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De antena ligada nas HQs, cinema-pipoca, RPG e afins

Tem 'Turma da Mônica: Lições' na Amazon

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Por Rodrigo Fonseca
Atualização:
Daniel Rezende dirige a Turma da Mônica no set de "Lições" - @Serendipty Foto: Estadão

Rodrigo Fonseca Visto por 816.843 mil pagantes em sua carreira em circuito comercial, "Turma da Mônica: Lições" tem agora o desafio de dialogar com uma nova plateia: a da streaminguesfera. Um dos maiores sucessos de bilheteria do país desde a pandemia, o longa-metragem baseado nos gibis de Maurício de Sousa faz parte agora do menu da Amazon Prime, ao alcance de um clique. É uma forma de expandir aquela dramaturgia mirim para uma outra latitude: a das plataformas digitais de exibição. Inaugurado e finalizado em meio ao périplo de uma montagem escolar de "Romeu e Julieta", capaz de desafiar nossa vã filosofia e os códigos do bardo inglês, "Turma da Mônica: Lições" avança algumas casas no tabuleiro que vai da infância à "aborrescência", jogando os dados do existencialismo para desenhar sua progressão aritmética na vida dos personagens criados por seu Maurício, que faz uma pontinha em cena como ator. É um fundo que verticaliza mais (e melhor) questões afetivas como solidão, inadequação e sociabilidade em relação ao primeiro e belíssimo filme da franquia pilotada pelo cineasta e montador Daniel Rezende sem jamais perder o horizonte de lirismo do universo de HQs ao qual se reporta. Preserva-se o timbre de peripécias em série do longa-metragem anterior, "Laços", visto por cerca de 2 milhões de pagantes em 2019, mas há uma condução mais interessada nas emoções dos protagonistas do que na execução de uma jornada clássica. É, portanto, um filme mais maduro na essência, amplificado pela presença luminosa de Malu Mader como uma educadora pautada pela inclusão e por um desempenho arrebatador de Isabelle Drummond no papel Tina. Se no "Turma 1", Rodrigo Santoro roubava o filme pra si ao aparecer como o Louco, aqui Isabelle consegue, com sensibilidade, escavar uma planície de arrebatamento em meio a uma narrativa de planaltos e de precipícios (típicos da puberdade). É uma participação primorosa, que injeta grandeza à figura de Tina.

 Foto: Estadão

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Nessa segunda incursão cinematográfica com atores de carne e osso, a Turma reafirma todos os arquétipos de seus personagens: Mônica (Giulia Benite) continua arredia e impaciente; Cebolinha (Kevin Vechiatto, brilhante) segue ambicioso, com mania de "glandeza"; Magali (Laura Rauseo) continua um saco sem fundo em seu apetite voraz; e Cascão (Gabriel Moreira, um poço de carisma) permanece incomodado com o efeito que duas moléculas de hidrogênio e uma de hidrogênio pode fazer em seu corpo. Mas, na trama decalcada da graphic novel dos irmãos Lu e Vitor Cafaggi, o desafio deles vai além das práticas cotidianas que os engessam em parâmetros de (mau) comportamento. Uma confusão ligada à encenação da tal peça dos amantes de Verona faz com que o quarteto se esqueça de fazer o dever de casa e fuja da escola. Mas nem tudo sai como esperado e a mãe da Mônica, vivida por Monica Iozzi (com uma retidão comovente), decide mudá-la de colégio. Mesmo fazendo novos amigos, em meio a uma separação forçada, a turminha sente saudade de estar sempre junta. E Mônica não consegue se conformar com a sensação de indiferença ao não ser procurada por Magali & cia. Ciente dessa confusão e ainda interessado em ser o dono da "lua", Cebolinha resolve bolar um plano infalível - mais um - para trazer sua amiguinha de volta, mesmo que para isso precise recuperar o coelhinho Sansão para ela. Mas algo dentro do peito de cada um deles parece estar diferente. A manha do roteiro de Thiago Dottori e Mariana Zatz está no posicionamento do alvo central da dramaturgia: o coração em tempo de madureza das meninas e meninos criados nos gibis de Maurício e redesenhados pelos Cafaggi. Uma série de piadas - as melhores envolvem o guri Do Contra, vivido por Vinícius Higo - e algumas reviravoltas de ação - envolvendo o resgate de Sansão - dão molho a uma massa folheada a descobertas, dúvidas e inquietude. Massa que Azul Serra fotografa na temperatura de cor precisa, sem jamais desandar a estrutura sensorial. O recheio fica por conta das divagações de Tina sobre as diferenças entre saber crescer e querer ser criança, apresentadas por Isabelle com ares de Bia Bedran, a maga das contadoras de histórias. É um filme que arrebata cena a cena por seu coeficiente de dramédia conjugado a múltiplas peripécias.

p.s.: Nesta sexta, a "Sessão da Tarde" desafia convenções morais e exibe o delicioso "Um Santo Vizinho" ("St. Vincent", 2014), de Theodore Melfi, com Bill Murray no apogeu de sua gaiatice. Aquela gaiatice que consideramos genial desde "Encontros e Desencontros" (2003). Exibido no Festival de Toronto de 2014, no Canadá, o longa rendeu uma indicação ao Globo de Ouro de melhor ator para Murray, que é dublado no Brasil pelo brilhante Armando Tiraboschi. Na trama do filme, a aguerrida enfermeira Maggie (Melissa McCarthy) acaba de se divorciar. Ela e o filho de 12 anos - fragilizado pela separação dos pais - se mudam. Um vizinho, St. Vincent De Van Nuys (Murray), aproxima-se deles e se oferece para cuidar do menino, para ganhar alguns trocados. Depois de hesitar, Maggie aceita para poder fazer seus plantões de madrugada. Uma grande amizade nasce entre o menino e Vincent, que é um veterano de guerra. Apesar de ele não ser a pessoa mais indicada para cuidar de uma criança, essa amizade faz muito bem ao garoto e àquele sujeito nem um pouco politicamente correto. A atuação de Murray é memorável.

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