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De antena ligada nas HQs, cinema-pipoca, RPG e afins

Mostra nina SP com 'Conto de Fadas' de Sokurov

Por Rodrigo Fonseca
Atualização:
O diretor Alexander Sokurov durante a primeira projeção de "Conto de Fadas" @FestivaldeLocarno Foto: Estadão

RODRIGO FONSECA Ímã de polêmicas em sua passagem pela competição oficial do Festival de Locarno, em agosto, o novo filme de Alexander Sokurov confirma sua presença na 46ª Mostra de São Paulo: a Imovision comprou o longa-metragem, chamado "Skazka" para o Brasil, e vai exibi-lo nas telas paulistas com o título "Conto de Fadas".CONFIRA AS DATAS E HORÁRIOS DE SUAS PROJEÇÕES: 26/10 | 19:10 - RESERVA CULTURAL - SALA 1 27/10 | 14:00 - ESPAÇO ITAÚ FREI CANECA 2 31/10 | 21:00 - CINE MARQUISE SALA 2 02/11 | 15:30 - CINESESC Ucrânia e Vladimir Putin, substantivos antagônicos, só entram na fala do cineasta Alexander Sokurov como signos de uma gangorra democrática que, segundo ele, expõe a fragilidade por trás de um aparato eleitoral. "A Rússia está vivendo um dos piores momentos da História e há muita complexidade por trás de Putin e, sobretudo, de quem o apoia", disse o realizador de 71 anos ao Estadão, na Suíça. Na ativa desde 1974, laureado com o Leão de Ouro de Veneza em 2011, por "Fausto", ele foi disputar o Leopardo de Ouro com esse experimento baseado em imagens de arquivos de estadistas ligados à violência. Trata-se de uma delirante alegoria com Stalin e Hitler numa espécie de purgatório. Lá, os dois vivenciam um processo transcendental de entendimento da Eternidade, do Divino e das bestialidades cometidas na II Guerra. O curador de Locarno, Giona A. Nazzaro, incluiu o longa na competição oficial num gesto de coragem. "O que eu posso dizer sobre Sokurov é: temos um filme que vai deixar pessoas de sobrancelhas em pé, pois não tem nada a ver com o que ele fez antes e nada a ver com o que fará depois", disse o crítico suíço. Sokurov jurou ao Caderno Dois, num papo ocorrido há dois meses, que não há qualquer conexão política entre o filme e a ofensiva de Putin ao povo ucraniano. Mas faz um balanço do que é a Rússia hoje.

"Conto de Fadas" ("Fairytale" / "Skazka") Foto: Estadão

Em meio ao caos e à brutalidade gerados pela Guerra da Ucrânia, como o senhor vê o papel de Putin na Rússia hoje? Alexander Sokurov: A literatura nos responde questões como essa há tempos. Tudo o que estamos passando hoje já estava em Tólstoi, nas páginas de "Guerra e Paz". Se você ler ou reler Tolstói, vai ver que lá estão a I Guerra, a II Guerra e esse conflito que põe o povo russo numa situação difícil, por ser uma das piores crises políticas da História. Temos que analisar quem Putin é, a pessoa que se tornou e as pessoas que o sustentam no Poder. No fim dos anos 2000, ali em 2007, enfrentamos uma série de situações que já apontavam para essa guerra de hoje. Já sabia que ela ia ocorrer. O que eu faço agora é sobreviver.Falando em Poder, que arquétipos político o senhor buscou na representação de Stalin e de Hitler como fantasmas do Passado? Alexander Sokurov: Jamais chamaria meu filme de animação, nem de memorialismo, pois ele nem se enquadra m técnicas como o desenho, nem se limita ao saudosismo. Tudo o que você ouve no filme vem de depoimentos reis colhidos em documentos e em registros fonográficos. Ou seja, tudo é real. Não se trata de uma animação, pois eu não lido com imagens de arquivo criando situações do nada. Eu procuro apenas retratar o que sabemos dessas pessoas, deslocando-as de sua condição circunstancial de Poder e abordando suas inquietações emocionais. Hitler está triste e Stalin prece cansado, esperando saber quando a morte vai chegar. Isso porque eles se encontram num estado de tortura eterna no filme. Meu foco foram as figuras políticas proeminentes do século XX.A presença de Hitler em "Moloch" e, agora, em "Fairytale", mostra que o seu cinema sempre se interessou pela figura do Mal, vide o Diabo e "Fausto". Qual seria o componente político da Maldade? Alexander Sokurov: Quis desafiar a ideia de castigo, trazida a um tópico político. Nos tempos de Dante, da "Divina Comédia", o Mal era representado a partir da ideia da punição. A Maldade tinha uma paga, um preço. Hoje, num mundo onde a corrupção nos ronda, quem será o juiz a condenar o Mal? Veja um exemplo, Napoelão Bonaparte, na França, matou milhares de pessoas, invadiu países, desrespeitou sociedades. Ele se enquadra na concepção histórica do Mal. Mas, hoje, ele é visto como herói. A Mostra de São Paulo segue até o dia 2 de novembro.

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