Shows musicais invadem salas de cinema

A dupla eletrônica Chemical Brothers é a próxima a seguir tendência que começou há cinco anos

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Por Pedro Antunes e Felipe Branco Cruz - Jornal da Tarde
Atualização:

Já no palco da Lanxess Arena, em Colônia, na Alemanha, o quarteto do Red Hot Chili Peppers parecia nervoso. Não só os fãs presentes ali, mas o mundo inteiro estava assistindo à execução das músicas do então disco recém-lançado, I’m With You. É que naquele dia, 30 de agosto do ano passado, salas de cinema ao redor do planeta - 39 no total - exibiram ao vivo a apresentação da banda californiana.

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No Brasil, o designer digital Altair Pereira, de 28 anos, sentava no cinema ansioso por aquilo. A maratona de shows da sua banda favorita começaria de forma diferente. Ao invés de estar espremido na grade para ver de pertinho Anthony Kiedis, Flea, Chad Smith e o novo guitarrista Josh Klinghoffer, ele estava sentado confortavelmente na poltrona do cinema, no shopping Santa Cruz. “É uma alternativa ótima entre ver o DVD sozinho, em casa, e assistir ao show ao vivo”, diz Altair, que mantém um fã-clube e um site da banda.

O convidativo escurinho do cinema tem sido, aos poucos, invadido pelos barulhentos shows, numa tendência iniciada há cinco anos. Na sexta-feira e no sábado, mais uma experiência como esta - de misturar a sensação de se estar num show com a de assistir a um bom filme numa tela grande - se repete com a projeção da apresentação da dupla eletrônica Chemical Brothers, gravada no Fuji Rock Festival, no Japão, no ano passado.

O filme Don’t Think, do Chemical, chega para completar uma lista já integrada por Foo Fighters, Kylie Minogue, U2, Iron Maiden, Rolling Stones e o já citado Red Hot Chili Peppers. Além desses nomes mais populares, há nichos que começaram a ganhar valor, com apresentações do Ballet Bolshoi e do Metropolitan Opera House, de Nova York. A rede de cinemas UCI, responsável pelos shows do Chemical Brothers e Rolling Stones, em cartaz no ano passado, também levou para as telonas Hatsune Miku e L’Arc-en-Ciel. Nomes que para você podem não dizer muito, mas os shows desses artistas japoneses lotaram as salas quando foram exibidos. “É uma grande vantagem ir ao cinema e assistir a algo que está acontecendo do outro lado do mundo”, explica Monica Portela, diretora de marketing da rede de cinemas.

O documentarista e diretor de TV Adam Smith, responsável pelo filme protagonizado por Tom Rowlands e Ed Simons, do Chemical Brothers, vê o cinema como uma ótima forma de representar o que foi o show para aqueles que não estiveram lá, ao vivo. O som com tecnologia 7.1 e as imagens rápidas na telona ajudam a criar uma espécie de hipnose entre os espectadores.

A assistente de produção Karina Diaz, de 27 anos, é representante do Foo Fighters no Brasil, mas nunca os viu ao vivo. A ida ao cinema, no ano passado, para ver o documentário Back And Forth, seguido por uma apresentação em 3D de todas as músicas do disco Wasting Light (2011), foi o mais próximo que chegou de Dave Grohl e companhia. “Era em 3D, então, passava a impressão que dava para pegar nele”, brinca. Mas nada que se compare a ver a banda ao vivo. Karina diz, orgulhosa, que o ingresso para o Lollapalooza, em abril, no qual o Foo Fighters é atração principal, já está garantido.

Para Fábio Lima, da empresa Movie Mobz, que distribui filmes de forma digital no País, a projeção de shows nos cinemas é consequência da digitalização das salas no Brasil. “O exibidor pode colocar na programação vários filmes em uma mesma sala e, no horário de pouco movimento, passar shows”, diz. O problema é que no Brasil ainda apenas 20% das salas possui tal tecnologia. Enquanto em outros países, como na Europa e nos Estados Unidos, a média é de 60%. A aposta de Lima para o aumento desse segmento é o exibidor com pouco número de salas. “No caso dele, o digital deixa o negócio mais dinâmico. Aumenta-se a oferta, sem deixar a programação prejudicada.”

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A força desse mercado em expansão é pouquíssimo explorada. O cinema conseguiu R$ 69 milhões em publicidade no ano passado, segundo estudos do Filme B. Mas esse número só representa 0,3% de toda a renda usada em outras áreas, como TV (aberta e fechada), rádio, internet e jornais.

De olho nessa oportunidade, o mercado fonográfico começa a se mexer. A empresa Hungry Man Projects, em parceria com a gravadora Sony Music, exibe o novo clipe da cantora Mallu Magalhães, da música Velha e Louca, antes do filme As Aventuras de Tintim. A ação acontece em dez salas no Brasil. “O cinema é uma alternativa às televisões. Queríamos fugir delas”, diz Armando Ruivo, sócio da empresa. E agora, com vocês, sua banda preferida. No cinema mais próximo.

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