O compositor Paulo Vanzolini acusou em entrevista ao crítico Luiz Carlos Merten e ao diretor Ricardo Dias que o músico Wilson Simonal "se gabava de ser dedo-duro" da ditadura. "Ele era o maior dedo duro mesmo. Não só era como se gabava de ser. "Na frente de muitos amigos dizia 'eu entreguei muita gente boa'. Vanzolini critica o documentário "Simonal - Ninguém Sabe o Duro Que Dei", lançado recentemente. "Essa recuperação que estão fazendo do Simonal é falsa. Ele era dedo-duro mesmo", completou.
Assista à entrevista de Paulo Vanzolini
Pouco antes de morrer, aos 62 anos, doente, magoado e esquecido, Wilson Simonal (1938- 2000) dizia que ainda sonhava com o reconhecimento em vida por suas qualidades artísticas, mas já era tarde demais. O que ficou mais forte na memória do público que não o viu cantar foi a controvertida imagem de delator.
O contador Raphael Viviani foi o pivô do episódio que marcou a queda vertiginosa de Simonal, um ídolo que no auge do sucesso concorria em popularidade com Roberto Carlos.
Acusado pelo cantor de tê-lo desfalcado, Viviani foi demitido e moveu uma ação trabalhista contra Simonal. O troco veio em forma de tortura, praticada, entre outros, por um segurança do cantor (como ele mesmo revelou) ligado ao Dops (Departamento de Ordem Política e Social). Processado por mais esse episódio, Simonal levou como testemunha aquele mesmo policial, Mário Borges, que o apontou como colaborador do Dops. Depois disso, o ídolo desmoronou.
A bola de neve foi aumentando à medida em que órgãos de imprensa, como "O Pasquim", aceitaram tal informação e começaram uma caça às bruxas contra o artista, que perdeu prestígio, amigos e foi perseguido pelo resto da vida.
A surra dada em Viviani rendeu ao cantor, em 1972 uma condenação a mais de 5 anos de prisão, que cumpriu em liberdade. Mas só em 2003 a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) o reabilitou simbolicamente, após uma investigação do caso, a pedido da família. Um documento da Secretaria Nacional de Direitos Humanos revelou que não havia nenhuma prova contra Simonal. Mas já era tarde demais, o cantor morrera havia três anos.
(Com O Estado de S. Paulo)