Rodrigo Fonseca Representante da força audiovisual taiwanesa, apostando em experimentos narrativos sem amarras com a domesticação do Tempo, Tsai Ming-Liang, nascido na Malásia há 65 anos, vai ser laureado com um troféu honorário no 76. Festival de Locarno (2 a 12 de agosto), na Suíça, no dia 6.8.2023, com debate no dia 3. Seu último longa-metragem de impacto foi "Days" ("Rizi"), vencedor do Prêmio Teddy na Berlinale de 2020. Sua obra é feita de cults como "Vive l'Amour" (ganhador do Leão de Ouro de 1994, empatado com "Antes da Chuva") e "O Sabor da Melancia" (laureado com o Prêmio da Crítica e com um Urso de Prata de Contribuição Artística, em Berlim, em 2005). É necessária uma calma monástica pra se desbravar o oceano de signos do diretor de "O Buraco" (1998), mas o esforço é compensado com uma belíssima reflexão sobre o sucateamento dos corpos e do desejo. Lee Kang-Sheng, seu ator fetiche, é um coautor de suas narrativas. "Venho falando de indivíduos situados em instâncias distintas da prática da linguagem, que não falam no mesmo compasso, mas se encontram, ainda que na dimensão física", diz Tsai Ming-Liang, ao Estado de S. Paulo na Berlinale. Giona A. Nazzaro, Diretor Artística do Festival de Locarno explica que o cinema de Tsai Ming-Liang envolve uma convergência apaixonada de histórias e linguagens. "Desde o início, ele conseguiu capturar as múltiplas identidades de um caminho criativo por meio das complexas articulações da história taiwanesa e de sua história pessoal como chinês que se desloca entre a Malásia e Taiwan", diz o curador. "Em seus filmes, o erotismo e a observação se unem à pesquisa formal e à narração para formar uma filmografia de beleza, admiração e maravilha impressionantes, na qual a melancolia urbana da metrópole pós-moderna recebeu retratos novos e matizados. Tsai Ming-liang é um cineasta que examina o cinema e o mundo com lucidez e sentimento".