Qual o legado da BTS, a maior das boybands?

Com faturamento de US$ 3,7 bilhões anuais, grupo parou temporariamente

PUBLICIDADE

Por Mirza Shehnaz
Atualização:

Uma estimativa pré-pandemia calculou o efeito financeiro anual da boyband sul-coreana BTS em US$ 3,7 bilhões, provavelmente fazendo deles os artistas pop mais preciosos de todos os tempos. Onde quer que apareçam, os sete membros espalham ouro em roupas, cosméticos, turismo e refeições. Na primeira turnê depois da pandemia, ingressos para shows ao vivo em estádios em Seul, Los Angeles e Las Vegas se esgotaram em minutos. A banda também tem uma base de fãs de alcance e engajamento sem precedentes. Ignorar o BTS, como escreve E. Tammy Kim na New Yorker, é “arriscar perder algo maior que a Beatlemania”. 

BTS lançou 'Proof', álbum antológico em comemoração aos nove anos de carreiras. Foto: Mario Anzuoni/Reuters

A dedicação dos seguidores do BTS, geralmente conhecidos como militarys (por causa do acrônimo Army[EXÉRCITO], que significa “Adorável representante MC da juventude”), revela uma profundidade que vai além de confessar “preferências” por integrantes favoritos. Os seguidores traduzem as entrevistas, músicas e postagens de mídia social do BTS para vários idiomas e se organizam para impulsionar os números de streaming da banda. Sua devoção é “inacreditável”, escreve Kim. Igualmente notável é o seu ativismo em oposição a ações que consideram contrárias aos valores do BTS. Em 2020, um grande número de militarys registrados não compareceu a um comício que Donald Trump, então presidente dos Estados Unidos, estava realizando em Oklahoma, deixando assentos vazios que deram a impressão de que ele não tinha audiência. Então foi um choque quando o BTS lançou, no mês passado, um novo vídeo durante o qual eles anunciaram que poderiam parar de se apresentar de forma coletiva

A banda coreana BTS na Casa Branca em Washington, DC, durante visitapara discutir inclusão e representação asiática e abordar crimes de ódio e discriminação anti-asiáticos. Foto: SAUL LOEB / AFP

Reunidos em torno de uma mesa repleta de comida e vinho, os membros da banda se revezaram para lamentar a alta pressão que a banda sofre e a demanda constante por músicas novas. Um dos integrantes, RM, afirmou que “não sabia mais que tipo de grupo” eram. E acrescentou que se sentia como se estivesse “preso e não pudesse sair” – os anos como ídolo de k-pop restringiram seu progresso na vida privada. A banda afirmou que eles podem fazer uma pausa e seguir carreiras solo. O impacto foi imediato. O valor das ações da empresa da banda caiu mais de 25% e não se recuperou logo, independentemente das garantias de que a ruptura não é permanente (a iminência do serviço militar obrigatório para alguns integrantes também pode ser um fator da separação). Os militarys estão se sentindo desolados, pois o BTS tem uma imagem totalmente diferente das outras bandas de k-pop. Seus rostos e roupas são tão perfeitos quanto os de vários outros ídolos, mas eles têm uma veia confessional, admitem fragilidades e inseguranças e, além disso, enfatizam a autoconfiança.

Fãs da banda sul-coreana BTS se uniram para criar o projeto sócio-ambiental'Army Help The Planet', em homenagem ao grupo. Foto: REUTERS/Mario Anzuoni

Essa mistura, maior do que qualquer outra coisa, fortaleceu o vínculo com os seguidores mais jovens que estão lutando para forjar uma identidade para si mesmos.  Na Coreia do Sul, o grupo atraiu crianças que lidam com as pressões de um sistema escolar hipercompetitivo, perspectivas de emprego cada vez menores e expectativas sociais inflexíveis. Ainda assim, muitas famílias exigem que seus filhos contenham seus sentimentos.  No exterior, o BTS conquistou corações e mentes ao abraçar causas como o Black Lives Matter e discursar na ONU para que os jovens sejam mais protegidos da violência. Eles também ajudaram a mudar as normas machistas, pelo menos um pouco. Com sua abordagem andrógina e confessional, diz Hyeouk Chris Hahm, professor da Universidade Boston, eles “reimaginaram o homem asiático”. Com tanto capital emocional investido, não é de se admirar que seus seguidores estejam de luto.

Nini Lee, uma fã sul-coreana da boyband de K-pop BTS, chora durante uma entrevista em um café com produtos do BTS em Seul, Coreia do Sul, em 15 de junho de 2022. Foto: Kim Hong-Ji/ Reuters

Mesmo assim, Jungkook lançou uma música com o cantor Charlie Puth, J-Hope lançou seu primeiro álbum solo e V aproveitou para gravar uma nova temporada do reality show In The Soop ao lado de seus amigos.Mas enquanto os BTS descem do palco, surgem algumas contradições. Por mais consolo que eles possam oferecer diante de expectativas sociais inflexíveis, eles são o produto de um mercado que regula contratualmente as trivialidades da vida de suas estrelas, além de proibi-las de ter relacionamentos amorosos. Nem mesmo os empregadores coreanos mais agressivos exigem algo parecido. Da mesma forma, o BTS pode até ter abraçado as causas progressistas da moda no exterior, mas eles não fizeram o mesmo em seu país conservador. Esforços para introduzir diretrizes legais para proteger os indivíduos da discriminação com base em raça, nacionalidade e orientação sexual ou para aumentar os direitos dos homossexuais, que estão no coração de muitos de seus seguidores, sem dúvida teriam se beneficiado de seu apoio. 

BTS se apresenta no 64º Grammy Awards em Las Vegas, EUA. O grupo de K-pop anunciou um hiato indefinido para se concentrar nas carreiras solo dos membros. Foto: Rich Fury / AFP

E, apesar de toda a ênfase que demonstraram no autocuidado, eles fizeram pouco para incentivar o cuidado com a conduta online de seus seguidores. Os militarys às vezes fazem os piores bullying nas redes sociais. Calibrar cuidadosamente as demonstrações de vulnerabilidade e evitar causas controversas têm sido a razão de uma grande parte do sucesso do BTS. Com o tempo, talvez a separação faça suas personalidades desabrocharem. / TRADUÇÃO DE RENATO PRELORENTZOU

Disney vai produzir série com história do conjunto

Publicidade

Um mês depois de os sul-coreanos do BTS terem anunciado que farão uma pausa para iniciar projetos individuais, a Walt Disney Company informou, há duas semanas, a assinatura de um contrato para produzir material sobre eles. Como parte do acordo, a Disney+ estreia no próximo ano BTSMonuments: Beyond The Star – série que, com entrevistas e imagens de arquivo, detalhará a trajetória do grupo nos últimos nove anos, de sua origem até sua confirmação como um fenômeno global sem precedentes

Banda sul-coreana BTS no American Music Awards Foto: REUTERS/Aude Guerrucci

Além disso, a Disney também apresentará o longa BTS: Permission To Dance On Stage, sobre os quatro shows seguidos que eles fizeram no final de 2021 no SoFi Stadium, em Los Angeles, para os quais venderam mais de 214 mil ingressos – a turnê de maior bilheteria da última década. Finalmente, V, um dos membros do BTS, vai estrear um programa de viagem solo com outras estrelas de seu país, como Seo-jun Park, Woo-shik Choi, Hyung-sik Park e Peakboy. A empresa não divulgou datas de lançamento nem detalhes financeiros do acordo, que descreveu como uma colaboração “ambiciosa”, com talentos de primeira linha. Um mês atrás, os membros do BTS tiveram de negar que iriam se separar. A confusão da mensagem inicial forçou a Hybe, empresa que representa o grupo, a informar que “o BTS não está parando”.  A notícia levou a empresa a bater sua mínima histórica no mercado de ações. Muitos acreditam que os sete membros do BTS podem aproveitar esse período futuro para cumprir o serviço militar, que é obrigatório para todos os sul-coreanos aptos. Jin, o membro mais velho do grupo, deve se apresentar às fileiras em dezembro, quando completa 30 anos. (EFE)

Tudo Sobre
Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.