Psicologia e crimes se misturam na segunda temporada de 'Mindhunter'

Produção de David Fincher para a Netflix mostra, nesta segunda temporada, os agentes do FBI tentando antecipar crimes em Atlanta

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Por Guilherme Sobota
Atualização:

Poucas séries de ficção alcançam um nível preciso de detalhamento de eventos históricos como Mindhunter (uma exceção honrosa deste ano foi Chernobyl, da HBO). Mas a segunda temporada da atração original da Netflix, com produção executiva e direção de David Fincher (A Rede Social, Clube da Luta) já está disponível no streaming e traz de volta o cuidado com a reconstituição que fez a série ter grande acolhida crítica em 2017 e uma indicação para o Emmy (Cameron Britton, na aterrorizante interpretação do serial killer Ed Kemper).

Kemper é também personagem na segunda temporada, mas por um curto período. Na nova empreitada, os agentes do FBI Bill Tench (Holt McCallany) e Holden Ford (Jonathan Groff) agora contam com o apoio da instituição para sua Unidade de Ciência Comportamental. Se na primeira temporada o assunto era formar uma base de dados para deduzir o comportamento de assassinos em série, agora a missão é aplicar os aprendizados e tentar antecipar ações de um deles, desconhecido e à solta na cidade de Atlanta.

Damon Herriman como Charles Manson na segunda temporada de Mindhunter Foto: Netflix

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Se os agentes são fictícios, inspirados em pessoas reais, os serial killers são representações fiéis: muitos dos depoimentos na série incluem palavras que eles usaram em entrevistas verdadeiras – sem contar a maquiagem do artista Kazu Hiro (o mesmo que transformou Gary Oldman em A Hora Mais Escura). É nessa pegada que a segunda temporada apresenta, entre outros, Charles Manson – interpretado aqui pelo ator australiano Damon Herriman (que, por coincidência, também vive Manson em Era Uma Vez Em... Hollywood, de Quentin Tarantino).

Embora o personagem seja uma presença eletrizante nessa temporada, são outros fios narrativos que conduzem os nove novos episódios.

Um deles é a história real dos “Atlanta Child Murders”, ocorridos entre 1979-1981 (a investigação de fato foi reaberta em 2019, mas falar mais do que isso é dar um spoiler desnecessário, mesmo que a história seja real). Naqueles anos, 24 crianças foram mortas (além de 4 adultos) e seus corpos encontrados em diversas partes da cidade, ao que tudo indica, por ação de apenas um assassino. Em Mindhunter, Ford e Tench são enviados para compor a força-tarefa da investigação – utilizando seus conhecimentos de ciência comportamental para tentar antecipar as ações do criminoso.

Mas o personagem de Holt McCallany ganha o protagonismo que na primeira temporada foi do frágil Ford, agora para lidar com um assunto familiar: sua vida vira de cabeça para baixo quando o filho, Brian (Zachary Scott Ross), uma criança, se vê inserido em um crime na vizinhança onde moram.

McCallany conta que ele mesmo tentou se encontrar com alguns dos assassinos reais retratados na série, como parte de sua pesquisa, mas só conseguiu contato com Bobby Beausoleil, membro da “família” Manson. “Tenho que dizer, nós tivemos uma conversa muito interessante”, disse o ator à revista Vanity Fair. “Ele mostra remorso. Aposto que nunca mais cometeria outro crime.”

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Wendy Carr (Anna Torv), a psicóloga que completa o tripé principal da série (e da Unidade de Ciência Comportamental) também está de volta, e este ano ela parte para as entrevistas com alguns assassinos presos – bem como desenvolve um relacionamento amoroso com uma bartender de Quantico, Virginia, onde a história é baseada, e onde fica a Academia do FBI.

E enquanto a Netflix lida com críticas por supostamente ter dado palco para Ted Bundy com duas produções originais (um documentário e um filme com Zac Effron), Jonathan Groff (que faz Holden Ford em Mindhunter) garante que esse não é o caso com a série.

“Desde a primeira reunião sobre a série, a missão de David Fincher foi sempre de que ele não queria transformar serial killers em vilões de histórias em quadrinhos. Ele queria mostrá-los como os seres humanos tristes e deploráveis que são, e explorar sua psicologia”, afirma, também à Vanity Fair.

Vale lembrar que a série é baseada no livro Mindhunter... O Primeiro Caçador de Serial Killers Americano, de John Douglas, lançado no Brasil pela Intrínseca.

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