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'Sou testemunha da história', diz Jon Bon Jovi sobre seu novo disco '2020'

Cantor fala sobre o seu álbum de maior consciência social até este momento, com canções que fazem referência à covid-19, à morte de George Floyd, ao tiroteio em Daytona em 2019, ao estresse pós-traumático dos militares e muito mais

Por John Carucci
Atualização:
Jon Bon Jovi durante show em Los Angeles. Foto: REUTERS/Mario Anzuoni

NOVA YORK - Jon Bon Jovi produziu canções de amor e hinos para estádios durante quase 40 anos, mas o seu mais recente lançamento, 2020, leva a sua música a um novo nível.

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É o seu álbum de maior consciência social até este momento. Bon Jovi o classifica com “um momento no tempo”, com canções que fazem referência à covid-19, à morte de George Floyd, ao tiroteio em Daytona em 2019, ao estresse pós-traumático dos militares e outros temas que preocupam o roqueiros de 58 anos.

Mas abordar temas polêmicos pode provocar divisões, principalmente quando o autor tem fãs de ambos os lados do espectro político. Bon Jovi afirma que não é esta a sua intenção. “Sou uma testemunha de história, e se assumi esta postura ao longo desse projeto, não pensei que seria política. Pensei que seria um comentário social”, acrescentou. Além do que, “em nenhum momento disse esquerda, direita, vermelho, azul, preto ou branco”.

O lançamento do álbum, previsto originalmente para a primavera boreal, foi adiado em razão da pandemia, e uma turnê foi cancelada. Isto deu ao músico mais tempo para refletir sobre o mundo e acrescentar Do What You Can, uma homenagem aos que lutam contra a covid-19, e American Reckoning, uma resposta emocional depois de ouvir Floyd invocando a mãe enquanto um policial o dominava pressionando sua nuca com um joelho. “Os meus olhos se encheram de lágrimas e não resisti, fui ao meu quarto e escrevi uma canção”, contou.

Os ganhos com o single se destinam a apoiar a Equal Justice Initiative. Bon Jovi expressou o seu ponto de vista a respeito deste momento turbulento da história em uma entrevista com The Associated Press. Também falou sobre a rara atuação recente de sua banda em Nashville, Tennessee, se pretende sair em turnê como outros músicos experientes com Bruce Springsteen e Mick Jagger, e por que tem esperança na próxima geração.

Durante a pandemia, muitas coisas se tornaram evidentes. Onde encontrou esperança?

Bon Jovi : Tenho um filho que se formou no curso secundário este ano; agora cursa o primeiro ano de universidade e não tem nenhuma das experiências que outros jovens talvez tiveram. Mas à parte isto, acredito profundamente que estes meninos que nasceram depois de 11 de setembro e se formaram durante a pandemia serão os inovadores, os criadores, os que irão arrumar o desastre que os velhos como eu deixamos. E acredito que, se há alguém a quem menos importa a cor da pele ou a orientação sexual, é a eles.

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Teve alguma preocupação ao escrever sobre George Floyd em 'American Reckoning'?

Embora tenhamos a fundação e eu tenha construído habitações acessíveis por 15 anos de Newark a Camden, a Filadélfia, Georgia e Los Angeles, não pretendo saber o que é estar na sua pele. De modo que fiz questão de escrever isto. Se existe algo como o privilégio branco, obviamente eu me encaixo neste perfil: um homem branco, adulto e rico que, além disso, é uma celebridade. Nunca me vi na necessidade de fazer uma “plástica”. Por isso fiz questão de mostrá-lo. Precisava ter a certeza de que tudo isto estivesse corretamente expresso.

Teve de cancelar a sua turnê, mas recentemente pôde tocar no Festival de Música iHeartRadio, sem público. Como foi?

Honestamente, disse: “Claro que sim, sou um profissional tarimbado. Olharei para a câmera, sorrirei quando nos derem o sinal, será genial. Não se preocupe, baby, estamos preparados”. Vi a apresentação e, sim, dei todas as notas corretas, mas me dou conta de que falta algo - o genuíno, esse suor, este sorriso e este brilho nos olhos - porque estava representando para a câmera. Foi solitário.

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O que o mantém com garra para continuar evoluindo como criador e como intérprete?

Minhas aspirações, mesmo aos 25 anos, não era como ter 50 e interpretar como quem tem 25. Não desejava fazer isto naquela época, tampouco agora. Posso sentar-me diante de você com meus cabelos brancos e dizer (palavrão), este sou eu. Tenho 58 anos; te asseguro que alguém dirá: "Que lixo, não soa como Livin’ on a Prayer”. Isto foi naquela época e que Deus abençoe esse momento no tempo. Mas não quero ser este tipo: naquela época eu era uma criança. Não é isso que quero ser agora. Não é justo nem para mim nem para o processo. Bruce (Springsteen) sairá em turnê e tem 72 anos. (Mick) Jagger está lá fora aos 110 (ri). De modo que o mundo mudou.

Você se vê saindo em turnê quando estiver na terceira idade. 

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Para ser honesto, Não. Espero o dia em que Mick Jagger finalmente disser que agora já chega por um único motivo: simplesmente saber qual será o limite.

TRADUÇÃO DE ANNA CAPOVILLA

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