Racionais voltam à cena com CD duplo

Chegou hoje a algumas lojas do centro de São Paulo Nada Como Um Dia Após o Outro Dia, novo álbum dos Racionais MC?s, desde já um dos melhores do ano no gênero

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Por Agencia Estado
Atualização:

Não tô aqui pra fazer média, meu rap não pega carona na tragédia, diz o rap De Volta à Cena, dos Racionais MC?s. De fato, a matilha está à solta, depois de 5 anos de ausência. Chegou hoje a algumas lojas do centro de São Paulo Nada Como Um Dia Após o Outro Dia (Cosa Nostra Fonográfica/Distribuição Zambia), o novo álbum dos Racionais MC?s. O disco duplo tem 21 canções e só era encontrado hoje nas lojas das Grandes Galerias. As grandes redes, como Fnac e Siciliano, não receberam o material. Com preço sugerido pela própria banda, o CD duplo tem dois subtítulos. O primeiro disco é Chora Agora. O segundo é Ri Depois. Com direção musical de Zé Gonzales, da turma do Planet Hemp, o álbum mostra que a divisão não é apenas cenográfica. Chora Agora é mais lírico ? se é que se pode dizer isso da ?estrita trilha? dos Racionais. Um lirismo que começa pelas bases de canções românticas, como You?re My Love, sucessão mela-cueca dos anos 70. Ri Depois é manifesto atrás de manifesto. ?Pode crer, os caras representam a favela do começo ao fim. Mas aí, é muita treta, hein? Racionais Urbana Cena, realidade é a palavra, atitude é o meu lema?, diz a canção. O fato é que o discurso é o que menos pesa nesse novo trabalho dos Racionais, seu quinto disco em 14 anos de carreira. É uma boa experiência de fusão entre a crueza de um discurso monocromático, o do rap, e as possibilidades da inserção gradativa de outros elementos. O resenhista apressado que não ouvir o disco vai pensar que é só palavrório. Vai reproduzir frases de efeito, vai enganar meio mundo, mas não é nada disso. Em Jesus Chorou, KL Jay dissolve a voz num scratch. Fone é puro samba-rock na construção, com o balanço diluído na verborragia dos manos. Estilo Cachorro constrói o som com uma sobreposição de um som industrial, batida de forno industrial e respiração de puxada num baseado. Já a eficácia do discurso político dos Racionais é altamente questionável. Esquizofrênicos, falam de coisas que não conhecem, disparam a torto e à direita, são sexistas em algumas canções e fascistas em outras. Alternam pieguice com pregação da violência e muita confusão ideológica, como a daqueles militantes do filme Show Time, do Spike Lee que seqüestram o sapateador para linchá-lo via satélite. Musicalmente, no entanto, os Racionais estão anos-luz à frente dos seus compatriotas do rap paulistano. Seu disco é desde já um dos melhores do ano no gênero em qualquer País, qualquer prateleira de qualquer recanto do mundo ? juntamente com o novo do Wyclef Jean, Masquerade. Para quem ainda não sabe, os Racionais são Mano Brown (codinome de Pedro Paulo Soares Pereira, santista e agora também evangélico), Edy Rock (Edivaldo Pereira Alves), Ice Blue (Paulo Eduardo Salvador) e KL Jay (Kleber Geraldo Lelis Simões). Os Racionais Mc?s já têm uma carreira de 14 anos. Sua primeira gravação foi em em 1988, na coletânea Consciência Black, o primeiro disco do selo Zimbabwe. Ali, projetaram-se com os raps Pânico na Zona Sul e Tempos Difíceis. ?Quando o dia escurece, só quem é de lá sabe o que acontece?, dizia a letra de Pânico na Zona Sul. Em 1990, lançaram o primeiro elepê, Holocausto Urbano. Abriram show do Public Enemy no Ginásio do Ibirapuera e começaram a conquistar sua mística. Depois, veio Escolha o Seu Caminho, que destacou as faixas Voz Ativa e Negro Limitado. Em 1993, lançaram o terceiro disco, Raio X do Brasil. Em, novembro de 1994, foram presos após um show no Vale do Anhangabaú por ?incitação à violência?. O disco mais recente, Sobrevivendo no Inferno (1997), já os encontrou como superestrelas do cenário do rap, e houve um princípio de absorção de sua arte pela indústria. Depois de uma aparição meio fantasmagória num dos mais badalados prêmios anuais da indústria, o MTV Brasil. Houve também um disco de estrada, Racionais ao Vivo, lançado no ano passado.

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