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Por que ‘Senhora do Destino’, que será reprisada em 2023, continua tão popular?

Substituta de ‘Caminho das índias’ na grade do Viva, canal também escala ‘Corpo Dourado’, de Antonio Calmon, para o lugar de ‘Coração de Estudante’

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Por Redação

“Mande notícias do mundo de lá/Diz quem fica/Me dê um abraço, venha me apertar/Tô chegando”. Assim começa uma das aberturas mais nostálgicas da televisão brasileira. A letra de Encontros e Despedidas, interpretada por Marisa Monte, abriu todos os dias Senhora do Destino, maior sucesso de Aguinaldo Silva no começo dos anos 2000. A trama, protagonizada por Maria do Carmo (Suzana Vieira) e Nazaré Tedesco (Renata Sorrah) foi um novelão de respeito e fez jus à canção: com chegadas, partidas, choro, azaração, luta, sangue, suor e ódio.

Tudo começa com Maria do Carmo, jovenzinha, interpretada por Carolina Dieckmann, que parte para o Rio de Janeiro em busca de melhores condições de vida, como tantos nordestinos em meados do século passado. Na viagem, que provou a mulher com reveses absurdos (ela se perde no meio do Sertão, corre atrás de caminhão, empurra um ônibus numa tempestade, só para aquecer), mas o pior acontece já nos primeiros capítulos: ela tem sua primogênita Lindalva roubada assim que chega ao Rio.

Dirceu (José Mayer) descobre foto de Nazaré  Foto: João Miguel Júnior/Globo

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Não bastasse a desgraceira de Maria do Carmo, o centro da então capital federal está em convulsão por causa dos protestos contra a Ditadura Militar. Nesse entrevero, ela perde seus outros quatro filhos e acaba sendo enviada para a Ilha das Pedras Brancas, que serviu de presídio durante o período, e lá conhece o jornalista Dirceu (Gabriel Braga Nunes), com quem se reencontra anos depois.

Maria do Carmo, assim que é solta, reencontra os filhos, mas recai sobre ela a sina de achar a menina roubada por quem... Nazaré (que rapta a criança para segurar um homem casado e sair do cabaret em que trabalha. Aí está o arco narrativo da novela, em que a vida das três mulheres se emaranha tão bem que é difícil desgrudar da televisão. Com o passar dos capítulos, a vilã vivida por Sorrah fica cada vez mais maluca e seu papel se expande, até ela virar a estrela da trama. Desbocada, politicamente incorreta e debochada, Nazaré cai nas graças da população brasileira, que fica acordada até mais tarde para assistir as esquetes rocambolescas da mulher.

Memes

A personagem vivida pela atriz Renata Sorrah em 'Senhora do Destino' (2004) acabou rendendo o meme da 'Nazaré confusa', utilizado em diversas situações em que a pessoa fica sem entender algo Foto: Reprodução/Twitter

Há tempos o público pede, nas redes sociais, uma reprise de Senhora do Destino. Evidentemente, o elenco é primoroso: Suzana Vieira, José Mayer, Adriana Lessa, Eduardo Moscovis, Tônia Carrero, Tania Khalil, Marcelo Anthony, Paulo Autran, Elisângela, José Wilker, Marília Gabriela, entre outros medalhões da Globo.

Mas acontece que o núcleo de teledramaturgia da emissora criou a tradição das vilãs icônicas. De Odete Roitman (Beatriz Segall) a Carminha (Adriana Esteves), Nazaré entrou para a memória audiovisual da televisão como a personagem que carrega certos pecados da própria sociedade, como preconceitos, mesquinharias e, por que não, uma loucura destrambelhada (como escreveu Paulo Francis - homenageado em Senhora do Destino, inclusive -, ‘O Brasil é o país do absurdo).

Exibida em 2005, Senhora do Destino rendeu um acervo de memes atemporal. São esquetes de Nazaré interagindo com diversos personagens. Só no Instagram, por exemplo, a página Nazaré Amarga é uma das tantas que coleciona cenas da vilã de Aguinaldo Silva. “Eu quero sair, eu quero ver gente, eu quero bater perna”, são frases que se encaixam em todos os contextos. A cena foi resgatada no auge da Pandemia de covid-19 e viralizou.

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De fato, Nazaré fez de tudo um pouco na novela. Além de raptar criança, ela foi do vestibular à prostituição, e essas cenas que esgarçam a indignação da personagem são, sobretudo, a essência do ser humano, afinal, tem dias que, como ela fez, a única solução do brasileiro é dormir.

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