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Bill Murray vai abrir Cannes com gaiatice e sangue de zumbi

Por Rodrigo Fonseca
Atualização:
Adam Driver e Bill Murray encaram um ataque de zumbis no novo longa-metragem do realizador americano Jim Jarsmuch: "The Dead Don't Die" vai abrir o Festival de Cannes. 72 (vai de 14 a 25 de maio)  Foto: Estadão

Rodrigo FonsecaAo escalar "The dead don't die", de Jim Jarsmuch, como o filme de abertura de sua 72ª edição, em disputa pela Palma de Ouro, o Festival de Cannes - agendado este ano de 14 a 25 de maio - abriu uma apoteose para um dos atores-fetiche do cineasta americano: Bill Murray. Ele vive Cliff, xerife de uma cidadezinha assolada por zumbis no novo longa-metragem do diretor de "Flores partidas" (2005). Chloe Sevigny e Adam Driver integram a força policial de Cliff, que vai topar com personagens abilolados vividos por Iggy Pop, Selena Gomez, Steve Buscemi, Rosie Perez, Danny Glover, Iggy Pop, Tom Waits e Caleb Landry Jones. Como o filme concorre, o júri presidido pelo diretor mexicano Alejandro González Iñarritu ("Birdman") pode se empapuçar do terrir de Jarmusch e dar um prêmio de atuação a Murray, que teve sua trajetória nas telas do cinema e na TV celebrizada em um documentário. "The Bill Murray stories: life lessons learned from a mythical man" foi uma das sensações do BFI - London Film Festival, realizado em outubro na capital inglesa. O inusitado .doc de Tommy Avallone registra as peripécias do comediante celebrizado no papel do Dr. Peter Venkman, de "Os Caça-fantasmas" (1984). Há tentas lendas em Hollywood em torno do astro - indicado ao Oscar em 2004, por seu desempenho como um ator decadente em tour pelo Japão em "Encontros e desencontros" - que foi possível fazer um filme sobre o culto em torno dele (vendem-se velas com o rosto do ator) e sobre suas excentricidades.

"Tem coisas que você faz porque o cachê é bom e tem coisas que você faz para se divertir. E há os filmes em que você vai buscar o que existe naquela trava silenciosa que a gente dá, feito um engasgo, sempre que está em dúvida acerca dos mistérios da vida. Eu atuo nessas três frentes. E o tempo de estrada me trouxe mais prazer e conforto na hora de distinguir a importância de cada uma delas. A consciência do que você faz na Arte, com a Arte, é o que dá ao trabalho um valor transcendente, que faz as coisas permanecerem na memória das pessoas", disse Murray ao P de Pop do Estadão no Festival de Berlim de 2018, por onde passou como integrante do time de dubladores da animação "Ilha de cachorros", de Wes Anderson.

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Há uma brincadeira em solo hollywoodiano que diz: se você quiser ter Bill Murray no elenco de um filme, espalhe sua vontade entre os amigos dele, como um boato. Vai chegar até ele. Não há outra forma de atrai-lo, pois ele não tem agente. Ele mesmo negocia seus cachês, acerta sua participação nos longas-metragens. Tem sido assim desde que ele despontou para a fama no programa humorístico "Saturday Night Live". Em meio ao sucesso, ele virou as costas para as artimanhas óbvias do estrelato, foi estudar Filosofia e produziu um drama baseado na obra do escritor W. Somerset Maugham: "O fio da navalha" (1984). Todas essas histórias integram o .doc que Avallone fez sobre ele. Um documentário de fã sobre um ícone do riso que faz questão de ser uma exceção a tudo.

"No cinema, eu tento ficar atento às vozes autorais, aos cineastas que têm um universo próprio, como Wes Anderson, cuja obra tem um colorido fabular. Investir na fábula neste momento em que a realidade do mundo anda tão dura parece uma subversão", disse Murray, que está no elenco do novo longa de Wes Anderson: "The French dispatch". "Dei sorte de fazer parcerias com grandes cineastas, como Jim, Wes, Harold Ramis, Ivan Reitman. Pude aprender como é representar o que existe de mais peculiar no mundo sob o olhar deles. E o mundo não precisa só de denúncias realistas. Ele também carece de fantasias".

 Foto: Estadão

Já que o papo aqui começou com base no anúncio de Jarmusch em Cannes, vale lembrar que no dia 18 de abril serão anunciados os concorrentes à Palma dourada. Dois títulos já são dados como presenças obrigatórias na disputa deste ano: "Dor e glória", de Pedro Almodóvar, e "A hidden life", de Terrence Malick. Fala-se muito ainda no musical "Rocketman", de Dexter Fletcher; no thriller "Dominó", de Brian De Palma; no drama étnico "As filhas do fogo", de Pedro Costa; e no romance"Les plus belles années d'une vie", de Claude Lelouch, terceiro tomo de um ciclo iniciado com "Um homem, uma mulher", em 1966.

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Cogita-se ainda a presença de "Bacurau", dos pernambucanos Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles, e de "A vida invisível", do cearense Karim Aïnouz, na seleção oficial. No dia 23 de abril, a Quinzena dos Realizadores anuncia suas atrações: seu filme de abertura será "Deerskin", de Quentin Dupieux, com Jean Dujardin, e seu homenageado vai ser o mestre do terror John Carpenter, realizador de "Halloween" (1978) e outros cults. A Semana da Crítica terá o colombiano Ciro Guerra como presidente do júri. Para a seção Cannes Classics, há uma aposta numa projeção de gala de "Easy Rider" (1969), com a presença de Jack Nicholson.

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