Rodrigo FonsecaA convite da revista Metrópolis, um dos maiores fóruns cinéfilos da imprensa portuguesa, o P de Pop esboçou essa triagem do que virá pela frente em termos de cinema brasileiro. Confira: Em menos de um mês, o primeiro longa-metragem brasileiro de tônus comercial lançado em 2018, Fala Sério, Mãe!, centrado no carisma de nossa comediante nº1 (Ingrid Guimarães), contabilizou cerca de 2 milhões de ingressos vendidos, dando à neochanchada verde e amarela um sopro de vitalidade que havia desaparecido no vento no ano passado. Agora em fevereiro, Os Farofeiros, com Paulinho Gogó, vem com fome de milhões, para agitar a cena da exibição no Brasil, que fechou 2017 com a marca de 157 filmes produzidos de janeiro a dezembro, mas com uma média anual de público pagante irrisória. A escassez de espectadores que tornou invisíveis produções de prestígio como Joaquim (nosso concorrente ao Urso de Ouro) ou o espinhoso Éden jogou por terra nossos projetos de autossustentabilidade como atividade comercial. O estrago se fez na seara autoral de pesquisa estético e no planalto dos filmes voltados para o entretenimento. Mesmo um projeto destinado à polêmica como Polícia Federal - A Lei É Para Todos, sobre o escândalo da corrupção em torno de Lula, fez menos receita do que se esperava, suando a camisa para arranhar a casa de 1 milhão e meio de espectadores. Por isso, este ano, títulos como Os Farofeiros, Crô em Família e Não Se Aceitam Devoluções estão sendo esperados como água fresca para regar os campos secos da troca entre cineastas e plateias. E é anacrônico que isso aconteça em tempos nos quais festivais como Sundance, Roterdã e Berlim estão lotados de longas e curtas de sangue brasileiro nas veias, sendo Benzinho, de Gustavo Pizzi - sobre uma jovem mãe de família (Karine Teles) às voltas com a viagem do filho pro exterior - o mais esperado de todos. Pizzi e Karina arrebataram elogios na Europa e nos EUA.
Há uma movimentação para este em torno de filmes ligados ao Impeachment de Dilma Rousseff, com uma série de documentaristas buscando múltiplas visões sobre o episódio. O primeiro deles é O Processo, de Maria Augusta Ramos, que está no Festival de Berlim. Estima-se também que se continue o investimento em filmes de gênero, sobretudo o terror, com a estreia de As Boas Maneiras, trama LGBT sobre lobisomem que ganhou o Prêmio do Júri em Locarno, e de Motorrad, um thriller sombrio em duas rodas. Mormaço, de Marina Meliande, que brilhou em Roterdã, vai nessa linha, com um corpo feminino em metamorfose.
Mas de todos os longas brasileiros de 2018, nenhum desperta mais curiosidade do que O Grande Circo Místico, de Carlos Diegues, com a revisão crítica e fabular dos cem anos de lona aberta de um picadeiro. O complemento definitivo de nosso cardápio .18 vem do Rio Grande do Sul: A Cidade dos Piratas, de Otto Guerra, que vai tentar a sorte no maior fórum de animação do mundo, o Festival de Annecy, na França. O evento francês vai homenagear o Brasil em sua edição de 2018, de 11 a 16 de junho. O cineasta gaúcho Otto Guerra quer aproveitar a data e levar pra lá seu novo trabalho, baseado nos Piratas do Tietê, da cartunista Laerte. Na trama, um diretor de cinema se vê diante de uma situação complexa no meio da produção de seu longa: o autor da historia passa a negar os Piratas do Tietê, personagens principais da trama já quase pronta. Em uma tentativa desesperada de salvar sua produtora e terminar o filme, ele decide contar seu drama, criando um labirinto caótico entre a ficção e a vida real, num jogral metalinguístico.