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‘Ataque dos Cães’ expõe conflito de temperamentos

A diretora neozelandesa Jane Campion foge dos clichês relacionados a filmes do Velho Oeste e explora personalidades totalmente opostas

Foto do author Luiz Zanin Oricchio
Por Luiz Zanin Oricchio
Atualização:

A silhueta de uma montanha no formato de um perfil de cachorro explica o título Ataque dos Cães, ou, no original, The Power of the Dog. Mas é também um versículo da Bíblia. O novo filme da neozelandesa Jane Campion, disponível na Netflix, coloca o espectador no centro de um aparente embate civilizatório, como os clássicos do gênero, mas que logo tomará outro rumo.

Cena de 'Ataque de Cães' Foto: Netflix

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Dois irmãos de temperamentos opostos, George (Jesse Plemons) e Phil (Benedict Cumberbatch), administram sua fazenda em Montana. Phil é o protótipo do caubói brutal, agressivo e com testosterona à flor da pele. George é calmo, compreensivo e gentil.  Entre os dois, há um equilíbrio instável, quebrado quando George se casa com Rose (Kirsten Dunst), viúva e com um filho adolescente, Peter (Kodi Smit-McPhee). Phil fará o possível para boicotar o casamento e para tornar impossível a vida de Peter. 

Essa sinopse nem de longe pretende dar conta das sutilezas empregadas por Campion. O alvo maior, claro, será a masculinidade tóxica de Phil. A exibição de força é vista como fraqueza, e a tentativa de afirmação, apenas como disfarce para o que se tem dentro de si, reprimido e bem escondido.

Jane Campion subverte o clichê da masculinidade tóxica, mas o faz com tintas, digamos, góticas. Não propõe uma lição edificante, nem a obra se traduz como ode à tolerância.

O suspense é contínuo e nunca sabemos direito para onde a história caminha. Mas a parte final, além de surpreendente, tem esse matiz sinistro e uma pergunta embutida – o mal se combate com o mal? Desfecho em aberto, enigmático até certo ponto? Sim. Espectadores inteligentes sabem que uma obra se mede nem tanto pelas respostas que dá, mas pelas dúvidas que desperta. 

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