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De antena ligada nas HQs, cinema-pipoca, RPG e afins

Taviani inédito integra a mostra 8 1/2 de Cinema

Por Rodrigo Fonseca
Atualização:
Aos 90 anos, Paolo Taviani devastou a Berlinale com as reflexões semióticas e políticas de "Leonora, Adeus" Foto: Estadão

RODRIGO FONSECA Agendada de 28 de julho a 10 de agosto e 19 cidades brasileiras, a 8 ½ Festa do Cinema Italiano vai projetar a iguaria que deu a Paolo Taviani o Prêmio da Crítica da Berinale 2022, em fevereiro: "Leonora, Adeus". Aos 90 anos, o cineasta brilhou uma década atrás, com "César Deve Morrer" (2012), rodado em duo com seu irmão, Vittorio (1929-2018). Dono de uma carreira invejável, construída de 1954 (após o lançamento do curta "San Miniato, luglio '44") a 2017 (data de estreia de "Uma Questão Pessoal"), sempre ao lado do mano mais velho, o nonagenário realizador trouxe à 72ª edição do Festival de Berlim uma das narrativas mais criativas e de plot mais original de todo o evento. Em "Leonora Addio", o realizador de "Pai Patrão" (Palma de Ouro em 1977) tem uma escrita finíssima. Trata-se de uma narrativa em dois hemisférios umbilicalmente ligados, ainda que a primeira metade - com cenas de arquivo e imagens de "Paisà", de Rossellini, e de "A Aventura", de Antonioni - seja deveras superior. Mas há uma beleza no longa como um todo - à força da fotografia meio em cor, meio em PB de Paolo Carnera e Simone Zampagni -, ainda que seja uma beleza triste, capaz de evocar a sensação de estarmos diante não de uma celebração da vida, mas de um testamento. Mas se trata de um testamento prospectivo, que clama pelas potências do cinema e seus deveres políticos de incendiar resistências. A excentricidade do enredo parte de uma premissa funérea. No tomo 1 do filme, vemos um périplo estatal do governo italiano, no Pós-Guerra, para remover as cinzas do dramaturgo e escritor Prêmio Nobel Luigi Pirandello (1867-1936) de um cemitério fascista em Roma e levá-las até um digno recanto na Sicília. O que se passa com sua mortalha é digno das situações inusitadas da peça "Seis Personagens à Procura de um Autor" (1921), pérola da dramaturgia pirandelliana. É gente jogando cartas sobre a urna onde está o "morto", é gente se recusando a viajar ao lado do defunto cremado... É uma confusão atrás da outra, tendo sempre um inspirado Fabrizio Ferracane no papel do Delegado da Comuna Agrigento, a terra de Pirandello.

 Foto: Estadão

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O tomo dois nasce de uma fala repetida ao longo do primeiro hemisfério sobre o contraste entre velhice e juventude, que parte de uma máxima de Luigi em "I Vecchi e I Giovani" ("Os Velhos e Os Moços", 1909) de que tudo passa. A partir dela, Paolo Taviani faz uma adaptação do conto "Leonora, Adeus!" sobre consequências de um prego na mão de um imigrante que se solta a dançar, num palco, ao ritmo de uma música pop. Essa segunda porção do longa é mais acadêmica, corriqueira, mas não lhe falta viço... nem dor. Estamos diante de um espetáculo... dos mais tocantes... sobre a Finitude, vista não da ótica das perdas e danos e, sim, do balanço do que se fez de positivo, do que se viveu de melhor. E como os Taviani viveram bem o cinema. E Paolo ainda vive. Que esplendor é esse seu novo filme.

p.s.: Julianne Moore vai presidir o júri do 79º Festival de Veneza, de 31 de agosto a 10 de setembro.

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