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Prêmios em Berlim pra 'Fogaréu' e 'Três Tigres Tristes'

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Por Rodrigo Fonseca
Atualização:

Rodrigo Fonseca Depois da conquista do Prêmio do Júri, na competição Berlinale Shorts, dado ao belo "Manhã de Domingo", de Bruno Ribeiro, na quarta-feira, o cinema brasileiro conquistou mais uma láurea na 72ª edição do festival realizado anualmente pela capital alemã: a mostra Panorama coroou "Fogaréu" em sua votação popular. Foi o terceiro longa de ficção mais votado pelo público no evento. Em primeiro lugar veio "Happiness", de Askar Usabayev, do Casaquistão, e, em segundo, "Klondike", de Maryna Er Gorbach, coprodução entre Ucrânia e Turqui. Experimento dramatúrgico no timbre do thriller, mas com alicerces etnográficos bem fincados, "Fogaréu" é pilotado pela goiana Flávia Neves (diretora da série.doc "Amanajé, o Mensageiro do Futuro") e tem na produção a grife da Bananeira Filmes (do premiado "Medusa", que fez barulho em Roterdã, em janeiro). Goiás explodiu nas telas do Festival de Berlim numa trama que assombra em sua habilidade de destrinchar desigualdades fundiárias do Centro-Oeste do Brasil, especialmente aquelas ligadas à pecuária, com uma exclusão gradual da propriedade indígena. Taquicárdica, sua montagem, assinada por Will Domingos e Waldir Xavier (também responsável pelo desenho de som), pontua um ritmo nervoso, que vai crescendo cena a cena, dando a uma cartografia do coronelismo um clima de suspense quase hitchcockiano. Suspense capaz de favorecer situações que avançam pelo terreno do chamado "extraordinário", com chamas que brotam misteriosamente. Tudo é guiado pelo périplo de uma mulher, Fernanda (Bárbara Colen, de "Bacurau") que regressa à paisagem goiana, em tempos da Procissão do Fogaréu, um rito católico de capuzes, a fim de cobrar de seu tio, Antônio (Eucir de Souza, em uma arrebatadora composição), a verdade sobre sua mãe biológica. Pouco a pouco, atolada em tradições locais, e na descoberta da tendência daquela região em investir em casamentos entre primos, ela vai conhecendo novas formas de se institucionalizar o medo - mas também de desafiá-lo. De uma forma inusitada, o roteiro enxuto, escrito por Flávia e Melanie Dimantas, dá ao espectador uma heroína, que Bárbara constrói sempre nas franjas da resiliência.

Cena de "Três Tigres Tristes" Foto: Estadão

Na sexta à noite, o Brasil conquistou o troféu Teddy, simbólica láurea LGBTQI+ de Berlim, atribuída a "Três Tigres Tristes", de Gustavo Vinagre. Sua trama se passa em São Paulo, em um futuro distópico, não muito distante do presente, quando um vírus que ataca o cérebro - sobretudo a nossa capacidade de lembrar - ameaça apagar vários afetos. Nesse cenário, o longa segue três jovens queer, que andam à deriva por uma cidade maculada pela pandemia e pelo capitalismo desenfreado, lembrando-se dos últimos amantes um do outro, compartilhando suas experiências com o HIV.

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