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De antena ligada nas HQs, cinema-pipoca, RPG e afins

'D.P.A. 3' é a cereja de um bolo sabor 'family films'

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Por Rodrigo Fonseca
Atualização:
Ronaldo Reis tem uma apoteose para brilhar no terceiro - e divertido - filme da franquia dos Detetives do Prédio Azul Foto: Estadão

Rodrigo Fonseca Domingo de Páscoa, às 16h, a TV Brasil exibe o delicioso "Adorável Trapalhão", comédia de 1967, pilotada por J. B. Tanko (1906-1993), que integra o projeto da emissora de revisar a trajetória de Didi, Dedé, Mussum (1941-1994) e Zacarias (1934-1990) pelas telonas. Uma boa retrospectiva - dominical - atrai nosso olhar para a importância do cinema infantojuvenil do Brasil, que se renova agora com "D.P.A. 3 - Uma Aventura no Fim do Mundo", mistura de Tio Maneco com Harry Potter. E ainda tem "Tasilinha", de Célia Catunda e Kiko Mistrorigo, que está em circuito em São Paulo, no Espaço Itaú Pompeia e Frei Caneca. E também há "Turma da Mônica: Lições" na Amazon Prime. Ou seja, tem filme pra crian... quer dizer, pra toda a família em cartaz e na streamiguesfera. E são filmes beeeem bons. O "D.P.A." novo, com sua direção de arte exuberante, chegou na quinta... pra ficar. Criada pela escritora Flávia Lins e Silva, a franquia "D.P.A." nasceu como série de TV, no Gloob, usando um formato que evoca "Os Trapalhões", "Castelo Ra-Tim-Bum" e os longas-metragens do Tio Maneco, de Flávio Migliaccio (1934-2020), mas se diferencia deles ao mesclar o tom detetivesco com elementos de bruxaria. Um tom que se refina com a direção de Mauro Lima ("Meu Nome Não É Johnny"), autoralíssima em sua percepção dos excessos nossos de todo dia. Ainda que sejam excessos motivados pela magia. A evocação da literatura nacional também existe na franquia dos Detetives, dialogando com os Karas, de Pedro Bandeira, em livros como o brilhante "A Droga da Obediência" (1984), e mesmo com a prosa de Francisco Marins (1922-2016), em "O Mistério dos Morros Dourados", lançado pela Coleção Vaga-lume nos anos 1980. Marins é uma vivíssima referência. Mas apesar de fazer jus a toda essa tradição, o universo de Flávia tem voz própria, diferenciando-se por sua habilidade de promover uma crônica de costumes familiares da infância e da pré-adolescência numa metrópole de classe média. Uma crônica que está bem atenta aos percalços do verbo "adolescer". O sucesso na televisão levou os personagens aos cinemas, num par de longas-metragens que lotaram o circuito e surpreenderam os exibidores: o primeiro, de 2017, foi rodado por André Pellenz; e o segundo, de 2018, foi dirigido por Vivianne Jundi. O terceiro tem potencialidades para repetir o acerto comercial de seus antecessores, galvanizado pelo olhar e pela delicadeza de Lima, que explora a figura de Severino (Ronaldo Reis, brilhante em cena) nas mais variadas latitudes, indo do humor ao assombro.

 Foto: Estadão

Na trama, durante um malfadado passeio de balão, feito sem consentimento de mamães e de papais, os Detetives Sol (Letícia Braga), Bento (Anderson Lima, impecável em cena) e Pippo (Pedro Motta), mais a feiticeira Nicole (Nicole Orsini, um poço de carisma), percebem que Severino (Reis) está estranho. A descoberta de um medalhão quebrado na mata modifica o sujeito, uma vez que ele possuído por forças das trevas. Essa maldade é tamanha que ele transforma as mães e os pais dos protagonistas em animais, e sai em busca da metade que falta de sua joia. Esse limite que ele cruza garante a uma narrativa de aventura um tom emotivo, humanizando a ação, abrindo um precedente para que se discuta o lugar daquele funcionário em um conjunto de apartamentos onde a magia impera - mas não elimina a invisibilidade social. Faz tempo que a amizade das crianças salvou Severino da condição que a Sociologia, numa herança marxista, chama de "servo feliz". Ele não é, meramente, um empregado resignado, que não se nota, que só acata mandos e desmandos. É uma figura querida, com vontades e com voz ativa, que desperta o carinho dos moradores. Inclua entre os inquilinos do Prédio Azul coadjuvantes que garantem breves, mas sólidas participações de Miram Freeland, Luciano Quirino e Charles Myara (brilhante em cena). Porém, ser amado não tira de Severino o fardo que ele carrega. Fardo que dará lugar a uma criatura vilã, afoita por Poder. E é contra esse ser que as crianças - e alguns adultos, entre eles um Willy Wonka encarnado por Lázaro Ramos - terão que agir. E rapidinho, pois a ruindade urge. Vale conferir essa viagem a confins do lúdico na telona.

 Foto: Estadão

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Acerca de "Adorável Trapalhão", que a TV aberta exibe neste domingo, via TV Brasil, a trama é: o motorista Epitácio (Renato Aragão) trabalha para o viúvo José Luiz (Amilton Fernandes) e faz de tudo para servir bem, apesar de suas confusões. O empresário musical tem três filhos pequenos: Elder, Beth e Suzy. As crianças são entregues aos cuidados de uma governanta, Miss McClary (Susy Arruda). Os meninos adoram Epitácio. Decidido a arranjar uma esposa para o chefe, o faz-tudo tenta aproximar o patrão da professora Lúcia (Neide Aparecida), também aspirante a cantora, que leciona no internato para onde vão as crianças. Entre mil peripécias, Epitácio arranca nosso riso mais frouxo.

p.s.: Esta tarde tem "Mudança de Hábito" na TV Globo, com dublagem de Selma Lopes.

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