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Em show em SP, Roger Waters é vaiado e aplaudido após citar Bolsonaro

Artista, que se apresentou nesta terça-feira, 9, usou ainda crianças brasileiras no palco como se fossem reféns do Estado Islâmico

Foto do author Julio Maria
Por Julio Maria
Atualização:

Roger Waters entrega o que promete logo no início. A tensão que ele cria com a imagem em seu telão gigante, de uma mulher sentada à beira de um oceano, é incrível. O mundo está prestes a acabar, mas isso só vai ser revelado quando ele estiver próximo de aparecer no palco.

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Num momento crítico do show, a plateia urrou, alguns vaiando, outros apoiando, quando o nome do candidato Jair Bolsonaro apareceu na lista de neofascistas do mundo no telão gigante do palco. Ele ouviu xingamentos, uma pausa ocorreu e ele pareceu ficar sem saber o que fazer. Há relatos no Twitter de que milhares de pessoas deixaram o estádio após ele exibir um sinal escrito "Fuck the Pigs" (f* os porcos).

Num intervalo anterior, uma batalha de gritos de guerra começou logo que as luzes foram acesas. "Fora PT" se revezava com "Ele não".

Roger Waters, ex-Pink Floyd, traz a turnê 'Us + Then' a São Paulo, no Allianz Parque Foto: Camila Cara

"Eu acredito em direitos humanos", disse Waters no palco. "Sempre menciono meus irmãos e irmãs na Palestina que não têm direitos humanos agora. Eu acredito que eles são fundamentalmente importantes."

Em seguida, ele mencionou a eleição brasileira. "Em algum ponto vocês vão ter que decidir quem querer ver como presidente. Eu sei que não é da minha conta, mas quero dizer que em geral sou contra o ressurgimento do fascismo no mundo inteiro", continuou, para aplausos e vaias. "E com fé nos direitos humanos, o que inclui o direito de protestar pacificamente, eu preferiria não viver sob o governo de alguém que acredita que a ditadura militar é uma coisa boa. Eu me lembro dos dias ruins na América do Sul, com as ditaduras, e era feio", concluiu, antes de prosseguir com o show.

Waters é envolvido com a política do mundo. Em sua última turnê, usou como pôde a imagem do jovem Jean Charles, morto pela polícia londrina por engano em 2005 em um vagão de metrô. É também um ativista pelos pedidos de boicote cultural a Israel por discordar de sua política com os palestinos. Já escreveu cartas a Caetano e Gilberto Gil para que eles não fizessem suas apresentações pelas terras de Benjamin Netanyahu.

Ele também já falou várias vezes que as Ilhas Malvinas deveriam ser argentinas, e que não se orgulha do passado imperial e colonialista do Reino Unido.

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O show

Breathe levanta as plateias lotadas, com mais uma revelação. No andar de cima das arquibancadas, em cada lateral e ao fundo, Waters usa conjuntos de caixas de som que vão criar o efeito surround. 

Time é anunciada com o despertador de um relógio, e o som da plateia fica mais forte que o do palco. O rosto de Waters aparece pela primeira vez no telão e pode se perceber como os anos têm passado. Está mais curvado. Os cabelos longos e mais finos, os olhos mais fundos. A força de sua voz provoca o mesmo efeito.

Welcome to the Machine chega tensa e estrondosa. Waters está no centro do palco como um integrante, sem o mesmo protagonismo cênico de suas turnês anteriores. Sua imagem não é a que mais aparece no telão, o que dificulta a vida dos fãs mais distantes do palco. 

Roger Watersexibe lista de neofascistas no seu show em São Paulo e cita Jair Bolsonaro, candidato à presidência pelo partido PSL, ao lado de Donald Trump (EUA), Vladimir Putin (RUS), entre outros Foto: Robson Morelli / Estadão

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De tão boas, as músicas do disco novo parecem saídas de algum álbum do Pink Floyd. Deja Vu, a primeira delas, faz até setores da plateia vip, tradicionalmente a mais dispersa, se calar. Um feito.

Depois de Picture That, Wish You Were Here. E a plateia canta pela primeira vez uma canção inteira.

Another Brick in the Wall começa com 12 pessoas encapuçadas como se fossem reféns do Estado Islâmico, imóveis no palco, prestes a serem decapitadas. Quando chega a parte do coro, elas retiram os capuzes. São todas crianças. Há um choque absurdo na plateia. Ao final da música, Waters explica que todas as crianças são brasileiras. 

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Waters volta ao palco do Allianz Parque, em São Paulo, nesta quarta-feira, 10. Depois ele segue para Brasília (13/10), Salvador (17/10), Belo Horizonte (21/10), Rio (24/10), Curitiba (27/10) e Porto Alegre (30/10).

Roger Waters, ex-Pink Floyd, traz a turnê 'Us + Then' a São Paulo, no Allianz Parque Foto: Camila Cara
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