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De antena ligada nas HQs, cinema-pipoca, RPG e afins

Mapa para as estrelas de Cronenberg: obra do diretor se espalha pelo streaming

Por Rodrigo Fonseca
Atualização:
Em frame de "Falling - Ainda Há Tempo" (2020), no qual vive um proctologista, David Cronenberg chega aos 80 anos no dia 15 de abril, pronto pra rodar o longa "The Shrouds", com os franceses Léa Seydoux e Vincent Cassel  Foto: Estadão

RODRIGO FONSECA Onipresente na lista dos melhores filmes de 2022 editadas pelas principais associações da crítica e por revistas especializadas no audiovisual, "Crimes of the Future" devolveu holofotes à grife autoral de David Cronenberg, diretor canadense de 79 anos encarado como um dos mais prestigiados cineastas do nosso tempo, que estava sem rodar e lançar longas-metragens desde 2014. Nesse hiato, ele se dedicou à literatura e publicou o romance "Consumidos" - já editado em português pela Alfaguarra, no qual um casal de jornalistas investiga um caso de canibalismo - e rodou curtas via celular. Em sua volta aos sets e aos écrans, ele foi indicado à Palma de Ouro de Cannes; foi laureado com o troféu honorário Donostia, no Festival de San Sebastián, na Espanha; e ganhou espaço nobre na grade da MUBI. A saga dos artistas plásticos e performers Caprice e Saul (vividos por Léa Seydoux e Viggo Mortensen), cujo trabalho se baseia em incisões físicas nos corpos (com manipulações de seus órgãos internos), pode ser vista no www.mubi.com. Mas não é só lá que é possível encontrar narrativas personalíssimas do realizador, chamado de "o barão do horror venéreo". Várias plataformas estão lotando a streaminguesfera de títulos dele, a se destacar a presença de seu estonteante "Senhores do Crime" ("Eastern Promises", 2007) na Amazon Prime e na HBO Max. É um thriller de ação sobre um motorista de uma célula inglesa da máfia russa que revela ser um agente infiltrado. O papel rendeu uma indicação ao Oscar para Viggo Mortensen. Neste último streaming é possível encontrar dois trabalhos do cineasta como ator: "Raça das Trevas" e "Jason X". Ele atua ainda em "Falling - Ainda Há Tempo", que Mortensen dirigiu - esse tá na Vivoplay. Tem participação dele ainda no elenco de "Star Trek: Discovery", na Paramount +.

O jovem David no set de "Videodrome" com James Woods  Foto: Estadão

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Eis o mapa da mina Cronenberg:

CALAFRIOS ("Shivers", 1975): Eis uma alegoria premonitória da Aids, laureada com o prêmio de Melhor Direção no Festival de Sitges, na Espanha. Nela, os residentes de um prédio de apartamentos em um subúrbio estão sendo infectados por uma cepa de parasitas que os transformam em loucos por sexo, dispostos a infectar outras pessoas com o menor contato sexual. Tá onde: Amazon Prime

VIDEODROME - A SÍNDROME DO VÍDEO ("Videodrome", 1983): Uma das atrações mais disputadas do Festival de Mar Del Plata, na Argentina, onde foi projetado em cópia restaurada, este thriller sci-fi põe James Woods no papel de um executivo de TV obcecado por conteúdos violentos e eróticos. Na busca por um sucesso, ele esbarra num produto audiovisual chamado "Videodrome", que dá um tratamento explícito à brutalidade, mas encobre segredos. Cronenberg saiu do Festival de Cinema Fantástico de Bruxelas com a láurea de Melhor Ficção Científica por esse cult. Tá onde: Amazon Prime

A MOSCA ("THE FLY", 1986): Um dos maiores sucessos de bilheteria da carreira do diretor, a versão personalíssima para os anos 1980 de "A Mosca da Cabeça Branca" (1959), com base no argumento do francês George Langelaan ganhou o Oscar de Melhor Maquiagem. Dublado no Brasil por Hélio Ribeiro, Jeff Goldblum é um cientista obcecado por teletransporte que, em meio a um experimento, mescla seu corpo ao de um inseto. Tá onde: Star Plus

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O realizador com Jeff Goldblum na filmagem do sucesso "A Mosca"  Foto: Estadão

MARCAS DA VIOLÊNCIA ("A History of Violence", 2005): O pilar da parceria de Cronenberg com Viggo foi esta adaptação da HQ homônima de John Wagner e Vince Locke, que concorreu à Palma de Ouro. Mortensen é o pacato dono de um bar que detém dois criminosos, revelando uma habilidade de combate impressionante. Seu gesto faz dele um herói, aos olhos da opinião pública, mas modifica a rotina de sua família e atrai perigos. Com um faturamento estimado em US$ 61 milhões, a produção foi indicada a dois Oscars: Melhor Roteiro e Melhor Ator Coadjuvante, para William Hurt. Tá onde: HBO Max

UM MÉTODO PERIGOSO ("A Dangerous Method", 2011): Com base no romance homônimo de John Kerr, Cronenberg desbrava a psiquê humana a partir de um estudo sobre a gênese da psicanálise, com base na convivência teórica e afetiva entre Carl Jung e Sigmund Freud, dando espaço a uma reflexão sobre lealdade e sua antípoda, a rivalidade. O dramaturgo Christopher Hampton assinou o roteiro do longa, que concorreu ao Leão de Ouro de Veneza tendo Michael Fassbender como Jung e Viggo no papel de Freud, num desempenho que lhe rendeu uma indicação ao Globo de Ouro. Keira Knightley é a paciente que instiga as mentes de ambos. Tá onde: Amazon Prime

COSMÓPOLIS ("Cosmopolis", 2012): Espécie de reação da literatura americana ao impacto do 11 de Setembro, o romance homônimo de Don DeLillo é a radiografia da angústia americana frente ao fim anunciado de sua onipotência. Cronenberg fez do livro um thriller convulsivo, produzido pelo português Paulo Branco, trazendo o inglês Robert Pattinson - o atual Batman, então no auge do êxito comercial da franquia "A Saga Crepúsculo" - para a frente da câmera, num papel sem glacê pop. Ele encarna um multimilionário que, num passeio de limosine por Manhattan, empenhado em cortar o cabelo, vê seu dia enveredar por uma espiral de exotismo e perigo. Tá onde: Amazon Prime

"Crimes of The Future", hoje na MUBI  Foto: Estadão

MAPAS PARA AS ESTRELAS ("Maps to the Stars", 2014): Cartografia da vaidade, o longa faz um mapeamento da crise de egos de estrelas em Los Angeles, tendo uma luminosa Julianne Moore no papel central: o de uma atriz em decadência profissional que busca reinvenção. Ela foi laureada em Cannes pelo papel. Pattinson volta a trabalhar com o cineasta, encarnando o motorista Jerome, que cruza o caminho de uma série de potenciais celebridades. John Cusack tem uma atuação impecável no papel de um coach. Tá onde: entra na MUBI no dia 26

Existem novos horizontes profissionais para Cronenberg garantidos para 2023, quando ele filma um novo longa. Previsto para ser rodado na primavera canadense, "The Shrouds" narra os feitos de Karsh (Vincent Cassel), um empresário viúvo que constrói um dispositivo para se conectar com os mortos. Com o negócio em expansão, vários túmulos de um cemitério são vandalizados e quase destruídos, incluindo o da sua mulher. Enquanto ele luta para descobrir as motivações para o ataque e quem o causou, Karsh vai reavaliar os seus negócios, o casamento e a fidelidade à memória da sua falecida esposa, bem como seguir novos começos. Léa Seydoux também vai estar em cena.

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p.s.: Grande sucesso nas plataformas virtuais durante a pandemia, o espetáculo "Helena Blavatsky, a voz do silêncio" estreia em São Paulo, no dia 13 de janeiro, no Teatro B32, novo complexocultural da capital paulistana. Com texto da filósofa Lucia Helena Galvão e encenação de Luiz Antônio Rocha, o monólogo com Beth Zalcman foi visto por mais de 18 mil espectadores em sessões virtuais. Conhecida por confrontar as correntes ortodoxas da ciência, da filosofia e da religião, a visionária Blavatsky influenciou inúmeros pensadores e artistas. "Considerando que vivemos num período de caos mundial, noqual o fundamentalismo, as tecnologias e as crises políticas e climáticas do planeta invadem nossa dignidade com tanta violência, resgatar os pensamentos de Blavatsky é de extrema importância", afirma Luiz Antônio Rocha.

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p.s. 2: Com texto de Cecília Ripoll e direção de René Guerra, o espetáculo "Memórias de uma Manicure", que faz uma reflexão sobre sororidade e empreendedorismo feminino, estreia, dia 19 de janeiro, no Centro Cultural da Justiça Federal, na Cinelândia. A peça do grupo Bonecas Quebradas Teatro se inspirou em uma história verídica ocorrida em 1958. A manicure Zulmira, vítima de ameaças constantes, mata o ex-companheiro dentro de uma delegacia. É presa no ato, mas solta em pouco tempo e considerada uma heroína por ter agido contra quem a ameaçava de morte. A partir daí, a autora criou uma trama sobre a amizade entre duas manicures com elementos do melodrama e da comédia noir.

p.s. 3: O premiado musical "Furdunço do Fiofó do Judas - Uma Opereta Popular Apimentada por Marinês" volta ao cartaz, dia 11 de janeiro, no Teatro Claro Rio, em Copacabana. Com dramaturgia do próprio grupo e direção de Jefferson Almeida, o musical se passa em um prostíbulo no interior do nordeste e é entremeado por canções imortalizadas na voz da pernambucana Marinês, a Rainha do Xaxado. Falecida em 2007, a cantora e compositora foi a primeira mulher a liderar uma banda de forró (Marinês e sua gente) e estourou em todo o país com a música "Peba na pimenta", recheada de duplo sentido.

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