‘The Snoopy Show’ chega à Apple TV+ em série de seis episódios

Charles M. Schulz, junto com o diretor Bill Melendez e o produtor Lee Mendelson, produziu mais de 50 outros especiais de Peanuts, estrelando Charlie Brown e o resto da turma; relembre alguns deles

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Por Saul Austerlitz
Atualização:

Hoje somos todos Snoopy, deitados em cima de nossas casinhas solitárias, sonhando com aventuras que não podemos viver.

Com a chegada de 'The Snoopy Show' na Apple TV+, o público está sendo conduzido de volta ao mundo interior do Snoopy num momento em que a maioria de nós anseia por escapar do eterno presente da covid-19. Foto: Apple TV

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Com a chegada de The Snoopy Show, que estreou na sexta-feira na Apple TV+, o público está sendo conduzido de volta ao mundo interior do Snoopy num momento em que a maioria de nós anseia por escapar do eterno presente da covid-19. Todos os rostos familiares de Peanuts - Charlie Brown, Linus, Patty Pimentinha, Marcy - estão de volta, mas o programa gira principalmente em torno da pródiga vida fantasiosa de Snoopy, que o leva ao fundo do oceano, ao Velho Oeste e aos céus, onde ele duela mais uma vez com o Barão Vermelho.

“Ele não está interessado em ser o que você acha que um cachorro deveria ser”, disse Rob Boutilier, diretor de The Snoopy Show. “Você pode correr para pegar a bolinha; você pode rolar no chão. Nada disso. Vou voar nos céus num avião Sopwith Camel”.

A série de seis episódios é uma atualização rápida e colorida dos especiais de Peanuts que por décadas foram presenças anuais nas programações da TV (primeiro na CBS, depois na ABC). Para muitos de nós, esses especiais foram a base das nossas festas de fim de ano, tanto que surgiram protestos quando a Apple anunciou que os especiais seriam transmitidos exclusivamente em sua plataforma. Mais de 260 mil pessoas assinaram uma petição para devolvê-los à transmissão da TV, e a Apple respondeu com um acordo que também permitia à PBS transmitir Ação de Graças do Charlie Brown e Natal do Charlie Brown.

Esses programas, junto com É a Grande Abóbora, Charlie Brown, são os especiais por excelência de Peanuts. Mas Charles M. Schulz, junto com o diretor Bill Melendez e o produtor Lee Mendelson, produziu mais de 50 outros, estrelando Charlie Brown e o resto da turma.

Tomados como um todo, os especiais de Peanuts fornecem um tour extenso pela religião cívica da vida pós-guerra. Programas quase esquecidos como É dia da árvore, Charlie Brown, de 1976 (Lucy planta uma árvore no amado campo de beisebol de Charlie Brown) e Você está no Super Bowl, Charlie Brown, de 1994 (Snoopy treina um time de passarinhos no campeonato), fazem parte de uma tapeçaria maior em que Peanuts buscava explicar e refletir suavemente sobre as tradições americanas.

Antes da estreia de The Snoopy Show, Boutilier, o editor-executivo Alex Galatis e o showrunner Mark Evestaff refletiram sobre alguns de seus especiais favoritos e menos conhecidos de Peanuts. (Eles não estão no streaming da Apple TV +, pelo menos não por enquanto, mas estão disponíveis em vários formatos em outros lugares). 

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‘Todas as Estrelas de Charlie Brown’ (1966)

Surgido um ano depois de Natal do Charlie Brown, este especial era um contraste excêntrico com seu antecessor mais atencioso. “Com o especial de Natal, havia uma preocupação, principalmente das emissoras, com a lentidão do ritmo”, disse Boutilier.

Depois de inúmeras derrotas no campo de beisebol (seu time marcou seis pontos contra 3 mil de seus adversários), Charlie Brown quer finalmente ganhar um jogo e garantir o patrocínio de uma empresa local que prometeu dar uniformes elegantes para o time. No ponto alto da história, Charlie Brown faz um monólogo interior incansável enquanto tenta avançar uma base no jogo, mas é ignominiosamente eliminado, vítima de sua própria autoconsciência paralisante. Enquanto ele está deitado no chão, seus companheiros se juntam em volta dele, primeiro para gritar com ele e, depois, para animá-lo.

“As pessoas pensam em Charlie Brown como um adorável perdedor”, disse Boutilier, “mas, até ver algo como esse especial, você se esquece de que a razão pela qual ele é adorável não é por ele ser perdedor. A razão pela qual ele é adorável é que ele não desiste”.

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Galatis acrescentou: “Ele continua jogando futebol. Continua achando que vai ganhar o jogo de beisebol. Com ele, sempre há esperança”. 

‘O cachorro é seu, Charlie Brown’

Ao desenvolver The Snoopy Show, Evestaff olhou para O cachorro é seu, Charlie Brown como inspiração para a fantasiosa vida interior do beagle. Snoopy é mandado para o adestramento, mas acaba abandonado na casa de Patty Pimentinha, onde é convencido a passar por uma interminável rodada de faxina e lavação de louça para pagar sua estadia. Ele passa suas horas de folga no quintal de Patty, estalando os dedos para pedir drinks, imaginando que está num café de Paris.

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“Nós sempre brincamos que Snoopy é quem nós queremos ser, e Charlie Brown é quem nós somos”, disse Galatis. “Todos nós queremos ter esse senso de bravata e confiança”.

Charlie Brown chega para levar seu cachorro para casa, e Snoopy se recusa a ir embora se precisar pegar a coleira. Em vez disso, ele foge naquela noite e depois volta para casa com um bigode disparatado que, por um tempo, engana até mesmo seu dono. “Aquele momento em que eles se abraçaram”, disse Boutilier. “Eu adoro a cena porque eles simplesmente deixam tudo em segundo plano”, mostrando Snoopy e Charlie Brown abraçados, dançando sua dança feliz contra um pano de fundo de nuvens.

‘É um mistério, Charlie Brown’

O ninho de Woodstock é roubado e Snoopy se transforma em Sherlock Holmes, vestindo chapéu de caçador, soprando bolhas de seu cachimbo e procurando impressões digitais no esforço para identificar o culpado.

Assim como The Snoopy Show, É um mistério, Charlie Brown é baseado na amizade entre cachorro e pássaro. “Snoopy defende e protege Woodstock”, disse Galatis, “mas, ao mesmo tempo, Snoopy se envolve em suas próprias fantasias e às vezes atropela Woodstock”. As bolhas do cachimbo, a gente vê, sempre estouram na cabeça de Woodstock.

‘O Snoopy é um sucesso, Charlie Brown’ (1984)

É fácil pensar em Peanuts como algo atemporal, o que deixa os marcadores da década de 1980 deste especial (roupa de ginástica combinando! Sintetizadores!) ainda mais notáveis. O Snoopy é um Sucesso, Charlie Brown é uma homenagem ao filme de dança Flashdance, de 1983, e aos filmes de dança em geral, com Snoopy desfilando pela rua com uma bandana laranja brilhante e polainas na mesma cor, arrasando nos passinhos numa pista de dança iluminada.

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A dançarina Marine Jahan, que atuou como dublê de Jennifer Beals em Flashdance, forneceu a inspiração para os passos de dança de Snoopy. O Snoopy é um Sucesso, Charlie Brown se valeu do processo de rotoscopia, no qual a filmagem da dança de Jahan foi cuidadosamente desenhada, quadro a quadro, disse Evestaff.

O Snoopy é um Sucesso, Charlie Brown é uma homenagem acidental à moda espalhafatosa dos anos 80, mas, assim como tantos especiais de ‘Peanuts’, também revela um veio da história dos quadrinhos - aqui, a tendência de Snoopy de expressar emoção através da dança. “A dança feliz de Snoopy é muito icônica agora”, disse Evestaff. “Para evocar tanta emoção com uns poucos traços da caneta - mais uma vez, é um grande feito do artista”.

‘This Is America, Charlie Brown’ (1988-89)

Não se trata de um especial, mas de uma série em oito capítulos da CBS sobre a história americana, com Charlie Brown e seus amigos visitando os irmãos Wright na Carolina do Norte, contando a história dos peregrinos e documentando a história da música americana.

É impressionante que Charlie Brown e Linus possam ser transplantados para a Carolina do Norte em 1903 para conhecer Orville e Wilbur Wright (e que os irmãos consertem a bicicleta de Charlie) sem esticar os limites da credulidade. Evestaff se maravilha com a capacidade de Schulz de “pegar seus personagens e colocá-los em diferentes situações e ainda assim fazer com que pareçam autênticos”.

O episódio A música e os heróis da América é especialmente completo e honesto, educando o público infantil sobre o impacto dos cantos dos escravizados no blues e no ragtime e sobre como a Guerra do Vietnã e o assassinato de Kennedy geraram o rock e o soul politicamente engajados dos anos 1960.

Schulz “certamente não se esquivou dos temas atuais da época”, disse Evestaff, exaltando o compromisso de Schulz com a justiça social. “Ele tinha uma ótima forma e tinha esses personagens ótimos, e esses personagens sabiam contar essas histórias”.

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Tradução de Renato Prelorentzou 

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