"Os Lusíadas" estréia pela segunda vez

Ruth Escobar concedeu nesta terça-feira entrevista coletiva para falar da nova versão. Aparentemente à vontade, esquivou-se das principais polêmicas que envolvem a produção

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Por Agencia Estado
Atualização:

Envolvida em polêmicas, a nova montagem de Os Lusíadas, adaptação para os palcos do clássico de Luiz de Camões, estréia sexta-feira em São Paulo, no Espaço Multicultural Estação das Artes, totalmente renovada. Da primeira versão, que esteve em cartaz na capital paulista a partir de março deste ano apenas foram mantidos a produtora Ruth Escobar, o local, e parte do elenco de apoio. A peça tem direção geral de Marcio Aurelio, direção artística de Daniela Thomaz, e no papel principal o ator Eduardo Conde. O texto do escritor português foi novamente revisto, desta vez por Valderez Cardoso Gomes, que procurou enfocar, menos os aspectos históricos, mais os arquétipos da obra secular. A Estação das Artes, por sua vez, ganhou estrutura de palco italiano e ampliou sua capacidade de público. Ruth Escobar concedeu nesta terça-feira entrevista coletiva para falar da nova versão. Aparentemente à vontade, a empresária disse que não há ligação entre a primeira montagem, dirigida por Iacov Hillel, e a de Marcio Aurelio. Esquivando-se das principais polêmicas que envolvem a produção - como a cobrança de 6% da arrecadação de bilheteria que pleiteia Hillel - Ruth preferiu apostar no potencial polêmico desse novo espetáculo. "Essa peça vai abalar as estruturas do teatro português", afirmou, referindo-se à temporada portuguesa de Os Lusíadas, que tem início em 17 de janeiro de 2002, na cidade do Porto. Segundo dados, aleatoriamente divulgados pela empresária, foram investidos mais de R$ 750 mil na segunda leva, cerca de R$ 1 milhão a menos do que na montagem do primeiro semestre. Conforme a equipe de Os Lusíadas, o jovem é o público alvo da peça. Na temporada inicial, 57 mil estudantes dos ensinos fundamental e médio, das redes pública e particular, assistiram ao espetáculo, devido a um acordo com a Secretaria Estadual de Educação. O arranjo será mantido nessa nova etapa. "Dependendo da demanda, podemos inclusive abdicar da apresentação aos domingos à noite para poder exibir a peça também nas terças", ressaltou Ruth, destacando que as quartas e quintas-feiras já foram reservadas para os estudantes. A empresária preferiu não revelar qual o público total que prestigiou o espetáculo até agora. Os figurinos e cenários da montagem de Hillel, inclusive a Caravela símbolo, estão com Ruth, que pensa em emprestar as roupas para grupos amadores e doar a Caravela para o Sesc. As negociações para que a embarcação seja exposta no unidade Interlagos estão adiantadas. Problemas à parte - A equipe de Os Lusíadas apresenta, a partir de sexta, uma versão futurista do clássico da língua portuguesa. Os figurinos e cenários, criados por Daniela Thomas em parceria com André Cortez e Marco Nasci, não remetem ao período histórico das grandes navegações. A roupa dos viajantes lembra as vestes de um astronauta. Segundo Daniela, elas foram inspiradas na figura mítica dos Argonautas. Remetem aos viajantes de toda sorte, ao homem que faz de sua vida uma busca pelo desconhecido. O cenário segue a mesma lógica. Trata-se de uma grande estrutura móvel de ferro, com diversos ambientes, que em determinado momento do espetáculo era se mover, simulando o movimento lateral de uma nau. "Queremos que o jovem reflita sobre o medo do desafio, sobre a mudança, sentimentos que marcaram a vida daqueles homens do século 16", explica a diretora de arte. O trabalho de Daniela traduz em imagens as idéias de Marcio Aurelio, que não pensou uma narrativa épica para Os Lusíadas. "Antes de mais nada, é uma narrativa lírica", afirma. Inspirado pela tradição oral, e com o objetivo de contar a história do périplo de Vasco da Gama valorizando seus principais arquétipos, o diretor trabalhou com um elenco de 42 atores, divididos em dois núcleos: os aventureiros e os deuses. Conforme Marcio Aurelio é o embate entre o mundano e o sagrado que caracteriza o lirismo do texto de Camões. "Os Lusíadas é uma obra sobre um rito de passagem. Reflete um período, como o atual, em que o mundo assistia à inúmeras mudanças, onde tudo ocorre no porvir, no devir, e é isso que destacamos no espetáculo", defende. Os Lusíadas - Quartas, quintas e sextas-feiras às 20h30, sábados às 21h e domingos às 19h, na Sala Estação das Artes do Complexo Júlio Prestes (Praça Júlio Prestes, s/nº, Centro); De R$ 30 a R$ 40; Informações: 33612379

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