Mulheres trafegam entre alegria e absurdo em 'Roar'

Com Nicole Kidman no elenco, são 8 histórias com elementos de realismo mágico e baseadas em antologia de Cecelia Ahern

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Por Mariane Morisawa
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O cotidiano de toda mulher é permeado de momentos de absurdo e absoluto terror – e também de alegria, felicidade e amor, claro. A série Roar, criada por Liz Flahive e Carly Mensch (a dupla por trás de Glow) e baseada no livro de Cecelia Ahern, é uma antologia de oito histórias de meia hora cada uma, com elementos de realismo mágico que servem como metáforas da existência feminina hoje. “Cada um dos episódios cria uma manifestação física de conversas que tivemos, experiências que vivemos, que nem sempre dá para entender completamente”, disse em entrevista ao Estadão Cynthia Erivo, uma das atrizes da série que estreia seus oito episódios de uma só vez no Apple TV+.  Erivo interpreta uma executiva bem-sucedida pressionada a voltar ao trabalho logo após o nascimento do segundo filho. Aos poucos, marcas de mordidas aparecem em seu corpo, e elas vão piorando conforme Ambia vai tentando dar conta de tudo. “Eu não sou mãe, mas eu entendo como é ter de equilibrar trabalho, vida doméstica e família”, afirmou a atriz. “Nem sempre é possível dar conta de tudo, e você se sente culpada de não poder estar lá para todo mundo. Porque existe essa expectativa de que deveríamos ser capazes de cuidar de tudo. Só que ninguém consegue se dividir em três. Todas precisamos de ajuda.”

'Roar', série que mostra as alegrias e as desilusões de mulheres é protagonizada porAlison Brie Foto: Apple Tv +

Os outros episódios também usam o fantástico para discutir o real. Em The Woman Who Solved Her Own Murder, Alison Brie é Becky, vítima de assassinato que investiga o crime. “Eu amo séries sobre detetives e nunca imaginei uma em que o ponto de vista era da garota sendo autopsiada”, lembrou a atriz, em entrevista coletiva por videoconferência. “Foi divertido interpretar porque ela vai descobrindo quem era como pessoa. E o episódio brinca com o clichê da vítima que só pode ser ou a Virgem Maria ou a prostituta. Mas e se ela for básica, gostar de maquiagem, de olhar o Instagram, isso significa que sua vida é menos valiosa?”  Em The Woman Who Disappeared, Issa Rae é Wanda, uma escritora disputada por Hollywood, que ainda assim não consegue enxergá-la. Em The Woman Who Ate Photographs, Nicole Kidman lida com a perda de memória da mãe comendo as fotos da família. Em The Woman Who Was Kept on the Shelf, Amelia (Betty Gilpin) um dia decide descer da prateleira onde é mantida por seu marido. Em The Woman Who Was Fed by a Duck, Elisa (Merritt Wever) é uma mulher em um relacionamento com um pato abusivo. 

Para Brie, personagens analisam, além da forma como são tratadas, seus medos, falhas e ansiedades Foto: Apple Tv +

Em The Woman Who Returned Her Husband, a imigrante indiana Anu (Meera Syal) devolve seu marido à loja quando não está mais satisfeita com ele. Em The Girl Who Loved Horses, as amigas Jane (Fivel Stewart) e Millie (Kara Hayward) debatem sobre uma vingança no velho oeste. “Foi um sonho porque eu cavalgo desde criança, mas, sendo americana de origem asiática, nunca achei que ia poder fazer isso em um filme”, contou Stewart na coletiva. “Também jamais pensei que faria nada de época, pelo mesmo motivo.” A equipe atrás das câmeras também é majoritariamente feminina, incluindo todas as diretoras, algo que está se tornando cada vez mais comum. Kidman, que está entre as produtoras, prometeu alguns anos atrás trabalhar mais com mulheres. E está cumprindo. É a mesma meta das criadoras de Roar. “Queremos cada vez mais ampliar o espaço para as mulheres. A feminilidade é caleidoscópica e precisamos mostrar isso”, concluiu Liz Flahive.  Alison Brie deseja que Roar – que se traduz como “rugido” – chame a atenção para a experiência feminina no mundo. “Mas a série também é muito otimista, há muita autodescoberta e empoderamento em cada história”, explicou. “As personagens não estão analisando apenas a forma como são tratadas pela sociedade, mas também seus próprios comportamentos, falhas, medos e ansiedades, superando-os.” Colocar isso tudo na tela é uma forma de dizer que elas não estão sozinhas. 

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