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Entrevista com Michelle Rodriguez

Conhecida pelos papéis de mocinhas duronas, a atriz de 33 anos fala da carreira, da má fama em Hollywood, da família religiosa e do desejo de encarar sua feminilidade

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Por jefersonsantos
Atualização:

FERNANDA BRAMBILLA Cancún (México) * Não é à toa que o filme que abriu as portas de Hollywood para Michelle Rodriguez se chama Boa de Briga, de 2000. Hoje, a atriz americana de 33 anos, de família porto-riquenha, consolidou sua imagem de bad boy, digo, bad girl. Michelle gesticula como um garoto, se move com ginga, solta um 'shit', outro 'fuck', e muitos 'man' enquanto se esforça para engrossar a voz fininha na conversa. Em uma tarde chuvosa em Cancún, ela aparece elegante, e imediatamente desconstrói a pose ao pular na poltrona e abraçar os joelhos, com os pés no assento. Michelle está de volta à saga Resident Evil, no 5.º filme da franquia, em cartaz nos cinemas brasileiros, no qual interpreta duas personagens espelhadas, uma militar e uma civil. Em cena rara, recebe uma arma de Alice (Milla Jovovich) e se desespera. Uma piada do diretor Paul H. S. Anderson. Mas por trás da filmografia agressiva, da militância e das confusões com a polícia, a atriz tem um lado suave. Como foi reencontrar Milla Jovovich e Paul H.S. Anderson em Resident Evil 5? Foi diferente a situação no set agora que eles estão casados? No primeiro filme, eles já estavam meio apaixonadinhos, ficavam rindo um para o outro. Eu falava: 'Ei, querem fazer isso em outro lugar?'. E agora estão casados. Ao longo de sua carreira, você coleciona moças nada indefesas. São escolhas conscientes? Senti que havia uma lacuna gigante. O único lugar onde uma mulher podia parecer forte era na ficção científica. Isso me deixava p. da vida. Só tivemos Linda Hamilton e filmes de alien. Eu quis trazer isso para a realidade. Passei 13 anos me preocupando em ter papéis femininos fortes e em não tirar a roupa. Mas hoje posso seguir em frente. Estou pronta para tirar a roupa (risos). Não preciso mais usar roupas de macho. Posso ser feminina. Outras mulheres estão assumindo esses papéis. Mas você gostaria de fazer algo totalmente diferente? Eu adoraria, mas gosto de filmes comerciais. Não me leve a mal, eu gosto de coisas artísticas, de chorar às vezes. Mas adoro fazer coisas que me causariam encrenca com a polícia se fosse na vida real. Eu tenho a chance de ser superlativa, bater, atirar, e não ser presa. Mas você pensa em fazer uma comédia romântica ou um drama? Não vou fazer a mocinha indefesa que se apaixona perdidamente e desperdiça a vida inteira por um cara! Seria legal fazer uma comédia romântica, mas não pode ser exagerada, ou as pessoas não vão me levar a sério. A vida toda eu pareço um Tom Boy. Quando começar a aparecer como mulher, vai ser um baque. Eu até poderia fingir um cabelão, decotão, mas ia parecer uma drag queen. Você já sacrificou tudo por amor alguma vez na vida? Claro, uma tonelada de vezes. Mas aprendi a parar com isso. O amor não é sacrifício. E esse é um erro que cometi por ter sido criada como cristã. Tenho enraizado em mim isso, esse moralismo. Levei um bom tempo - 33 anos pra ser exata - para entender que não tenho nada a oferecer até aprender a ser alguém melhor. Até conhecer alguém compatível. Talvez seja idealismo, mas acho que não se deve julgar o amor pelos sacrifícios que você faria. Ser do jeito que você é, falar coisas abertamente, já trouxe problemas para você... Ah vá! Quer repetir a pergunta? Calma. Já chegou a um ponto em que você pensou em mudar? A verdade é que ganhei uma fama ruim em Hollywood. Falam que sou temperamental, difícil de trabalhar, intransigente, só porque eu sei o que quero. Sou uma atriz política, com princípios. Se puser isso de lado, é para evoluir. Essa busca vem da sua criação? Você tem figuras femininas fortes na sua vida? Sim, minha mãe e minha avó. São mulheres muito fortes. Do tipo de força que sacrifica tudo. Minha avó abdicou da vida dela pelo homem que ela amava, pela família. Teve força de seguir um ideal e pensar: 'Vou trabalhar e trazer dinheiro para casa'. Vou ralar, vou deixar a minha família orgulhosa. E como a sua família reagiu quando você se tornou atriz? Eles são testemunhas de Jeová, então, me olham como se eu fosse uma ferramenta do diabo (risos). Para eles, estou no fundo do poço. Seus pais não veem seus filmes? Claro que não! Mas meus irmãos, sim. Eles têm orgulho de mim, então, fico feliz - sabe, ao menos alguém na família. Não é fácil, cara. Do lado da minha mãe, são religiosos. E do lado do meu pai, eu quase não tenho nenhum contato. Você fez Avatar, o filme mais rentável da história. Como foi trabalhar com James Cameron? Jim me enxergou. Há quatro anos, eu estava indo à corte por causa da carta (Michelle foi presa por dirigir alcoolizada, sem habilitação e ofender um policial). Falei para ele: 'Olha, tenho audiências, serei julgada no Ano Novo, posso ir para a cadeia. Você não vai querer manchar a reputação do seu grande filme'. Ele me olhou e disse: 'Olha, todo mundo acha que você é louca. Eu sei que você não é. Então, cale a boca e venha trabalhar comigo'. Naquele fim de ano, eu fui presa. Quando saí, fui direto para Nova Zelândia filmar. Foi como se nada tivesse acontecido. Você ficou com medo? Claro que não! Eu cresci em Nova Jérsei (subúrbio de Nova York). Todos os meus melhores amigos foram para a cadeia. Não é nada demais. Não sei o que as pessoas querem tanto saber disso. Ninguém fala com Jay-Z sobre quando ele vendia crack na infância. Alguém questiona um bilionário sobre isso? Eu nunca fiz esse tipo de coisa, então, me deixe em paz. E como foi essa experiência? Hoje já passou, não ligo para isso. Ainda bem que há quem me veja por trás de toda essa merda. Eu gosto de gente assim, que vê além das aparências. Paul é assim, Neal Moritz (de Velozes e Furiosos) é assim. Quem me contrata é quem já trabalhou comigo antes. Não consigo emprego por agente há anos. E sou péssima em testes. O que você faz cai na mídia pelos paparazzi. Você se policia? Ah, eles não me chateiam. Eu nem ligo, não sou celebridade. E o máximo que vão conseguir de mim hoje é me ver na praia, tirando areia do biquíni, dando pirueta. Se o top do biquíni cair, grande coisa. E não entro em encrenca há cinco anos! Acho que deixei de ser interessante. Como você se sente tendo de ir a eventos de gala? Estou começando a gostar dessas coisas agora. Antes eu odiava e falava: 'Me deixem em paz, eu não sei ser sexy'. Aí via uma foto minha e pensava: 'Meu Deus, estou um lixo!'. Então, comecei a pensar que, quer saber, posso ser sexy, sim. Você está sempre em boa forma. Isso é vaidade ou saúde? Acredito que, se você cuida da saúde, sempre estará bem. Tenho um médico alternativo que vê minhas células cerebrais, minha vitamina B. Ele me dá vitaminas. E se fico em casa à toa, sem me exercitar, faço só uma refeição por dia. Você veio ao Rio discotecar no ano passado, e eu soube que não foi uma experiência muito boa... Vomitei o tempo todo. O que eu lembro do Brasil é o que pude ver da janela do hotel enquanto vomitava (risos). Mas vi a praia e estava lotada. Eu fui para a festa discotecar, e continuei vomitando lá. Foi uma pena, espero voltar. :: * A repórter viajou a convite da Sony

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