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Força Bruta coreana na Amazon Prime

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Por Rodrigo Fonseca
Atualização:
Ma Dong-seok, ou Don Lee, um dos "Eternos" da Marvel, brilha aqui como um detetive truculento da Coreia do Sul - Fotos de Força Bruta: @Sato Company  

Rodrigo Fonseca Existe um charme bruto em "Força Bruta" ("The Roundup"), o mais recente lançamento da Amazon Prime, que abre um debate vivo e urgente sobre as formas de se representar a violência e, sobretudo, seus agentes. Expandindo-se por streamings (vide o genial "Tempo de Caça", da Netflix) e por festivais de cinema classe AAA, como a Berlinale, onde "Kill Boksoon" virou um dos queridinhos da ala nerd estrangeira, o cinema de ação sul-coreano é um dos movimentos mais fortes na cultura pop contemporâneo no esforço que o audiovisual faz para seduzir novas plateias e se manter vivo. Com "Parasita" (e seus quatro Oscars, mais uma Palma de Ouro) flamulando como um estandarte de glória pro mundo, a Coreia do Sul ganhou um protagonismo raro na indústria cinematográfica da Ásia desde que "OldBoy" estourou no Festival de Cannes, conquistando o Grande Prêmio do Júri. Era um espetáculo de adrenalina e tensão capaz de retratar lutas (com direito a golpes de martelo) como nunca se viu, a um passo da crueza. Seu próprio realizador, Park Chan-Wook, renovou seu prestígio no ano passado, com o tenso "Decisão de Partir". Mas uma coisa é celebrar o êxito e o vigor estético de bons filmes. Outra coisa é se orgulhar de ver um personagem de um desses bons filmes ultrapassar as fronteiras de sua própria narrativa e virar uma figura que cai no gosto do planisfério cinéfilo. Raramente, um personagem ganha mais relevo do que seu filme, como se deu com o Capitão Nascimento, com Bumblebee, com Benoît Blanc. Pode incluir nessa leva o protagonista de uma espécie de "Stallone Cobra" coreano: o detetive Ma Seok-do. Graças ao carisma de um ator em estado de graça, Ma Dong-seok, ou Don Lee, um dos "Eternos" da Marvel. No papel do imparável policial "Força Bruta" ("The Roudup"), uma produção de US$ 7,7 milhões que faturou US$ 100 milhões Ásia adentro, Dong-seok cria um tipo maluco, perigoso, mas devotado a um ideal de justiça que parece não caber mais num mundo de polarizações, assombrado pela patrulha ideológica da correção política. Seu modo de agir evoca o Gene Hackman (ou melhor, seu personagem, Popeye Doyle) em "Operação França" (1971). E a direção precisa de Lee Sang-yong (de "4th Period Mistery") facilita muito seu trabalho, uma vez que o realizador mantém a adrenalina alta o suficiente para que Don Lee possa destilar toda a fúria de um detetive impulsionado pela corrupção estatal à sua volta.

Cartaz sul-coreano do longa, que faturou cerca de US$ 101 milhões pelo mundo  

Imparável no cumprimento do dever, Ma Seok-do precisa repatriar um criminoso - igualzinho Michael Douglas teve que fazer em "Chuva Negra", lá em 1989, com um chefe da Yakuza - só que pro Vietnã, onde descobre uma rede ilegal que incrimina muita gente. Numa investigação nada protocolar, ele vai abrindo uma trilha sangrenta até chegar ao bandido que deseja tirar de circulação. O que rege seus passos é um conceito que Hollywood consagrou mas, depois, foi aconselhada a rejeitar: a premissa de que o modo de deter alguém sem freios é caçá-lo com alguém com menos freios ainda. Lembram-se de "Demolition Man" (1993), com Stallone e Wesley Snipes? "É necessário um maníaco para caçar outro". É uma premissa que pode soar conservadora e ser tachada de fascista por alguém. Mas a forma como Sang-yong dirige o longa nos liberta dessa pecha, ao propor uma crônica social que faz de Ma Seok-do um rebelde em um sistema esgotado. É uma abordagem crítica mais do que bem-vinda para oxigenar um gênero alvo de patrulhas. Tá no Prime Vídeo. Charles Dallas é o dublador de Dong-seok.

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