschling ocupava a direção artística e a regência titular do grupo, como fizera antes dele Eleazar de Carvalho. Sua saída, no entanto, representou um momento traumático para a instituição, com desavenças entre o maestro e os músicos e o maestro e o poder público: desentendimentos entre Neschling e o então governador José Serra deixaram os bastidores e ganharam as páginas da imprensa.

A contratação de Nestrovski criou uma divisão de poderes. Pela primeira vez, foram separados os postos de diretor artístico e regente titular, cargo que foi então ocupado de maneira provisória pelo maestro Yan Pascal Tortelier e, em seguida, por Alsop. “O diretor musical é a pessoa que cuida da orquestra no palco. Está mais perto dos músicos, mais perto do público, o que torna esse formato mais consistente em termos da organização geral da instituição”, diz Lopes.

Fischer chegou à Osesp oficialmente em 2020 e, em suas primeiras temporadas, teve de lidar com a pandemia e as restrições impostas à atividade artística. Sem público, comandou o grupo em uma série dedicada às sinfonias de Beethoven. De certa forma, a temporada atual é a primeira em que pode desenvolver seu trabalho com a Osesp. “Nessa nova situação, terei a oportunidade de estar mais próximo dos músicos, das necessidades da orquestra, podendo criar as ferramentas necessárias para que todos se sintam parte de uma identidade artística. Nossa concentração precisa estar voltada para a criação de um belo som, de uma identidade sonora”, acredita o maestro.

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Ainda assim, ele afirma que nada muda do ponto de vista dos objetivos do projeto com a nova configuração. “Há mudanças práticas. Sim, claro. Fico responsável pela escolha de repertórios, de artistas convidados, e o estabelecimento de conexões entre diferentes partes da instituição. Poderei fazer sugestões na agenda do coro, na programação de música de câmara, com os artistas da academia. Definir quantos ensaios determinada obra vai exigir, qual o número de instrumentos de cordas no palco, como será a configuração da orquestra no palco. Tudo está conectado. Mas, como antes, minha função é compartilhar as linhas mais amplas de programação, as definições claras das necessidades da organização e articular ideias. Isso é mais importante que a estrutura.”

Na próxima temporada, Fischer vai reger um repertório amplo, dos autores do barroco até a música do século 20. Ao mesmo tempo, tem afirmado que um dos seus objetivos no que diz respeito ao repertório é o que ele chama de retorno ao básico, com busca da excelência na interpretação das obras de Haydn, Mozart e Beethoven. “Em especial depois da pandemia, preciso experimentar a orquestra em suas forças e fraquezas. Precisamos nos encontrar e reforçar o que temos de melhor e retrabalhar algumas coisas”, explicou em setembro, quando a programação foi anunciada.

O maestro diz que “a determinação não é algo negociável”. “Estamos fazendo música e não vendendo carros. Isso significa que não precisamos mostrar resultados de maneira imediata. Temos a obrigação de sermos ilógicos, de aceitar dúvidas. Isso é parte do processo criativo. O papel do diretor musical é, a partir das minhas convicções, ser capaz de espalhar um espírito criativo que aceite a dúvida, porque é isso que importa na arte”, diz o maestro. “Para que existe arte no planeta? É para iluminar e oferecer perspectivas sobre o modo como percebemos quem somos, quem não somos e quem podemos ser.”

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