João Marcos Coelho - Especial Para o Estado
SÃO PAULO - Heitor Villa-Lobos e Lauro Machado Coelho. Estes foram os maiores vencedores da décima terceira edição do Prêmio Carlos Gomes de ópera e música clássica. A entrega aconteceu na noite de quarta, 5, na Sala São Paulo, entre árias líricas e peças orquestrais curtas - a cargo da ótima Orquestra Sinfônica de Santo André, regida pelo sempre competente Carlos Moreno - e agradecimentos dos vencedores, com direito a uma carinhosa fala inicial da soprano Niza de Castro Tank, presidente da comissão organizadora do prêmio.
Machado Coelho, crítico e colaborador do Estado, ganhou o mais cobiçado prêmio da noite, o Troféu Guarany. Objetivamente, ele venceu por causa de 17 livros essenciais que modificaram nos últimos anos nosso modo de ver a música e, sobretudo, a ópera. Divulgaram o gênero que ele tanto ama, de modo a ampliar o público e garantir o futuro da ópera. Pela Editora Perspectiva, foram 11 títulos fundamentais de história da ópera: só à Itália, berço do gênero, foram 4 (barroca, clássica, romântica e pós-1870). E o antológico Shostakovich - vida e tempo, em 2006.
Nos últimos quatro anos, publicou outros cinco livros excepcionais pela Editora Algol. Primeiro trouxe a público intensas paixões secretas, como a notável antologia de poesia soviética (2007); em 2008, o segundo segredo até então bem guardado, o mais belo, luxuoso e comovente livro de 2008, Anna, a Voz da Rússia, sobre Anna Akhmátova, com direito a CD em que ela mesma recita seus poemas.
Finalmente, em 2009, Lauro escreveu, de um só fôlego, três biografias exaustivas e ao mesmo tempo deliciosas de se ler, de três grandes compositores de sua predileção: Hector Berlioz, Franz Liszt e Anton Bruckner. Pela capacidade e disciplina no trabalho; pela abordagem ampla e culturalista da música, fazendo-a integrar-se com a sociedade; e por uma escrita cristalina e ágil, além de rigorosa pesquisa - por tudo isso, Lauro Machado Coelho é o maior vencedor desta edição do Prêmio Carlos Gomes. Recebeu o prêmio, em seu nome, sua amiga mais leal, solidária e humana: Liz Coli.
Avatar da noite. Outra premiação justíssima foi a da primeira montagem mundial de A Menina das Nuvens, ópera de Villa-Lobos que inexplicavelmente permanecia inédita, realizada pelo Palácio das Artes, em Belo Horizonte. Foi o "Avatar" da noite, pois faturou cinco categorias: melhor espetáculo de ópera (crédito a Lúcia Camargo, presidente anterior da Fundação Clóvis Salgado); melhor iluminação para Paulo Pederneiras; melhor regente de ópera para Roberto Duarte, que está montando a orquestra do Teatro São Pedro; e melhor cantora solista, para Gabriella Pace.
O quinto prêmio foi conquistado pelo melhor cenário, de Rosa Magalhães, carnavalesca carioca. É um belo exemplo de fertilização cruzada entre duas manifestações aparentemente distantes, que, no entanto, possuem afinidades.
Nas demais categorias, aflorou uma saudável nacionalização. O Quarteto de Cordas Radamés Gnatalli, do Rio, ganhou disputando com três grupos paulistas por seus concertos em 2009 com a integral dos 17 quartetos de Villa-Lobos. Previsivelmente, a Osesp venceu como melhor orquestra e André Heller levou o troféu de direção de cena em missão quase impossível: derrotou montagens plenas com um concerto cênico, no caso O Cavaleiro da Rosa, de Strauss.
Roberto Tibiriçá foi o melhor regente sinfônico por seu trabalho com a Orquestra de Heliópolis. Quanto ao barítono Rodrigo Esteves, os quase 4.000 votantes do prêmio, incluindo internautas, devem ter sido unânimes. Ele arrebentou em tudo de que participou em 2009: Alfio em Cavalleria Rusticana, Figaro em Il Barbiere di Siviglia, Faninal em O Cavaleiro da Rosa, e no CD A Canção da Terra, de Mahler.
Confira os 13 vencedores do 13.º Prêmio Carlos Gomes de Ópera e Música Erudita:
Troféu Guarany
Lauro Machado Coelho
Pelas excepcionais biografias de compositores e pela série História da Ópera
Espetáculo de Ópera
A Menina das Nuvens
Ópera de Villa-Lobos, produção do Palácio das Artes em Belo Horizonte
Cenário
Rosa Magalhães
Por A Menina das Nuvens, de Villa-Lobos, produção do Palácio das Artes em Belo Horizonte
Figurino
Olintho Malaquias
Por Les Troyens, de Berlioz, por Samson et Dalila, de Saint-Saens, ambas no Teatro Amazonas, produções do Festival de Ópera de Manaus, e por Il Barbiere di Siviglia, de Rossini, Theatro São Pedro, produção da APAA - Associação Paulista dos Amigos da Arte, São Paulo
Iluminação
Pedro Pederneiras
Por A Menina das Nuvens, produção do Palácio das Artes em Belo Horizonte
Direção de Cena
André Heller-Lopes
Por Der Rosenkavalier, de Strauss, na Sala São Paulo, produção da Fundação OSESP, São Paulo
Solista Instrumental
Turíbio Santos
Pelo trabalho de recuperação da obra de Villa-Lobos
Conjunto de Câmara
Quarteto Radamés Gnatalli
Pelos concertos com a série de 17 quartetos de Villa-Lobos e pelos concertos didáticos no Acre
Regente Sinfônico
Roberto Tibiriçá
Pelo trabalho à frente da Orquestra de Heliópolis
Orquestra Sinfônica
Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo
Pela temporada de concertos e pela ópera Der Rosenkavalier, produções da Fundação OSESP
Regente de Ópera
Roberto Duarte
Por A Menina das Nuvens, de Villa-Lobos, produção do Palácio das Artes em Belo Horizonte
Cantor Solista
Rodrigo Esteves
Por Alfio, na Cavalleria Rusticana, e por Figaro, em Il Barbiere di Siviglia, ambas no Theatro São Pedro, produções da APAA - Associação Paulista dos Amigos da Arte, São Paulo; Faninal em Der Rosenkavalier, na Sala São Paulo, produção da Fundação OSESP; pela participação no CD A Canção da Terra, de Mahler
Cantora Solista
Gabriella Pace
Por sua participação como A Menina em A Menina das Nuvens, de Villa-Lobos, produção do Palácio das Artes em Belo Horizonte