O ano das curvas

Primeira década do século 21 termina com as mulheres em alta no mundo fashion: a beleza e as formas femininas foram valorizadas

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Por Lilian Pacce
Atualização:

Na moda, a primeira década do século 21 termina com as mulheres em alta. 2010 foi o ano em que a beleza e as curvas da mulher foram valorizadas pelas principais grifes do mundo, na passarela e nas campanhas de publicidade. Tops veteranas ressurgiram, como Veruschka e Kristen McMenamy, que virou a modelo mais requisitada nos editoriais de moda das revistas internacionais. Aqui nossa Shirley Mallmann fez sua rentrée também, sem falar em Adriana Lima e Alessandra Ambrosio que pareceram tão frescas quanto uma new face - e foram além da imagem de sex symbol de uma angel da Victoria"s Secret.Não, não esqueci de Gisele Bündchen, não. Nossa top teve filho, disse que ia pôr o pé no breque mas... que nada! A carreira de Gisele continuou a mil. Embora prefira ficar longe dos desfiles, até para as passarelas ela voltou, na coleção primavera-verão 2011 da Balenciaga e fez campanhas bem fashion, como a dos 40 anos da marca Roberto Cavalli. Modelos tamanho GG (chamadas plus size) saíram de um nicho mais comercial e viraram tops de castings e revistas consideradas "fashion" ou conceituais. Tudo começou com Lara Stone e ganhou corpo, literalmente, com Crystal Renn e Tara Lynn. Claro que esta estética do mulherão tem a ver também com um estilo. No caso, a feminilidade dos anos 50 e o New Look criado na época por Christian Dior: cintura marcada, saião, peito farto. Os grandes arautos desta onda foram Marc Jacobs (especialmente na coleção outono-inverno 2010/11 da Vuitton) e Miuccia Prada, num clima retrô que trouxe até os óculos gatinho de volta. No desfile da Chanel, em outubro, Karl Lagerfeld escolheu três modelos para representar três gerações: Inès de la Fressange (anos 80), Stella Tennant (anos 90) e Freja Beha (anos 00, especialmente este 10). Se a moda idealizou esta mulher, a música confirmou o maior ícone de estilo do ano: Lady Gaga. Eu, você, seu sobrinho e sua avó - todos cantamos Bad Romance e Alejandro (no clipe, o modelo brasileiro Evandro Soldati em si). Mais do que isso: vibramos com cada look estrategicamente pensado por ela e seu stylist Nicolas Formichetti (que assume a direção criativa da Thierry Mugler em 2011). Nada escapou dos comentários: do vestido de carne crua usado por ela no VMA aos sapatos Armadillo, criação meio ET do finalzinho da vida de Alexander McQueen. O estilista inglês, aliás, chocou o mundo da moda com seu suicídio em fevereiro. Aos 40 anos, McQueen era um dos nomes mais criativos da cena internacional e fazia de seus desfiles em Paris grandes shows, sempre com uma proposta inovadora e de alta qualidade. Para substituí-lo, o grupo PPR escolheu Sarah Burton, sua assistente por mais de uma década.Mas o estilo feminino dos anos 50, que também foi revivido no musical Nine em alusão à Cinecittà e Federico Fellini, não colou muito na vida real. Por aqui foi especialmente bombardeado pelo militarismo chic que veio como tendência forte - muito antes do fatídico episódio do Complexo do Alemão, no Rio, que transformou a ação contra os traficantes num surpreendente reality show, logo apelidado de Tropa de Elite 3.Surfando. Outra onda que pegou foi o surfe urbano, mesclando neoprene, alfaiataria e cores fluo no dia-a-dia. O fast-fashion ficou mais forte tanto aqui no Brasil, com novas parcerias com estilistas e celebridades, como lá fora - a coleção de Alber Elbaz, da Lanvin, para H&M teve uma repercussão fenomenal. Mas o que mais fascinou o mundo da moda foi a interatividade das redes sociais, especialmente via twitter e facebook, e o uso da tecnologia 3-D em filmes, catálogos, revistas e até em desfiles, como o do outono-inverno 2010/11 da Burberry, transmitido em 3-D ao vivo em cinemas de várias cidades enquanto o real rolava na semana de moda de Londres. Já na coleção primavera-verão 2011, em Paris, Jean Paul Gaultier convidava a plateia a usar os óculos adequados para apreciar melhor o cenário e as estampas em 3-D.A moda está mesmo se vendo com outros olhos. De um lado, a ideia do mulherão feminino, bem anos 50. Do outro, a androginia levada ao extremo. O mundo viu a transexual brasileira Lea T, filha do ex-jogador de futebol Toninho Cerezzo, se tornar musa do estilista Riccardo Tisci na Givenchy. Elegante e delicada, Lea virou assunto da Vogue francesa e deu entrevista para o programa de Oprah Winfrey, abrindo caminho para a estética "menino ou menina?" que já tem o sérvio Andrej Pejic entre os queridinhos. E por falar em Vogue francesa, depois de comemorar com grande baile de máscaras seus 90 anos no mercado, a publicação encerra um ciclo de uma década: sua editora Carine Roitfeld sai da revista após uma gestão ultrahip que inspirou e provocou os fashionistas. Novos tempos vêm aí!

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