PUBLICIDADE

Foto do(a) blog

De antena ligada nas HQs, cinema-pipoca, RPG e afins

Sessão de 'E.T.' neste sábado fecha o ano cinéfilo da TV aberta com Spielberg

Por Rodrigo Fonseca
Atualização:
Foto promocional do E.T. com o Midas da direção: Steven será homenageado com o Urso de Ouro de Honra na Berlinale, em fevereiro  Foto: Estadão

RODRIGO FONSECA Vai ter "E.T.: O Extraterrestre" ("E.T. the Extra-Terrestrial", 1982) na "Sessão de Sábado" deste 31 de dezembro, na Globo, como despedida das atividades cinéfilas da emissora em 2022. Foi no réveillon de 1990 que o Plim-plim exibiu o longa-metragem pela primeira vez, abrindo a TV aberta para a fábula mais perfeita de Steven Spielberg, um Esopo do audiovisual. Esta exibição de fim de ano acontece no momento em que o cineasta desponta favorito, nas principais listas da crítica, como um concorrente de peso ao Globo de Ouro (a ser entregue no próximo dia 10) e, possivelmente, ao Oscar - ambos na categoria pelo direção - por "Os Fabelmans". É a trama mais pessoal que ele já filmou, assumidamente autobiográfica, com um Paul Dano em estado de graça, no papel do que seria o pai do cineasta. E essa consagração se dá num momento em que ele foi escalado para ganhar o Urso de Ouro Honorário na Berlinale 2023, que começa no dia 16 de fevereiro. Quatro décadas depois de seu lançamento, "E.T." segue encantador, ao narrar a conexão entre um guri órfão (Henry Thomas) e um alienígena que, perdido de sua espécie, vai parar em seu quintal, onde vai aprender palavras terráqueas como "Telefone" e "Minha casa", além de voar na altura da luz do luar. Exibido publicamente pela primeira vez em maio de 1982, no Festival de Cannes, o longa custou US$ 10,5 milhões e arrecadou, em meio a múltiplos relançamentos, US$ 792,9 milhões. Recebeu os Oscars de Melhor Trilha Sonora, Som, Efeitos Visuais e Efeitos & Edição Sonoros. Apesar de toda a sua doçura. "E.T." mapeia o mundo suburbano onde seu alien aterra atento à falência do chamado "sonho americano", de uma forma parecida com o que o diretor mostrou em 1977, ao acompanhar o personagem de Richard Dreyfuss na sci-fi "Contatos Imediatos do Terceiro Grau". Já havia isso também em "A Louca Escapada" ("The Sugarland Express"), que rendeu ao realizador o prêmio de Melhor Roteiro no Festival de Cannes de 1974. Existe, logo, uma conexão estética do "extraterrestre" de 1982 com um projeto sociológico do qual o diretor fez parte. O melhor caminho para que se entenda a grandeza dessa narrativa fabular é realizar um balanço geracional do tempo no qual Steven formou seu modo de narrar.

Dublado por Thiago Farias, Henry Thomas no voo até a luz da lua  Foto: Estadão

PUBLICIDADE

Houve uma vez um verão, o de 1967, no qual o cinema americano engajou-se numa bossa nova para seus padrões, diante de dois filmes "Bonnie & Clyde - Uma rajada de balas", de Arthur Penn, e "A primeira noite de um homem", de Mike Nichols. Em ambos, dois diretores com experiências em outras mídias (o primeiro da TV, o segundo do teatro) contextualizaram a juventude dos EUA sob uma ótica alarmista de percepção do cerceamento moral e da violência das instituições, seja pela caretice da Família seja no chumbo quente do Estado. Dali pra frente, a filmografia da pátria de Uncle Sam tomou uma curva à esquerda, imbuindo-se do espírito cinemanovista - aquele que pariu François Truffaut, embalou Marco Bellocchio, ninou Polanski, pôs Glauber Rocha para arrotar - para tirar cascas das feridas nas veias abertas da América profunda. Naquele momento, uma trupe formada por Francis Ford Coppola ("O poderoso chefão"), Brian De Palma ("Carrie, a Estranha"), Peter Bogdanovich ("A última sessão de cinema"), Bob Rafelson ("Cada um vive como quer"), Bob Fosse ("Cabaret"), Shirley Clarke ("Portrait of Jason"); Jerry Schatzberg ("O espantalho"), Hal Ashby ("Muito além do jardim"), Elaine May ("O rapaz que partia corações"), George Lucas ("Star Wars"), ao lado do documentarista Peter Davis ("Corações e mentes") e dos ficionistas mais experientes Robert Altman ("M.A.S.H."), Sidney Lumet ("Sérpico"), Sydney Pollack ("A noite dos desesperados") e (por que não?) Woody Allen ("Noivo neurótico, noiva nervosa"), trouxe para o primeiro plano da tela as varizes éticas que impediam a oxigenação do sangue americano. Eles eram os chamados Easy Riders, em referência ao filme homônimo de Dennis Hopper, lançado em 1969 e tido como a carta de intenções de uma nova poética fílmica desesperada pelas chagas de sua pátria. Essas chagas eram, em geral, políticas e sociais - com destaque para a exclusão dos pobres e o dos imigrantes e o massacre dos ragazzi fãs de Beatles e Rolling Stones mortos no Vietnã. Mas também havia as chagas da própria imagem, ou seja, a impotência que o próprio cinema teve de deflagrar uma revolução a partir de sua habilidade de (re)interpretar o mundo ao colocar sua memória em movimento. É aí que Spielberg entra - e com força total. Que "Os Fabelmans" chegue logo aqui, sobretudo para que o público do Brasil possa curtir o quão grandiosa é a atuação de Judd Hirsch no papel do Tio Boris.

p.s.: O Brasil está de luto com a morte de Pelé. Nada mais justo do que revermos "Fuga Para a Vitória" ("Victory", 1981), de John Huston. Nele, o Rei contracenou com Sylvester Stallone e Michael Caine, injetando viços num thriller esportivo ambientado na II Guerra em que um grupo de detentos de um campo de concentração desafia nazistas nos gramados. Concorreu ao troféu São Jorge de Ouro no Festival de Moscou. Onde ver: HBO Max

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.