Frank Sinatra teve dois encontros com homens notáveis em 1967, ambos compositores e maestros, seu conterrâneo Duke Ellington e o brasileiro Antonio Carlos Jobim. Com o primeiro gravou oito músicas e um disco aquém do que poderia render um encontro de titãs (Francis A. Sinatra & Edward K. Ellington). A parceria com o brasileiro (o disco Francis Albert Sinatra & Antonio Carlos Jobim) rendeu mais. Embora atrasado em cinco anos para a festa da bossa nova, que havia começado em 1962 nos EUA com o histórico concerto no Carnegie Hall, Sinatra recuperou o tempo perdido e gravou um disco antológico com sete músicas de Jobim e três de autores americanos. O LP teve boa repercussão crítica e vendas respeitáveis.
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Dois anos depois, sempre disposto a ganhar dinheiro, Sinatra convocou novamente seu parceiro brasileiro para mais um encontro, dessa vez menos histórico. Tanto que, das dez faixas gravadas, sete esperaram dois anos pelo lançamento - ainda assim numa compilação (Sinatra and Company, 1971). Três delas ficaram acumulando pó por 40 anos. Agora, o registro das sessões completas dos dois encontros, entre 1967 e 1969, chega ao mercado no CD Sinatra/Jobim: The Complete Reprise Recordings, reunião das 20 músicas gravadas para o selo - com resultado irregular, mas ainda assim adorável.
A diferença fundamental entre a primeira gravação (de 1967) e a segunda (1969) é a voz de Sinatra, não muito à vontade na última. A outra diz respeito aos arranjos. No primeiro disco estava o alemão Claus Ogerman, que, a exemplo do maestro americano Gary McFarland (leia texto abaixo) ajudou a colocar roupa de gala na bossa nova, incorporando ao gênero seus conhecimentos eruditos. No segundo, Eumir Deodato carrega na orquestração e o resultado é menos sutil. Para piorar, Sinatra parece constrangido em cantar as pobres versões para o inglês (Jobim não teve sorte com seus letristas americanos) e fazer um dueto "homoerótico" com Jobim, em que o compositor brinca maliciosamente com o machismo de Sinatra ao cantar a última estrofe de Desafinado (...and all that matters is the message that I bring, which is: my dear one, I love you/ e o que importa é a mensagem que eu trago: meu querido, eu te amo).
O músico Paulo Jobim, filho do compositor, tinha 19 anos quando seu pai gravou as dez últimas faixas (ver lista ao lado). Lembra que as gravações foram feitas sob rigoroso inverno, segundo informou seu pai em carta. Nela, Tom queixa-se de uma inesperada tempestade de neve e da solidão na mansão de Sinatra, que raramente estava lá, ocupado em jogar e cantar nos cassinos de Las Vegas. Jobim aproveitava o tempo para ver astronautas na TV e ler a biografia de Rachmaninoff. Nos intervalos, corria para o estúdio quando Sinatra, entre uma briga e outra com Mia Farrow, decidia gravar - sem ensaiar - clássicos de Jobim como Wave e Samba de uma Nota Só. Sinatra fez um esforço louvável para baixar o tom. A respeito do primeiro disco, disse que nunca cantou tão suavemente desde que tivera uma laringite. "Ouvi apenas algumas faixas na internet, então não posso avaliar o disco como um todo", diz Paulo Jobim, que assistiu ao registro do encontro com Sinatra num DVD.
Certo é que, comparando as gravações de 1967 e as de 1969, as primeiras foram melhores. Dindi (no primeiro) é a prova suprema da delicadeza dos arranjos de Ogerman, que destaca os violinos, eclipsando os sopros. Sinatra não repetiria a suavidade de Dindi, ficando insatisfeito com sua voz em algumas faixas do segundo disco, o que talvez explique o ineditismo de três registros por 40 anos (Wave, Bonita e Sabiá). Até os deuses erram.
10 CANÇÕES A MAIS
Sabiá
de Tom e Chico Buarque
Água de Beber
de Tom e Vinicius de Moraes
Se Todos Fossem Iguais a Você
de Tom e Vinicius
Triste
de Tom Jobim
Estrada Branca
de Tom e Vincius de Moraes
Samba de uma Nota Só
de Tom e Newton Mendonça
Por Causa de Você
de Tom e Dolores Duran
Wave
de Tom Jobim
Desafinado
de Tom Jobim
Bonita
com Gene Lees e Ray Gilbert