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Zé Renato mostra todo seu lado romântico no novo álbum, ‘Quando a Noite Vem’

Ao violão, o ganhador do Grammy Latino interpretar clássicos nacionais e internacionais dos anos 1950 e 60 e conta com direção de Patrícia Pillar; confira vídeos

Por Danilo Casaletti

Quando o cantor Zé Renato entrou em estúdio para gravar Arrivederci, Roma, composição de Allessandro Giovannini, Pietro Garinei e Renato Ranucci, que faz parte da trilha sonora do filme homônimo de Roy Rowland, ele imaginou João Gilberto cantando essa canção.

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Ao gravar Bom Dia, Tristeza, parceria bissexta entre Adoniran Barbosa e Vinicius de Moraes, Zé também imaginou a voz do amigo Jards Macalé cantando e tocando esse que é um dos sambas-canções mais tristes da música brasileira. Na verdade, João Gilberto jamais gravou Arrivederci, Roma. Macalé tampouco, até hoje, registrou Bom Dia, Tristeza.

Arrivederci, Roma e Bom Dia, Tristeza são duas das nove canções - todas regravações - que estão no mais novo álbum de Zé Renato, Quando a Noite Vem, o 18.º solo de sua carreira, recém-lançado nas plataformas digitais pela gravadora Biscoito Fino.


O cantor e compositor Zé Renato, que lança o disco Quando a Noite Vem Foto: Miro


Imaginar versões que jamais existiram é um artifício que auxilia Zé a buscar inspirações e referências para aproximar essas canções do seu universo musical e interpretativo. O cantor já deu sua cara - sempre com maestria - ao abordar, em trabalhos anteriores, o repertório de nomes como Paulinho da Viola, Noel Rosa, Zé Ketti e Chico Buarque.

“A minha linha de interpretação sempre foi por esse caminho: o da imersão. Trazer essas músicas para a minha história. E essas inspirações, por mais malucas que sejam, me ajudam”, diz Zé ao Estadão.

Violão

Outro aliado: o violão - que Zé toca em 8 das 9 faixas. “É ele que me dá o caminho das interpretações. A forma de tocar a música no violão me conduz”, conta. Pensando no instrumento, fica fácil entender as referências fictícias que Zé foi buscar.



Assim como as duas canções já citadas, o restante do repertório do álbum Quando a Noite Vem é igualmente dedicado ao romantismo, tema que seria vasto, tanto na música brasileira quanto na internacional.

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A solução que Zé e a produtora e diretora Patrícia Pillar, que assina a direção artística do disco, encontraram foi seguir a memória afetiva do cantor. Outro ponto de corte para o intérprete é o fato de ele poder trabalhar com as melodias e as harmonias, seu interesse primordial dentro da música.

Tocando violão, viu que o bolero Esta Tarde Vi Llover, do mexicano Armando Manzanero, atendia ao anseio harmônico. Zé confiou o arranjo da faixa ao músico Dori Caymmi, que também toca violão na faixa, além de ter escrito os arranjos de cordas executados pela Orquestra São Petersburgo.

Escolha pessoal do cantor, Nenhuma Dor, parceria de Caetano Veloso e Torquato Neto, encerra o álbum. A canção está no primeiro disco de Caetano e Gal Costa, Domingo, de 1965. “É um álbum de cabeceira para mim”, conta Zé.



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Do norte guiado pela afetividade surgiram, então, músicas como Suave é a Noite, que Zé conheceu na voz de Moacyr Franco, em gravação com orquestral grandioso. A versão de Nazareno de Brito para a original Tender is The Night, de Sammy Fain e Paul Francis Webster, ganhou arranjo de samba-canção de Jaques Morelenbaum.

Tanto essa quanto I Can’t Stop Loving You, sucesso do cantor norte-americano Ray Charles dos anos 1960, cantada no original em inglês, mostram Zé como uma espécie de crooner, seguro pelo instrumental que tem em sua base os músicos Cristóvão Bastos (piano), Jorge Helder (baixo) e Marcelo Costa (bateria).

A minha linha de interpretação sempre foi por esse caminho: o da imersão. Trazer essas músicas para a minha história. E essas inspirações, por mais malucas que sejam, me ajudam

Zé Renato

No processo de entender o que cada canção demandava, Zé teve o auxílio de Patrícia, que lhe trouxe o olhar voltado ao texto por trás de cada uma das faixas. “Eu lido com a música de forma livre, aberta. Gosto de usufruir ao máximo, sempre com esse espírito de aprendiz”, diz o cantor, que já soma mais de 40 anos de carreira.

O ouvido atento fez Zé, por exemplo, vislumbrar um fado em Encantado, versão de Vinicius de Moraes para Nature Boy, sucesso de Nat King Cole. A guitarra portuguesa, tocada pelo músico Bernardo Couto, assim como a voz de Zé, foram gravadas em Lisboa.

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Voz feminina no projeto, a cantora Céu divide os vocais com Zé Renato no xote O Seu Olhar Não Mente, de Nanado Alves e Ilmar Cavalcanti, música dos anos 2000, exceção do repertório que privilegia músicas das décadas de 1950 e 1960.



Quando a Noite Vem é um disco enxuto. São apenas nove canções. Um pouco maior do que o que atualmente é denominado um EP. Zé diz que outras canções chegaram a ser cogitadas para o álbum, mas ele e Patrícia entenderam que as nove alcançaram o que eles pretendiam.

No material distribuído à imprensa, porém, consta mais uma música, que acabou por ficar de fora do lançamento. Trata-se de Alto Falante, parceria de Moraes Moreira com Fausto Nilo, lançada pelo primeiro em 1978. Zé gravou à capela. A letra vai ao encontro da ideia do trabalho. “Eu tenho no coração uma voz de cristal/De um alguém para outro alguém/Com amor e com carinho”, diz.

Outra particularidade do álbum é que, em sua primeira ideia, seria um disco com canções que fizeram parte de trilhas sonoras de filmes. Desse primeiro esboço, a única música que permaneceu foi Arrivederci, Roma. Zé não descarta a possibilidade de retomar o projeto futuramente.

Grammy

O álbum Quando a Noite Vem é o primeiro de Zé após ele levar um Grammy Latino de Melhor Álbum de Pop Latino, conquistado pelo disco Pasieros, colaboração do grupo Boca Livre, do qual ele fez parte - o quarteto, por ora, está parado por divergências de opinião -, com o artista panamenho Rubén Blades.

“É uma premiação do vocal brasileiro, que é uma tradição na música brasileira”, diz o cantor. E uma vitória também da melodia e da harmonia, base do canto de Zé Renato.


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