O ano começa com uma boa safra de reestreias. Não são poucos os espetáculos que marcaram a última temporada em São Paulo e retornam agora em janeiro. Entre eles, destaca-se o notável O Idiota, que a diretora Cibele Forjaz leva de volta ao Sesc Pompeia a partir de quarta-feira. Reconhecida pelo Prêmio APCA, a montagem faz uma ambiciosa incursão pelo romance de Dostoievski e o desdobra em três partes. É como se seu enredo se prestasse a uma "novela teatral", a ser encenada em capítulos. Para adaptar as mais 700 páginas do livro, o ator Aury Porto consumiu mais de dois anos. Na trajetória, contou com o auxílio do ator russo Vadim Nikitin, de Luah Guimarãez, que aparece em cena como Natássia, e da própria Cibele. Depois de muitas leituras e improvisos, trouxeram à cena uma saga que tenta dar conta da folhetinesca história do príncipe Michkin. E, não bastassem as óbvias dificuldades de verter tamanha criação literária para o teatro, arriscaram-se ainda ao misturar intérpretes egressos de muitos coletivos paulistanos, como Oficina, Teatro da Vertigem e Cia. Livre. Para fisgar o leitor, Dostoievski lançou mão de doses de romance, mistério e muitas reviravoltas. Um tom que é mantido pela adaptação teatral, mas que também vem temperado por outras das nuances que percorrem a obra do escritor, como suas reflexões de cunho filosófico, moral e religioso. São tantas as tramas e personagem que atravessam o livro, que uma versão implicou obviamente cortes, eliminações e escolhas. Em linhas gerais, o público acompanhará os percalços de um príncipe excessivamente bondoso, que padece por ser visto como tolo. O que importa, contudo, não é precisamente a fidelidade ao texto original, e sim o que o grupo logrou trazer ao palco. Antes de se lançar às novidades de 2011, vale ver (ou rever) O Idiota.